No final da tarde da quinta-feira (15) o vão do MASP se encheu rapidamente de manifestantes que saíram do trabalho ou de casa para protestar contra o genocídio negro e pedir justiça pela morte de Marielle Franco, morta na noite de 14 de março com indícios de execução. Desde que a notícia veio a público minutos após seu assassinato, era previsível que as ruas fossem ocupadas. Em São Paulo não foi diferente. Milhares de pessoas compareceram ao ato que terminou por volta das 21h30 na Praça Roosevelt, região central da cidade.
Marielle foi eleita ao cargo de vereadora do Rio de Janeiro em 2016 pelo PSOL, sua primeira e última candidatura. Foi a quinta mais votada da cidade com 46,5 mil votos e sua atuação anterior à política focava principalmente em denunciar a violência policial contra moradores das comunidades cariocas. Como vereadora, foi nomeada relatora em 28 de fevereiro de uma comissão que fiscaliza a intervenção militar na cidade. Quatro dias antes de sua morte, Marielle denunciou através de suas redes sociais duas mortes de jovens e ameaças vindas de policiais do 41º Batalhão Militar de Acari, considerado o mais violento do Rio de Janeiro.
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“Ainda estamos consternados com a morte de Marielle”, diz Miguel Carvalho, dirigente do PSOL em São Paulo. “Mas o partido não vai se calar e nem se intimidar diante diante dessa situação. Nós viemos para a rua juntamente com a população para dizer que a luta da Marielle continua.”

Representantes de diversos grupos autônomos, partidos políticos e organizações progressistas estavam presentes levando bandeiras e faixas com os dizeres Marielle Presente. Num clima simbólico de velório, alguns optaram em seguir as centenas de velas na vigília que foi formada na concentração, outros seguiram o ato que contou com as mulheres do bloco afro Ilú Oba de Min liderando a bateria.
“Essa unidade nos garante a certeza de que poderá haver alguma punição, descobrir quem foram os assassinos de Marielle e ao mesmo tempo para preservar a integridade de cada um e cada uma que está aqui,” diz José Henrique Viégas Lemos, biólogo, professor da rede pública e professor voluntário da UNEAFRO.
Tássia Almeida, militante do RUA – Juventude Anticapitalista, também defendeu a unidade de grupos e manifestantes. “A gente tá muito acostumado em lutar ombro a ombro todos os dias, no momento em que aperta a gente espera que continue ombro a ombro e a gente espera que consiga mobilizar e tocar cada vez mais pessoas. Momentos como esse só mostram como o companheirismo e solidariedade, estar junto nas ruas, é o caminho para que a gente mude e resista.”

Apesar da tensão costumeira, não houve nenhuma ação da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana contra os presentes. Na quarta-feira (14), as duas corporações foram duramente criticadas após agirem com truculência contra servidores públicos e professores que protestaram contra a reforma da Previdência Municipal na Câmara de São Paulo. Em conjunto com o ato do MASP, mais uma manifestação dos servidores públicos foi marcada no mesmo local de quarta-feira. Desta vez, com o peso da morte da vereadora do Rio de Janeiro.
Para Júlia Soares, militante da Unidade Popular pelo Socialismo, a população não deve se intimidar ao protestar. “As pessoas que não estão tão organizadas acabam se sentindo com medo, como se não pudessem fazer nada, e é isso que eles querem. Mas acho que é o contrário, se não for pelo diálogo, a gente que é a base da sociedade que produz a riqueza dela vai ter que radicalizar cada vez mais.”
As circunstâncias da morte de Marielle ainda serão investigadas pelas autoridades cariocas. O consenso até agora da polícia é que se tratou de uma execução, já que os tiros se concentraram na janela do banco passageiro, onde a vereadora estava sentada. Em meio da comoção, a polícia civil do Rio de Janeiro já chegou a negar a possibilidade da Polícia Federal de investigar o caso, alegando ter todos os meios possíveis para a solução do crime. A própria procuradora-geral da República, Raquel Dodge, voltou atrás do pedido de federalização do caso. Além disso, a perícia do Rio de Janeiro averigou que as balas usadas no assassinato de Marielle e Anderson Pedro Gomes eram do mesmo lote comprado pela Polícia Federal.


Ainda não há nenhum suspeito apontado pela Polícia Civil como assassino da vereadora, porém circula uma versão, bastante popular, de que os responsáveis não são criminosos civis ligados ao tráfico de drogas, mas sim policias que compõem milícias no Rio de Janeiro, justamente por conta da atuação política de Marielle.
“Sabemos que quem puxou o gatilho teve um comando e esse comando veio de figuras do aparato estatal. Infelizmente não é novidade o que aconteceu com Marielle,” lamenta Viégas.
Durante a caminhada de São Paulo, não eram poucos manifestantes que comentaram a presença massiva da população do Rio de Janeiro presente nas ruas para acompanhar o velório da vereadora e do motorista, Anderson Pedro Gomes, também morto no atentado. Na capital paulista, o ato acabou terminando sem violência policial em frente à Praça Roosevelt onde os manifestantes rapidamente se dispersaram. Além disso, um grupo de manifestantes negros autônomos, que seguia à frente do ato, convocou o prosseguimento da marcha até o Teatro Municipal, que também se encerrou pacificamente.









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