Saúde

Levei choques no pênis para ter ereções melhores

O tratamento visa disfunção erétil, mas pessoas que querem ereções mais firmes e duradouras também podem se beneficiar.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
Man laying in a medical bed in an office.
Foto cortesia de Natasha Yelsley.

Uma mulher atraente usando um jaleco branco me instruiu a ficar nu da cintura pra baixo. Apesar de ter um lençol médico sobre minha área genital, ele foi levantado para que ela pudesse cobrir meu pênis e testículos com óleo de bebê com as mãos em luvas de látex.

“Vai doer?”, perguntei.

“Aqui, deixa eu te mostrar”, ela disse, tocando a ponta do que parecia uma arma de raios de um filme B dos anos 50 no meu antebraço. Era como um vibrador na potência mais alta.

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“Não é tão ruim assim, né?”, ela disse.

“Não”, gaguejei, percebendo que a sensação era o contrário de ruim. “Nem um pouco.”

“OK, vamos começar então”, ela disse enquanto segurava minhas bolas com uma mão e colocava a arma de raios no meu pênis.

Parecia uma cena de filme pornô estranho, mas na verdade era parte de um tratamento relativamente novo para disfunção erétil com uma quantidade surpreendente de estudos com revisões por pares por trás dele. Muitas das descobertas indicam que terapia de ondas de choque extracorporal funciona para tratar DE, com poucos efeitos colaterais relatados pelas pessoas que experimentaram.

A líder atual da indústria é a GAINSWave, e a tecnologia envolve ondas de som de alta frequência e baixa intensidade irradiadas para o pênis. Essas ondas supostamente quebram “microplacas” (depósitos microscópicos de colesterol e calcificação dentro de minúsculos vasos sanguíneos) e estimular o crescimento de novos vasos. Mas vale notar que essa teoria particular sobre quebrar microplacas e melhorar o fluxo sanguíneo para DE só foi testado em roedores até agora.

O resultado esperado? Ereções melhores.

Eu nunca tinha ouvido falar de microplacas ou da GAINSWave até ser contatado por um representante de relações-públicas da empresa, perguntando se eu gostaria de passar por uma sessão de cortesia. É um tanto constrangedor explicar para um estranho pelo LinkedIn que, mesmo gostando que profissionais de saúde façam coisas com meus genitais, não tenho disfunção erétil. Sem se perturbar, o representante me enviou materiais de leitura e explicou que, enquanto a tecnologia é usada para tratar DE e Doença de Peyronie – uma condição onde tecido cicatrizado fibroso se forma sob a superfície da pele, causando ereções curvadas e dolorosas – pessoas que simplesmente querem ereções mais duras e melhores também podem se beneficiar.

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Há várias pesquisas sugerindo que essa terapia pode ajudar homens com DE leve – mas há algumas questões, disse Seth Cohen, urologista e professor de urologia da NYU Langone Health. “O tratamento é aprovado pelo FDA? Não. Há uma grande quantidade de dados? Não. Isso porque a tecnologia é nova”, ele disse. Em três ou quatro anos, ele acrescentou, a comunidade médica terá um conhecimento melhor de quão efetiva essa modalidade realmente é.

Landon Trost, urologista da Mayo Clinic, tende para o lado cético também, dizendo: “Os dados ainda não são suficientes sobre a eficácia”. Ele mencionou que ainda há debate sobre a eficiência da terapia, considerando que muitos estudos de placebo controlado têm suas falhas.

“Dos estudos sugerindo eficácia, o aumento geral da nota no Índice Internacional de Função Erétil (IIFE) [o modo padrão para medir função erétil] foi de apenas dois a três pontos”, ele disse, acrescentando, como contexto, que exercícios aumentam o IIFE de três a cinco pontos, enquanto sildenafil (o principal ingrediente do Viagra) aumenta o IIFE de cinco a nove pontos. “Então, se esse tratamento realmente aumenta a função erétil, é por uma fração mínima”, ele disse.

Devo mencionar que só falei com Trost e Cohen depois do meu tratamento, esperando tirar o máximo de qualquer efeito placebo. Depois de ler alguns estudos que a GAINSWave compilou e apresenta em seu site, comprei a ideia de ter a melhor ereção da minha vida e agendei uma consulta no fornecedor GAINSWave mais próximo – o Healthy Point Medical Center em Greenpoint, Brooklyn.

