Portugal

O ajuntamento e o político que devia assistir à telescola

Viva o 25 de Abril, mas sem o modelo habitual e sem a arrogância de Ferro Rodrigues.
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Até os miúdos ficam perplexos com a aglomeração agendada no Parlamento. (Imagem da série Stranger Things. Cortesia Netflix)

“Onde vais estar no 25 de Abril de 2020?”. Excepto os que têm que sair para trabalhar, que têm de se deslocar por razões de saúde ou para adquirir bens essenciais, a resposta com marca Covid-19 só deve ser uma: em casa.

Às portas da celebração do Dia dos Cravos, é inacreditável que Marcelo, Ferro Rodrigues e António Costa (as três figuras no topo da hierarquia do Estado) não tivessem o discernimento de priorizar a saúde pública em detrimento de uma data que, sendo fulcral para a República, não deve ultrapassar a urgência sanitária a que o país está sujeito.

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Nas actuais circunstâncias, a celebração dispensava o ajuntamento previsto na Assembleia da República. Entre deputados, convidados ou jornalistas, são esperadas cerca de cem pessoas – na realidade a concentração pode ser maior, se contabilizarmos o staff inerente (motoristas, assessores, funcionários, etc.). Como disse o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a cerimónia devia envolver entre vinte a trinta figuras e, de preferência, de máscara.

A meu ver, devido ao Estado de Emergência que se estende até 2 de Maio - se não for, entretanto, renovado -, seria conveniente que houvesse apenas três discursos individuais, em directo na TV. Nomeadamente do Palácio de Belém, de São Bento e do Parlamento. Continuando no mesmo registo, os partidos e os convocados de relevo, caso de quem representa os militares presentes na histórica revolução, deixariam mensagens gravadas em vídeo nas redes sociais.

A polémica é simples. Se os representantes do povo não dão o exemplo, como é que o resto dos cidadãos vai controlar a ânsia de ir à praia ou a outro lugar que sirva para espairecer da sufocante realidade? O convívio quando nasce deve ser para todos…

E o que dizer da actuação de Ferro Rodrigues dentro e fora do plenário? Não é a primeira vez - nem será a última - que o presidente da Assembleia da República mostra ter uma “classe” nociva à imparcialidade (o momento "vergonha” foi o episódio mais conhecido que ajudou André "iate de tempo” Ventura a fazer-se de vítima). Desta vez, abriu o microfone sem qualquer nexo para criticar o discurso que o deputado do CDS, João Almeida, tinha feito uns instantes acerca do evento que se realiza este Sábado.

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Independentemente da razão que possa ter em qualquer matéria, Ferro Rodrigues parece não estar ciente das observações despropositadas que faz e do cargo que ocupa - o pior desde 1974 na opinião do comentador e cronista João Pereira Coutinho. Ainda é mais insensato quando julga que a sua verdade é absoluta e vê fascistas onde eles não existem. Ou será que João Soares, por ter criticado os moldes habituais do 25 de Abril, veste a camisola salazarista? Como diria o Diácono dos Remédios, “não havia necessidade”.

Há uns tempos, Carlos César foi visto como possível sucessor na presidência do Parlamento. Ele que venha e traga a família toda.

Começa a tornar-se evidente que há políticos que seriam mais úteis se passassem estes dias a assistir à telescola.


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