Chorão
Foto: Jerri Rossato Lima

FYI.

This story is over 5 years old.

Noisey

Rappers celebram o legado do Chorão

Na data da morte do cantor, ele é lembrado por fãs e artistas como um grande ícone da cultura de rua do Brasil.

Há exatos cinco anos, Alexandre Magno Abrão, o "marginal alado", deixava incontáveis fãs pelo Brasil órfãos ao ser encontrado morto em seu apartamento em São Paulo após uma overdose. Chorão, como ficou inesquecivelmente conhecido, foi a voz de muitos adolescentes de sua geração e das posteriores, desde 1992, ano de formação do Charlie Brown Jr., até sua morte em 2013.

Pros fãs, porém, Chorão e o Charlie Brown representavam mais do que apenas um punhado de letras com as quais se identificar: unindo o rock ao hip hop, ao skate e à praia, o grupo e seu líder se tornaram um grande símbolo da cultura de rua do jovem brasileiro durante as décadas em que estiveram na ativa. Com essa diversidade, seu legado ficou pras mais variadas tribos possíveis, em diversos centros urbanos do país.

Publicidade

Nesse aniversário de morte, o Noisey perguntou pra um punhado de rappers qual foi a importância e influência do Choris na vida e arte de cada um. Recomendo respirar fundo e aguentar o coração para ler os relatos abaixo. Descanse em paz, Chorão eterno.

Joe Sujera

Sou de 1992. O Chorão foi o primeiro artista da minha geração que eu vi, musicalmente, nascer, crescer e morrer. Pra quem gostava de música e/ou andava de skate, ele era como um irmão mais velho: influência, mas não exemplo. A mistura perfeita pra um ídolo adolescente.

Resumindo, o Chorão era o cara que fazia Rock com Rap, andava de skate e tinha músicas com Sabotage e MV Bill. Simples assim.

Denov

O Chorão teve muita influência em pessoas da minha idade, até na galera mais velha ou um pouco mais nova. Uns quatro, cinco anos atrás eu ainda tava ouvindo sem parar, andando de skate e colocando um Charlie Brown pra dar aquela inspiração. Quantos e quantos vídeos de skate também não tem som deles de fundo? É muita lição de vida, muita visão de vivência passada pro pessoal. [As letras] serviam de ajuda, como se fosse um conselho, pra você ouvir e parar pra refletir sobre o que ele disse ou usar uma frase da música de maneira prática na vida. Acho que tem influência na vida de muitos jovens que estão passando pra fase adulta agora, ouviram muito Charlie Brown e ouvem até hoje. Tem uma importância enorme. Um dos artistas que eu mais admiro, Chorão, e uma das bandas que eu mais curto, Charlie Brown. Acho foda de verdade.

Nill

Um bagulho que eu gostava dele era o jeito que ele falava sobre a vida, o jeito que ele abordava as coisas. Achava louco. Era o que me prendia no Charlie Brown. Acho que ele faz falta pelo fato de que ele influenciou uma geração, na atitude. Ele influenciou a correr atrás dos seus bagulho, mas sendo você mesmo. Agora, as próximas gerações, eu acho que não vão ter isso. Não tem tantos caras igual ao Chorão assim, pra incentivar você a meter suas caras mesmo e pensar por si próprio. Pra mim, ele tinha muito a cara da juventude. Ele também significava pra mim a ponte do rap e do rock. A malandragem e o skate. Foi o único cara que conseguiu mesclar dois universos que conversam bem, mas que não é todo mundo que consegue fazer os dois conversarem. E ele conseguia fazer isso naturalmente. Isso era muito louco também.

