Fãs de Lana Del Rey contam por que são tristes e queriam estar mortas (ou não)
Ilustração por Pedro Nekoi

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Noisey

Fãs de Lana Del Rey contam por que são tristes e queriam estar mortas (ou não)

No Lollapalooza, descobrimos que querer estar morta e chorar no banheiro ao som da diva da melancolia millennial é mais comum do que parece.

Nascida para morrer. Assim Lana Del Rey apresentou seu disco de estreia Born to Die em janeiro de 2012, conquistando milhares de fãs mundo afora. Com letras melancólicas, depressivas e repletas de tristeza, até o verão Lana entristeceu.

A cantora começou bombando na internet com seu clipe caseiro de "Video Games" e logo deixou sua marca tristonha e ícone da coroa de flores espalhada entre os seus seguidores. Essa bad vibe é tão real que Lana declarou em meados de 2014, que sua verdadeira vontade era de estar num plano além desse que vivemos ("queria estar morta") e isso, lógico, virou meme e emblema de seus frenéticos fãs.

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Cinco anos depois de sua primeira vinda ao Brasil, Lana colou no Lollapalooza 2018, levando uma multidão para acompanhar seu setlist repleto de hits como "Blue Jeans", "Young and Beautiful" e "Lust For Life", do seu último trabalho. Entre os morros do festival, falamos com seus fãs para compreender o quê está por trás de toda essa angústia. Saca só:

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Fernanda Zaggo, 20 — Belo Horizonte, MG

Noisey: Por que você está aqui hoje?
Fernanda: Só por conta da Lana. Vim aqui para ver a Lana e chorar com todo mundo e sentir essa energia da tristeza. Ela trouxe isso que todo mundo sente na verdade, sabe? Porque todo mundo é triste. A gente finge que é feliz e ela fala isso com naturalidade. Todo mundo é triste mesmo e está tudo bem ser triste.

Você é triste por ser fã da Lana Del Rey ou fã da Lana por ser triste?
Eu sou triste na vida real. Sou fã da Lana por ser triste. Eu era triste e falava, 'meu deus, só eu sou assim'? E conheci a Lana e vi que tinha muita gente assim também. Foi em 2016 quando terminei meu namoro de dois anos. Eu estava quase casando. Daí eu escutava Lana Del Rey e sentia que ela estava me transmitindo uma mensagem: "Aguenta firme, vai dar tudo bem, vai ficar tudo certo."

"Ride" me inspirava muito. A Lana é ao mesmo tempo sexy, triste, vulgar. Eu não sei o que ela tem que ela mexe comigo.

Você queria estar aqui ou queria estar morta?
Eu queria estar aqui e depois morrer. Morrer porque ninguém vai voltar mais. Está difícil aguentar, seguir em frente, está difícil amar, segurar a barra. Eu acho que isso tem a ver com todo mundo. Quando a gente está sozinho, a gente se sente assim meio no cosmos, tendo uns pensamentos estranhos na cabeça, isso significa a solidão de todo mundo. Eu acho importante a gente ficar sozinho um tempo, para pensar.

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Em qual momento você escuta Lana Del Rey?
Quando eu estou tomando banho para ir trabalhar e indo para meu estágio. Eu comprei aquela caixinha que cola no box e eu conecto e vou todo dia chorando para disfarçar as lágrimas no chuveiro. Para chorar no banheiro.

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Matheus Souza Assunção, 20 — Jataí, GO

Noisey: O que te trouxe até aqui?
Matheus: Me formei recentemente. Terminei a minha graduação ano passado e como a minha turma não ia fazer festa de formatura, pensei em fazer alguma coisa e falei: "Vou pro Lolla!", chamei os amigos e ninguém animou e falei: "Não tô nem aí, vou sozinho."

Você é triste por ser fã da Lana Del Rey ou fã da Lana por ser triste?
Eu sou triste porque sou fã de Lana. Queria estar morto nesse momento.

Por que toda essa tristeza?
Eu acho que é pelo estilo dela. Uma pegada vintage com uma coisa mais triste. Sempre que estou escutando as músicas dela eu penso em algo triste. É engraçado, mas eu não fico na bad; coloco uma música dela, relaxo, fico tranquilo. Ela transparece uma tranquilidade muito forte.