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O centro se descreve como uma instalação médica de múltiplas especialidades, oferecendo serviços que incluem atendimento primário, exames médicos e dermatologia, mas os panfletos da GAINSWave estavam por toda recepção e sala de espera. A recepcionista revisou minhas respostas de um questionário de função sexual que ela me pediu para preencher.

“Você não tem nenhum problema, então será como uma melhora pra você”, ela disse, contando depois que o namorado dela de 26 anos que não tem disfunção erétil tinha passado recentemente por uma sessão, e que os resultados foram “Tipo, uau!”. Essa também é a reação apropriada para o preço: uma sessão sai por volta de US$ 500, e a empresa recomenda um pacote de seis para ter os melhores resultados.

Depois que a recepcionista confirmou o valor, ela acrescentou que – diferente dos mais eficientes sildenafil ou tadalafil – os efeitos “permanecem” e não exigem que você tome uma pílula sempre que estiver pensando em fazer sexo.

Com a arma de raios prestes a ser aplicada nas minhas áreas mais sensíveis, a terapeuta, Natalia, me perguntou se já tive algum problema de próstata, já que o tratamento GAINSWave pode apresentar risco para pessoas que já tiveram. Ela não entrou em detalhes, mas Trost falou sobre essa contraindicação depois: Para homens com calcificações na próstata, a terapia pode levar a dor perineal e inflamação da próstata.

Com minhas bolas lambuzadas de óleo nas mãos de Natalia, confirmei que ela podia continuar. Ela me instruiu a colocar as solas dos pés juntas “como um sapo”, o que prontamente fiz. Com isso, ela deslizou o aparelho pelo comprimento do meu pênis, meu períneo, e nas áreas ao redor da base, explicando que isso aumentaria o fluxo sanguíneo em toda a área. Para o meu grande constrangimento, o sangue começou a fluir para a área uns dois minutos depois do começo do tratamento.

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“Desculpe”, eu disse, enquanto ela continuava a aplicar o tratamento nas minhas partes, posicionando meu pênis meia-bomba de um lado para o outro.

“Não se preocupe”, respondeu Natalia. “Acontece com frequência.”

Nesse ponto eu estava com um pouco de dificuldade para bater papo, então só me deitei e fechei os olhos. “Pronto!”, ela disse animada, depois de duas sessões de 15 minutos com uma pausa no meio. Ela me entregou uma toalha de papel para limpar o óleo. “Acabamos.”

Quando perguntei quanto tempo levaria para experimentar quaisquer mudanças, ela disse que algumas pessoas as experimentavam imediatamente, para outras, poderia levar alguns dias ou semanas.

Como já escrevi antes, é normal que homens tenham quatro ou cinco ereções durante a noite, mas as ereções noturnas que tive na primeira noite depois do meu tratamento foram tão intensas que me acordaram. Minha barraca armada matinal foi igualmente robusta, e por várias semanas depois do tratamento, experimentei ereções de um tipo que eu não tinha desde a faculdade.

Por volta de seis semanas depois do tratamento, a coisa foi voltando para o jeito como era antes. Algo muito diferente da melhora de dois a três anos “provada medicamente” que o site da GAINSWave menciona, mas essa duração era para pessoas com DE que tinham feito as seis sessões recomendadas.

Alguns estudos mostraram a diminuição da eficácia da terapia de ondas de choque de baixa intensidade depois de seis meses. Mas as notas continuavam acima da base da função erétil em todos os casos. O maior desses estudos demonstrou uma taxa inicial de resposta de 63% em um mês, diminuindo para 43% em 12 meses, e declinando para 34% nos dois anos seguintes. “Os protocolos do estudo diferem de muitas maneiras, mas a maioria se focava em seis a 12 sessões de tratamento”, disse Trost.

Acredito que pelo menos parte da eficácia da GAINSWave – no meu caso – era placebo. Quer dizer, um placebo induzido pela memória da sessão de tratamento, que foi mais um sonho erótico recorrente que eu tinha na adolescência que procedimento médico.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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