'Thriller', do Michael Jackson, quase não saiu do papel

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'Thriller', do Michael Jackson, quase não saiu do papel

"Ninguém estava interessado em fazer o clipe, exceto Michael", diz John Landis, diretor da obra-prima zumbística do Rei do Pop.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Matéria originalmente publicada na i-D US.

Mais de trinta anos desde seu lançamento em 1983, "Thriller" ainda é um dos videoclipes mais icônicos já feitos. Uma fantasia inspirada em filmes de zumbi estrelando o músico mais famoso do mundo, uma ex-modelo da Playboy e um elenco de mortos-vivos com movimentos nunca vistos antes, o minifilme não foi um sucesso apenas com fãs do Michael Jackson — vendendo quase nove milhões de cópias do disco — também foi um sucesso de crítica. Dirigido pelo cineasta de Los Angeles Jonh Landis, "Thriller" provou que clipes podiam ir além de sua motivação básica — vender discos — e se tornarem um fenômeno cultural. Foi o primeiro videoclipe adquirido pela Biblioteca do Congresso dos EUA por sua importância "cultural, histórica e estética".

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Em setembro, a obra-prima de 14 minutos estreou em 3D no Festival de Cinema de Veneza. Foi a primeira vez que o filme foi exibido nos cinemas desde os anos 80, junto com um documentário de 45 minutos chamado The Making of Thriller.

Mas por que demorou tanto para "Thriller" voltar às telonas? Landis enfrentou o Jackson Estate no tribunal por cinco anos pelos direitos do clipe, finalmente resolvendo o processo em 2012 e fechando um acordo de $2,3 milhões, 50% dos direitos e acesso aos negativos originais.

"Como eu tinha acesso aos negativos agora, tive a chance de melhorá-los e torná-los incríveis", Landis me disse por telefone de sua casa em Los Angeles. "As imagens ficam uma bosta no YouTube."

A ideia para o clipe de "Thriller" nasceu em 1982, um ano depois do lançamento do disco de mesmo nome. O álbum já era o número um da Billboard e tinha se tornado o disco mais vendido de todos os tempos. Mas Jackson viu o filme de terror de Landis Um Lobisomem Americano em Londres (1981), adorou e pediu para fazer uma colaboração com o diretor.

"Ele me ligou para dizer que era fã do meu filme", diz Landis. "Ele queria fazer um clipe de rock em que ele virava um monstro, e sentia que tinha a música perfeita pra isso, 'Thriller'."

Landis estava cético quando se encontrou pela primeira vez com Jackson em Los Angeles. "Pensei: 'Não sei, porque clipes são essencialmente comerciais para vender discos'", ele lembra, mas depois mudou de ideia. "Decidi fazer 'Thriller' porque era uma oportunidade de fazer um musical propriamente dito."

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Landis queria que o projeto fosse mais que outro videoclipe. Ele propôs a Jackson que eles transformassem o clipe num curta, e o cantor concordou; isso estava na mesma linha da própria abordagem dele — que era estabelecer um padrão quase inalcançável de perfeição. (Jackson mais tarde diria à MTV sobre fazer o clipe: "Tinha que ser, sabe, a minha alma".) "Ele não queria que fosse apenas um clipe ótimo, mas o melhor", diz Landis. "Ele queria ser o melhor em tudo que fazia."

Segundo Landis, um clipe custava em média $30 mil para fazer nos anos 80, mas "Thriller" acabou custando $500 mil porque, entre outras coisas, foi o maior esforço de maquiagem desde O Mágico de Oz. Rick Baker, o maquiador vencedor do Oscar que ficou famoso por Gremlins, foi chamado para fazer a elaborada transformação prostética de Jackson e seu bando de zumbis.

©Optimum Productions.

Landis se refere a "Thriller" como um "clipe de vaidade". Era a fantasia pessoal de Jackson se transformar num lobisomem, simplesmente porque ele achava legal, aponta o diretor. "Ninguém estava interessado em fazer o clipe fora o Michael", ele diz. "Ele queria muito se transformar num monstro."

Landis e Jackson pediram a Walter Yetnikoff, então presidente da CBS Records, para financiar o projeto, mas quando Landis falou por telefone com Yetnikoff, só ouviu desaforos. Ele lembra que Yetnikoff disse "Quem você pensa que é?" e "Não vamos pagar por isso!". "A gravadora achava que 'Thriller' já tinha atingido o ápice e queria tocar o barco", ele diz. "Por que gastar mais dinheiro com esse disco?"

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Então, para financiar o clipe, Landis e Jackson filmaram um documentário de 45 minutos, The Making of Thriller, e o venderam junto com "Thriller" como um programa de uma hora para duas estações de TV: Showtime, que passou o programa primeiro, e para a MTV, que passou o programa na semana seguinte.

O conjunto então foi vendido para centenas de estações de TV pelo mundo e ajudou a triplicar as vendas do álbum. Aproximadamente 3 milhões de VHS de "Thriller" foram vendidas nos EUA e 10 milhões pelo globo. "'Thriller' teve esse impacto imenso que ninguém fora o Michael pensou que podia acontecer", diz Landis. "Honestamente, eu estava totalmente despreparado para esse tipo de sucesso. Era algo sem precedentes e completamente inesperado."

O clipe em si foi gravado em cinco dias em outubro de 1983, num cenário de cemitério D.I.Y. na área de açougues do centro de Los Angeles. O bairro na época era uma área de gangues, então a presença da polícia era grande, lembra Landis.

Os fãs de Jackson também nunca estavam longe. "Assim que ele aparecia, instantaneamente milhares de pessoas começavam a gritar histericamente", diz Landis. "Quatro ou cinco mil pessoas em volta do set, só para ver o Michael de longe."

Landis e Jackson no set de "Thriller" em 1983. ©Optimum Productions.

Jackson, que tinha 25 anos, recebeu a visita de alguns amigos também: Marlon Brando, Fred Astaire e Gene Kelly. Quando Elizabeth Taylor ligou, Landis teve que dizer a ela que Jackson estava muito ocupado. "Eu disse 'Oi, Elizabeth, desculpe, aqui é Jonh Landis, mas estamos filmando agora. O Michael pode te ligar de volta daqui algumas horas?'", ele lembra. "Isso foi bastante incomum."

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Mas o momento mais surreal das filmagens de "Thriller" foi às 3h30 numa madrugada, quando Jackson, que estava em sua Winnebago perto dos trilhos de trem, pediu que Landis viesse vê-lo. "Entrei e ouvi o Michael dizer: 'John, você conhece a Sra. Onassis?'", diz Landis. "Foi tão bizarro! Se você me perguntasse 'Quem você esperava ver?', o último nome que passaria pela minha cabeça era 'Jackie Kennedy'."

Apesar de Onassis não aparecer nas filmagens dos bastidores, o documentário de "Thriller" tem trechos ótimos de Jackson no auge. Há uma filmagem da apresentação dele no aniversário de 25 anos da Motown Records, que o lançou para o estrelato, além de um vídeo antigo do cantor dançando quando era criança, que Landis achou no closet de Katherine Jackson.

O filme é um testemunho de Jackson durante seus melhores anos. E se o cantor estivesse vivo, Landis diz que sabe o que ele acharia de "Thriller" passar nas telas do Festival de Cinema de Veneza. "Michael estaria fora de si de alegria", ele diz. "As pessoas finalmente vão poder ver o filme como deveriam."

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