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Manifesto anti-diversidade de engenheiro do Google expõe pior lado do setor

Pelo menos oito funcionários do Google falaram no Twitter sobre um documento interno que sugere substituir as iniciativas de diversidade da companhia por práticas que encorajem a “diversidade ideológica”. O documento em questão — referente à opinião de engenheiro de software sênior — foi compartilhado numa lista de emails da empresa e desde então “viralizou internamente”, de acordo com funcionário que conversou com o Motherboard.

Ainda não tivemos acesso ao documento integral, mas o print analisado por nós revela o título “A Câmara de Eco Ideológica do Google”. Informações sobre seu conteúdo foram tuitadas publicamente por funcionários da empresa. Um deles falou com o Motherboard sobre a questão com a condição de anonimato por conta da rigorosa cláusula de confidencialidade do Google. (Na tarde de sábado, o Gizmodo publicou o conteúdo integral do documento em questão.)

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A pessoa responsável pelo manifesto argumentava que a diferença entre o número de homens e mulheres na engenharia de software se dá por causa das diferenças biológicas entre os dois sexos, de acordo com tuítes de funcionários do Google. O texto dizia ainda que o Google não deveria oferecer vagas para minorias raciais ou de gênero.

O documento de dez páginas no Google Docs foi recebido com escárnio por boa parte dos funcionários da empresa, que logo denunciaram seu conteúdo. Mas Jaana Dogan, engenheira de software do Google, comentou que alguns na empresa concordavam, ao menos parcialmente, com o que havia sido dito pelo autor.

Embora o documento contenha a visão de apenas um funcionário, o contexto em que foi compartilhada – atualmente a empresa está sendo investigada pelo Ministério do Trabalho americano por causa das diferenças de salários entre sexos, e o Vale do Silício tem sido alvo de acusações de discriminação contra mulheres e negros – é relevante.

“O contexto mais amplo é que esta pessoa talvez seja mais ousada que a maioria que compartilha de sua visão no Google – de que mulheres são menos qualificadas que homens – a ponto de estar disposta a brigar por isso. Infelizmente, há outros como ele”, comentou o funcionário que me revelou o conteúdo do texto.

“No Google, sinto que há muita resistência por parte de uns caras brancos que acham mesmo que a diversidade tem baixado o nível”, disse um ex-engenheiro do Google que pediu para se manter no anonimato por conta de uma cláusula de confidencialidade.

Nós do Motherboard confirmamos com diversos funcionários do Google que o documento tem sido compartilhado entre muitas das equipes de engenheiro da empresa. “Se fosse chutar, diria que quase todas as mulheres do setor já o viram”, disse um dos funcionários com quem conversamos. Outro funcionário com quem tivemos contato afirmou que o documento vem sendo lido por vários outros. Em vários momentos da noite de sexta, o documento ficou inacessível porque muita gente tentava lê-lo ao mesmo tempo. O Google não respondeu às nossas tentativas de contato.

No sábado, a nova vice-presidente de Diversidade, Integridade e Governança, Danielle Brown, respondeu ao manifesto em nota enviada aos funcionários da empresa.

O autor do documento escreveu também que funcionários de crença política conservadora são discriminados pelo Google e lamentou ainda sobre como a ideologia “esquerdista” é danosa. Ele argumenta ainda que a empresa deveria ter uma cultura mais “aberta” em que seus pontos de vista seriam bem vindos. O documento dizia que melhorar a diversidade de gênero e racial é menos importante do que garantir que conservadores sintam-se à vontade para se expressar no local de trabalho.

Por mais que a grande maioria dos funcionários do Google não concordem com o que foi escrito no manifesto, alguns parecem endossar o coro conservador. De acordo com Dogan, que trabalha na linguagem de programação Go da empresa, o autor se sentiu encorajado por causa de algumas reações positivas. “O autor entrou em contato comigo explicando porque recebeu reações *de apoio*”, tuítou Dogan. “Caso o RH não faça nada, considerarei deixar a empresa de verdade pela primeira vez em cinco anos”, comentou no Twitter.

“Não vale a pena pensar que este é um acidente isolado, mas sim a manifestação de um mal que atinge todo o Vale do Silício”, disse o funcionário que me revelou os conteúdos do manifesto.