Publicidade

Raffa Moreira

Gostava. Pra caralho. Charlie Brown era meio tirado, mesmo todo mundo gostando. Mas eu sempre gostei de verdade da banda. Eu achava ele um mano de atitude. É foda exaltar alguém que morreu, porque todo mundo que morre vira santo. Então, tipo…Tem uns clichês que eu acharia ridículo falar sobre. Mas eu curti o disco "Nadando Com Os Tubarões". Escuto sempre esse. Ele é meio hardcore melódico. Meio rap. Na verdade, esse disco é maluco, parece a história da minha vida em muitos momentos. Inclusive na faixa “Fichado” rs, porque é uma música sobre ser preso por causa de maconha e pá, e eu já fui… A polícia ja prendeu dois carros meus, eu sou muito revoltado com a polícia. Eu realmente quero que todo policial SE FODA. E o som tem até um trecho que fala "maloqueiro em carro humilde, vão parar pra averiguar." E, no final do som, depois de várias fitas que quem fuma maconha já viveu (repressão), ele fala: "O filme da sua vida" kkkk. Muito impactante pra mim. Esse disco inteiro parece minha vida às vezes,mas eu sei que esse é um objetivo da música, entreter as pessoas, dividir histórias em comum, etc. Eu tenho lembrança de quando o NX Zero assinou com o Rick Bonadio, parou de dar atenção pro Charlie Brown… Aí, uma mão o Chorão colou armado e deu um apavoro no Rick Bonadio. Falando sério, eu amo o Chorão, (risos). Ele é gang. Apavorou o bonadio dentro do estúdio apontando uma peça pra ele, risos. GANG GANG. Também lembro dos Acústicos MTV, na praia. Sei lá porque eu gostava daquela porra. Acho que na época era legal. Hoje em dia, papo de acústico e praia, sei lá, eu odeio.

Marcão Baixada

O Chorão conseguia unir diferentes elementos da cultura de rua. O rock, o hip hop, e o skate sempre andaram lado a lado, mas se teve alguém que conseguiu incorporar tudo isso num só som e uma só voz, foi o Chorão. Para cada momento da minha vida sempre tinha uma música do CBJr. Essa influência marcou minha adolescência e contribuiu pra hoje em dia eu ser artista também.

Yung Buda

Na época que eu conheci o som, só os boy escutava Charlie Brown Jr, mas nada contra o Chorão. Ele em si deve ter sido um cara locão e daora de se dar um rolê e que, por causa da morte dele, acabou fazendo eu repensar o uso de drogas na minha vida.

Publicidade

Dfideliz

Quando eu comecei a curtir o Chorão, ele era uma das pessoas mais influentes pra rapazeada que andava de skate. A gente costumava chamar ele de "Um louco romântico", por conseguir falar de amor, autoestima, de uma forma só dele. Conseguia suprir a necessidade de muitos skatistas.

Nesse mundo do skate, da rua, existe muita gente carente de um papo, ele cativava as pessoas com facilidade, coisa que ele conseguia fazer de uma maneira foda e por isso eu me via e me espelhava muito nele. Tive a oportunidade de conhecê-lo num rolê no Parque da Juventude e em alguns shows. Música pra rua. Música pra louco.

Lucas Dcan

Pra mim, o Chorão foi um dos maiores letristas que existiram na música brasileira. Acredito que todo mundo da minha geração teve uma fase da vida que Charlie Brown Jr. marcou, aquele papo de identificar mesmo. Deve ter sido umas das primeiras paradas que eu ouvi e chapei, com os acústicos, nos meus rolês de skate… Eu comprava os CDs na feira, ia na galeria do Rock comprar as camisetas da banda. O Chorão e o CBJR são um marco.

Klyn

Conheci o Charlie Brown Jr. no terceiro álbum. Meu irmão apresentou o trampo deles e de cara eu já curti, pela sonoridade e vivência que o Chorão passava nas músicas. Achava muito foda a habilidade dele de juntar Rock e Rap, tipo no som com o MV Bill, Homens Crânios, De Menos Crime, RZO… grandes artistas da cultura hip-hop.

E mais do que isso, no skate, o único artista que tinha essa referência de música e esporte pra nós era ele. Na baixada santista, quando morei lá, vi que essa cena era muito forte. Foi uma dessas perdas de artista geniais que a gente teve e deixou um legado, tanto nas suas letras agressivas quantas nas mais sentimentais e até sarcásticas. Me identifico muito também com essa fita mais "bad vibes" que todo artista tem, parece uma maldição, que a gente muitas vezes produz mais quando tá triste do que quando tá feliz. O exemplo que ele me deixou é esse de não importa o que você falar nas letras, você por o sentimento real nessa parada vivendo intensamente.

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.