bonde gleba do pêssego
Raí, um dos personagens de 'Bonde'. Foto: Divulgação.
Identidade

Curta-metragem conta a história de jovens LGBTQI que buscam refúgio na noite

Realizado pelo coletivo Gleba do Pêssego, "Bonde" é curtinho e deixa o espectador querendo mais.

Com um pouco menos de 20 minutos, o curta Bonde apresenta a história de três moradores de Heliópolis, zona sul de São Paulo, que buscam refúgio da discriminação social na noite da cidade. Produzido pela coletivo Gleba de Pêssego através do VAI II, edital de valorização de iniciativas culturais periféricas, Bonde conta com diálogos divertidíssimos e visual impactante, deixando o espectador morrendo de vontade de ver mais.

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Os personagens de Bonde são jovens negros que passam por diferentes problemas que envolvem racismo e LGBTQIfobia. A história é centrada em Raí (Eric Oliveira), um jovem gay e gordo constantemente rejeitado em aplicativos gays por ser quem é; Lua (Alice Marcone), uma mulher trans que só é vista pelos colegas de faculdade como um objeto a ser estudado e a Camis (Joyce Brito), uma mulher lésbica que sofre preconceito da mãe por ter um relacionamento com Thauany (Fabi Pimenta). Os três personagens são amigos e buscam na noite LGBTQI de São Paulo um refúgio dos problemas do mundo externo, mesmo correndo risco de serem hostilizados na rua por moradores do seu bairro ou da própria polícia.

Esse é o terceiro curta do coletivo Gleba de Pêssego, formado por oito jovens da Grande São Paulo que formaram o grupo cinco anos atrás. Grande parte do curta foi feito em Heliópolis e contou, inclusive, com o apoio dos moradores. “Sem a comunidade de Heliópolis esse filme não seria possível, nenhuma locação do nosso filme é de estúdio, as casas das personagens são casas de moradores de Heliópolis, as ruas e estabelecimentos também, a faculdade que usamos no filme foi a ETEC da região,” conta Leonardo Domingos, montador e diretor de produção do coletivo.

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Da esquerda para direita: as personagens Thauany, Camis, Raí e Lua em uma cena do curta. Foto: Divulgação.

Segundo Asaph Luccas, ilustrador, pesquisador criativo, designer e diretor de arte, a ideia do filme é discutir espaços onde personagens como Lua, Raí e Camis encontram segurança para serem quem são ao lado de seus iguais. “Acho que vale refletirmos que enquanto muitos buscam o rolê para fugir um pouco dos problemas, para muitos de nós membros da sigla LGBTI+ não chega sequer a ser uma escolha pois somos expulsos de nossas famílias, de nossas quebradas. (…) Acho que o filme tenta trazer um pouco disso e de como as famílias mais bonitas são formadas por manas que não tem nenhuma relação sanguínea,” diz.

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Foto: Divulgação.

Após o governo Bolsonaro censurar a produção de séries de temática LGBTQI pré-selecionadas para um edital para TVs públicas, o trabalho do coletivo Gleba de Pêssego deu um raiozinho de esperança para o audiovisual independente. “Temos amigos com histórias muito próximas das nossas que tiveram projeto vetado pelo presidente por ser uma obra sobre negros gays. É extremamente assustador, mas ao mesmo tempo, nosso cinema é uma forma de resistência e estamos acostumados a ter que lutar por ele. Agora não vai ser diferente,” diz Asaph.

Os membros do coletivo também querem que seus trabalhos sejam uma porta de entrada para outros realizadores negros, LGBTQI e de periferia que ralam para produzir conteúdos fora do circuito de editais e do audiovisual mainstream. “O audiovisual é um mercado muito exclusor, os editais sempre são ganhos pelas mesmas pessoas que basicamente vieram das mesmas universidades, compartilham os mesmos ciclos sociais e contam histórias à partir das mesmas vivências. A coisa do curta metragem é que apesar de tudo isso, ele se torna uma solução mais acessível para realizadores que saem dessa curva. Tem uma cena muito incrível de outros realizadores negros, LGBTI+s e vindos das periferias que só existe no circuito de curta metragens”, explica Asaph.

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Membros do coletivo Gleba do Pêssego. Foto: Divulgação.

A pré-estreia de Bonde rolou no dia 22 de agosto no 30° Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo e contará com mais duas exibições: dia 27 de agosto, terça-feira, às 19h na Cinemateca Brasileira e no dia 28 de agosto, quarta-feira, às 19h no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

O coletivo Gleba do Pêssego é formado por Asaph Luccas, Carol Santos, Gabriel Soares, Guilherme Candido, Joyce Santos, Leonardo Domingos, Tatiane Ursulino e Oliv Barros. Veja o trailer do curta aqui e dá pra seguir o coletivo no Facebook aqui.

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