Quando você para pra olhar os primeiros personagens criados pela Nintendo nos anos 80, a impressão que dá é que o lance da empresa era mesmo a classe operária que dá duro pra salvar o dia através de trabalhos manuais. Observemos Mario e seu irmão Luigi, as duas estrelas bigodudas mais famosas da Nintendo, dois encanadores que não pensam duas vezes em entrar pelo cano. Mas os irmãos italianos não são o único exemplo no elenco da empresa: em 1986 nascia Stanley, o mais miserável e esquecível dedetizador da Nintendo, que aparentemente até a empresa faz questão de ignorar.
A grande estreia oficial de Stanley foi como o grande protagonista de Donkey Kong 3 (não confundir com Donkey Kong Country 3, do SNES) – além do macacão citado no título do game, claro. Em versões anteriores do jogo para fliperama, Donkey Kong e Donkey Kong Jr., quem dava as caras era o próprio Super Mario no papel de herói. De fato, como todos sabemos, o fliperama original de DK foi onde conhecemos Mario, então não surpreende que fãs associem o bigodudo à série Donkey Kong nos arcades. Descer o sarrafo no macacão era só o que o Mario curtia fazer na primeira metade dos anos 80, basicamente.
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Logo, todos ficaram no mínimo confusos quando perceberam que o robusto encanador de martelo na mão tinha sido substituído por um dedetizador sem características marcantes (leia-se: sem muito pelo na cara, como o glorioso Mario). Sinceramente, não acho que a Nintendo tenha se esforçado para fazer de Stanley um cara carismático.
Em Donkey Kong 3, o “bugman”, como a empresa o chamava, tinha que expulsar insetos e o próprio Donkey Kong de uma espécie de estufa da qual estava cuidando. O jogo em si era meio repetitivo e não chegou ao mesmo nível de popularidade dos dois primeiros. Stanley mesmo parecia tão sem-sal que a Nintendo nunca mais o colocou em nenhum jogo. Sua carreira de protagonista acabava antes mesmo de começar.
“Esta poderia ser a primeira aparição não-oficial de Stanley no universo da Nintendo.”
Quando você para pra sacar o quão no fundo da geladeira da Nintendo Stanley está, é impossível não se sentir mal pelo carinha. Tem vezes que parece que a empresa odeia tanto ele que pelo visto seu destino é fazer umas pontas aqui e ali. Dando uma olhada nas páginas de wiki dedicadas a Stanley, notamos que seu outro único grande feito foi participar de um episódio com Donkey Kong em Saturday Supercade, um desenho infantil. O triste mesmo é que Stanley só se fode ao longo do episódio inteiro.
No desenho, um ladrão desconhecido rouba uma das plantas de Stanley sem motivo aparente, de dentro de sua estufa, convencendo então Donkey Kong que Stanley quer matar a planta, levando o gorilão a atirar colmeias gigantescas e muito perigosas na direção do coitado. Não bastasse seu ego já contundido, Stanley tem que pedir ajuda a Mario e Pauline (uma proto-princesa Peach que só não é tão esquecível quanto Stanley porque virou prefeita em Super Mario Odyssey) para darem um jeito no ladrão e pegar sua planta de volta. Mesmo em um desenho matinal de sábado, nosso dedetizador foi obrigado a viver sob a sombra de Mario.
Caso você já esteja na internet há tempo o bastante, logo perceberá que Stanley é o personagem inútil perfeito pelo qual fãs de games ficam obcecados em desvendar sua (não-existente) história. Alguns dizem se tratar do caçula perdido dos irmãos Mario. Outros buscam em fóruns validação da teoria que diz que Stanley é apenas primo de Mario.
A presença irregular de Stanley em outros games também deprimem: um troféu em Super Smash Bros. Melee e nada mais. Porém, indo fundo no passado de Stanley, há rumores que apontam para um personagem conhecido apenas como “Dedetizador” em um minijogo de Game & Watch de 1982 chamado “Greenhouse”. Esta poderia ser a primeira aparição não-oficial de Stanley no universo da Nintendo, mas infelizmente a única fonte que confirma isso é um comercial de 1983 de Game & Watch em que o personagem é chamado, por acaso, de Stanley.
Um brinde ao carinha que acaba sendo ignorado por todos seus colegas da Nintendo na festa de fim de ano. Essa é pra você, Stanley! Que a internet te adore como um deus esquecido até que as areias do tempo lhe devorem por completo!
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