Quando você mais escuta Lana Del Rey?
No banho ou quando eu coloco o fone de ouvido no trabalho, mas geralmente quando eu e meus amigos saímos, vamos para as praças, pros lugares. A gente senta e coloca pra relaxar tranquilamente. Mas eu acho que na maioria das vezes que eu escuto é nos banhos. A tranquilidade que essa mulher passa é incrível.

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Larissa de Queiroga Sampaio, 20 — interior da Paraíba

Noisey: O que te trouxe aqui hoje?
Larissa: Vim pra cá só pro show dela, basicamente só pra vê-la. Sou fã dela há sete anos já.

Por que os fãs são considerados tristes?
Na realidade, eu acho que a Lana salvou a minha vida. Ela me fez mostrar que existe beleza na tristeza, que você consegue ver beleza naquele escuro. É a luz no fim do túnel, quando você realmente pode ser feliz.

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A Lana desperta poesia em mim. Consigo escutar Lana e sentir toda a verdade nas palavras que ela fala. E você percebe que não é uma coisa superficial — aquilo ali é pura arte, pura poesia. É um misto de sensações. A tristeza e aquela esperançazinha também e de que existe alguém que lhe entende por meio da música.

Qual o momento que você põe Lana para tocar?
Chego em casa, gosto de acender um incenso, deitar um pouco, escutar. Consigo me sentir renovada quando a escuto.

Queria estar aqui ou queria estar morta?
Eu queria estar aqui porque vou morrer já já. Se eu não desmaiar, chorar, ou fazer os dois, com certeza vai ser incrível.

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Stefano Canassi, 23 — São Bernardo do Campo, SP

Desde quando você é fã da Lana Del Rey e por que?
Desde 2012. [Na fase do] Born to Die, que eu lembro que passei uma época bosta da minha vida. Tive um ano novo horrível com uma amiga. A gente foi pra praia e deu tudo errado. Cheguei em casa e estavam postando o clipe dela, não conhecia, vi e caiu como uma luva. Não sei porque mas ajudou minha bad, parecia que ela estava me compreendendo, não sei porque.

Você é triste por ser fã da Lana Del Rey ou fã da Lana por ser triste?
Não, sou todo feliz, todo colorido, mas tem dias que são bem melancólicos e me ajuda também. Eu tenho uma amiga e a gente coloca uma canga, fica no bosque ouvindo Lana e assim a gente cura a bad. Ou aumenta ela também, mas numa forma de curar.

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Queria estar morta ou queria estar aqui?
Queria estar aqui. Sou fã mas não sou dessas. Porque se eu estivesse morta eu não estaria vendo a Lana agora, então, melhor estar viva.

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Giancarlo Alvarez, 38 — Equador

Noisey: O que te trouxe aqui?
Giancarlo: Esse é o meu segundo show da Lana Del Rey este ano. Eu vi a Lana em Charlotte, na Carolina do Norte, em janeiro. Eu amo o Born to Die e o Lust for Life é meu preferido. Amo o Brasil, e escolhi o Lolla aqui do Brasil. Amo as pessoas, as mulheres, as praias, o Rio. Eu conheço a Avenida Paulista.

É a sua primeira vez aqui?
Minha quarta vinda.

Você é um fã triste?
Não muito. Estou muito feliz por vê-la, por estar perto e há muita gente aqui.

Queria estar aqui ou queria estar morta?
Eu prefiro ficar aqui.

Foto: Amanda Cavalcanti/VICE

Amanda Malerva, 23 — São Caetano do Sul, SP

Você é uma fã de Lana Del Rey triste?
Amanda: Eu sou professora de filosofia e acho que é parte do meu ofício ficar na bad. Às vezes é uma trilha sonora que compreende a gente, porque eu acho que o mundo não é feito só de músicas felizes. A Lana compreende essa parte.

Quando você mais escuta Lana Del Rey?
Eu acho que escuto Lana porque tenho esses momentos melancólicos, estou dirigindo e escuto, baixo o vidro do carro, muito real. Dirigindo, antes de dormir, acho bom. Não antes de ir pro rolê, né, mas é uma boa. Transando.

Jura?
É muito legal. A minha música com o meu boy é "Video Games".

Você é triste por ser fã da Lana Del Rey ou fã da Lana por ser triste?
Essa é muito boa. Sou super niilista. Eu acho legal você ter consciência disso do que ouvir músicas mais felizes para tentar disfarçar. É legal você assumir algo e continuar no momento, assumindo que você sente.

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