Pela terceira vez em 2015, atos intitulados “Fora, Dilma”, pedindo o fim do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), aconteceram hoje (16) pelo Brasil. Grupos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Vem Pra Rua e os Revoltados ON LINE encabeçaram os protestos – que contaram com a participação de 114 cidades confirmadas pelo país, segundo o próprio MBL.
A VICE acompanhou o ato da cidade de São Paulo, que começou oficialmente às 14h na Avenida Paulista. O número de pessoas presentes diverge bastante. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), 350 mil pessoas estiveram na avenida às 16h. Já de acordo com o Datafolha, 135 mil pessoas participaram entre 13h e 17h30.
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Nas redes sociais, a manifestação ganhou o apelido e a hashtag de #CarnaCoxinha e entrou nos Trending Topics mundiais do Twitter.
Simultaneamente ao protesto, o grupo Jornada pela Democracia, que se declara “pluripartidário” e de esquerda, organizou um ato em frente ao Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, para debater tópicos como “conservadorismo, resistência, ódio, golpe e o futuro da esquerda”. Membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) participaram do evento, que contou com bandeiras exibindo frases que defendiam a permanência do PT no poder. Segundo nota oficial da SSP-SP, 600 pessoas estiveram presentes.
Ex-candidato a presidente da República em 2010 e 2014, Levy Fidelix, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), agora se opõe à Dilma – embora já a tenha apoiado. “Fui contra a Dilma e o governo petista. Continuo sendo porque estou do lado do meu país e não quero comunismo nem bolivarianismo dominando a minha nação”, disse em entrevista à VICE durante a manifestação na Paulista. “Se ela tiver um pouquinho de grandeza, ela tem de renunciar.”
Levy afirmou ver Dilma como “técnica de uma seleção que está perdendo”. E completou: “[Ela] mostrou que não está à altura de governar o destino do nosso país.” Conhecido por seus discursos polêmicos, o ex-presidenciável foi taxativo: “No momento, estou querendo que eles [PT] saiam imediatamente. Impeachment já ou renúncia já.”
Embaixo do carro de som, parte da organização do protesto comercializava camisetas. A mais simples, com os dizeres “Juntos somos fortes e com Deus somos imbatíveis”, custava R$ 15. Se o manifestante/cliente quisesse também o boné, as duas peças sairiam por R$ 20. Já a camisa polo estampada pela frase “Impeachment Já” era vendida a R$ 50. Junto da namorada, um sujeito que tentava adquirir uma polo específica pareceu decepcionado ao ouvir do organizador/vendedor que não teria a peça na cor e no tamanho escolhidos. Do alto do carro de som, organizadores incentivavam os manifestantes a cantar “eu vim de graça”, embora pedidos de doações sejam constantemente publicados nas redes sociais e nos sites de grupos como o MBL e o Revoltados On Line.
“Ouvi lá do Planalto que a ‘chefa’ tá cagando de medo”, proferiu um sujeito ao microfone, enquanto os presentes iam ao delírio – alguns, inclusive, batendo panelas em meio à multidão. “Renuncia!”, bradou.
Carla Zambeli, do grupo nasruas, fazia piadas ao microfone: “Nem todo ladrão é petista e nem todo petista é ladrão”. Alguns segundos depois, voltou atrás. “Todo petista é ladrão, sim”, declarou, provocando risos.
Novamente, houve manifestantes pedindo a intervenção militar.
O manifestante Nilton Cacoos Jr., do movimento Avança Brasil – Maçons.BR. Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo
“Defendemos o impeachment, a cassação ou a renúncia [da presidente Dilma Rousseff]”, explicou Nilton Caccos Jr., do movimento Avança Brasil – Maçons.BR. Para ele, falar no fim da corrupção é uma utopia; no entando, Caccos acredita que outros países possuam um maior controle do que aqui. “Hoje, a corrupção no Brasil é uma forma de se manter no poder.”
Sem muita compreensão de quem estava ao redor, um cara segurava um cartaz dizendo: “Violento não é o black bloc. São os políticos safados que merecem a prisão”. Júlio Cesar Veloso explicou para a VICE o significado do escrito: “O black bloc não é violento e nunca foi. O nosso governador [Geraldo Alckmin, do PSDB] deu um jeitinho de criminalizá-los porque os caras são de atitude”. Júlio comparou o clima de festa do ato com o terror de outros protestos e também com a chacina que aconteceu nesta semana na região metropolitana de São Paulo. “Manifestação não é esse mar de maravilha, não. Em Osasco, 19 pessoas foram mortas, e ninguém está nem aí. Mas, num caixão lacrado, não tem patriotismo.”
Coincidência ou não, por volta das 17h, um grupo se preparava para fazer uma intervenção artística abordando o assunto na região da Avenida Paulista. “O Brasil é um país que agora lamenta escândalos de corrupção, mas pisa diariamente em cima do sangue humano de negros, jovens e índios”, afirmou o diretor Ricardo Targino.
Quem estava no protesto não entendeu bem quando atores passaram a jogar sangue em cima de uma atriz (que fazia o papel de uma menina de rua) deitada em cima da bandeira do Brasil. “Petralhas”, “Fora PT” e “Vagabundos” foram alguns dos xingamentos ouvidos pelos atores e pela imprensa, que acompanhava a performance. “Pra nós, é absolutamente impensável que a sociedade não bata nenhuma panela por aqueles que perdem a vida em chacinas como essa”, completou o diretor Ricardo.
O fotojornalista Rodrigo Zaim, do R.U.A Foto Coletivo, colaborou com as entrevistas.
Veja mais imagens do ato abaixo: