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Entrevista

O criador de 'Breaking Bad' fala sobre sucesso, fracasso e sua nova série sobre um culto

Depois desses anos todos, Vince Gilligan ainda fica surpreendentemente feliz em discutir 'Breaking Bad'.
Foto por Gage Skidmore

Vince Gilligan tinha 28 anos quando conseguiu um trampo em Arquivo X. O formado em cinema pela NYU tinha escrito um episódio que chegou até a série do criador Chris Carter e acabou sendo filmado. Vince se tornou roteirista e produtor da série, é uma parte tão integral da equipe que brincou uma vez que venderia metanfetamina de uma van se não conseguisse outro trabalho depois de Arquivo X.

Aquela premissa – um cara legal levado a traficar drogas por desespero – inspirou Gilligan a escrever um piloto do que se tornaria uma das maiores séries de TV de todos os tempos, Breaking Bad. A aventura do professor de química com câncer no mercado de metanfetamina foi ganhando fama aos poucos, se tornando a série do dia na terceira temporada e transformando os anti-heróis Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) em ícones internacionais na quinta.

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Mês passado Vince estava na Austrália para o festival Series Mania do Australian Centre for the Moving Image. Nos encontramos com ele para ouvir lições sobre criatividade, e sobre a nova série em que ele está trabalhando sobre o líder de culto Jim Jones para a HBO.

VICE: Vince, eu queria dar os parabéns pelos 10 anos de Breaking Bad. A série começou a ser filmada em 2007, certo?
Vince Gilligan: Você está certa, faz uma década, obrigado! Começamos a filmar logo depois do meu aniversário de 40 anos, em fevereiro de 2007. Demos uma puta festa e comecei a filmar o piloto depois disso. Nossa, o tempo passa muito rápido.

Sei que você está aqui para discutir a série, mas você não está enjoado de falar sobre Breaking Bad agora?
(Rindo) Nunca. Tenho muita sorte disso ter acontecido. Quando a Sony e a AMC me deram sinal verde, sinceramente, me senti como se estivesse roubando um banco e seria parado a qualquer minuto. Eu queria que todo mundo se divertisse fazendo a série porque achei que ninguém ia assistir, que seríamos cancelados, e ainda fico surpreso que tanta gente, depois de uma década, está assistindo Breaking Bad. Ganhei na loteria!

E acho que com o streaming você está sempre achando um público novo pelo mundo, não?
Adoro o fato de que tem gente que nem nasceu ainda e vai assistir a série, e estatísticas dizem que eles ainda vão gostar. Essa ideia de que tenho um pedacinho de imortalidade significa que o resto é só alegria.

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Você disse que não aprendeu tanto fazendo Breaking Bad porque a série foi um sucesso, e que você considera fracassos como velhos amigos porque eles trazem uma lição. Qual foi sua maior lição em fracasso?
Ah, tantas lições nos fracassos. Acredito mesmo que só aprendemos com fracassos. Uma coisa que isso me ensinou é seguir meus instintos, que nem sempre estão certos, mas se você está lendo isto e tem alguma ideia criativa que te deixa acordado de madrugada, vá em frente. As pessoas podem dizer que nunca vai dar certo, mas elas não sabem mais que você. Com os anos, sempre me disseram que minhas ideias não dariam certo, e eu ainda estaria lá atrás adaptando roteiros pela sabedoria convencional de agentes e produtores e eles nunca seriam feitos. É uma linha tênue, aceite críticas construtivas, mas no final das contas, siga seus instintos.

ViVince no set com Rob Odenkirk de Better Call Saul . Imagem via Sony Pictures.

Tem várias matérias, desde na Forbes até na GQ, onde colegas produtores como Matt Weiner de Mad Men e Aaron Sorkin de The West Wing falam abertamente sobre serem seus fãs. Elogios de colegas têm um tipo diferente de validação?
Eu não sabia isso. Uau, isso é maravilhoso! O pessoal que melhor sabe o que esse trabalho envolve, que fazem o que eu faço, isso tem um sentido muito especial. Matt Weiner é um cara muito foda, ele é tipo meu irmão mais velho.

Vocês apareceram meio que na mesma época, certo?
Sim, Mad Men estava um ano na nossa frente, então enquanto eu estava fazendo Breaking Bad, era divertido assistir o Matt e sua série decolou de um ponto muito próximo.

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Quando Breaking Bad acabou e o hype do último episódio foi diminuindo, você sofreu de depressão?
Não tanto quanto achei que sofreria, e porque fui direto trabalhar em Better Call Saul. É uma expressão velha engraçada, mas você tem que montar de novo no cavalo que te derrubou, e Breaking Bad me derrubou. Sucesso, quando você não está acostumado, pode parecer como cair do cavalo, então o que fiz foi terminar Breaking Bad numa sexta e começar o dia um de Saul na segunda. Meus amigos perguntaram se eu ia tirar férias ou algo assim, porque na verdade não sou viciado em trabalho, sou meio preguiçoso, mas eu sabia que era melhor entrar nessa coisa nova ou eu acabaria petrificado, artisticamente falando.

Vince no set de Breaking Bad. Imagem via Sony Pictures.

O que Chris Carter te ensinou sobre ser um bom produtor de séries?
O homem que criou Arquivo X me ensinou muitas coisas, mas se tivesse que resumir a uma lição, seria esperar grandeza de todos os meus roteiristas. Quando entrei lá em 1995, eu era um roteirista básico, mas o Chris esperava que eu fosse um produtor mesmo que eu não tivesse esses créditos. Ele esperava que eu voasse até o set em Vancouver e supervisionasse se o episódio estava à altura do roteiro. Ele esperava que eu estivesse na reunião de supervisão da trilha sonora. Ele estava me ensinando a ser um produtor e agora faço o mesmo com meus roteiristas. Muitos produtores só querem os roteiristas na sala de roteiro, eles não têm permissão para estar no set ou na sala de edição. Fui muito mimado em Arquivo X, o Chris me mostrou que era importante envolver todo mundo em cada episódio e aspecto da série.

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Você pode falar alguma coisa sobre o projeto de Jim Jones que você está desenvolvendo para a HBO? Sou obcecada por qualquer coisa relacionada ao Templo dos Povos.
Sim, eu estava em São Francisco com Michelle McLaren, que vai dirigir, e me encontrei com Tim Reiterman que escreveu Raven, o livro que estamos adaptando. O Tim é um cara fascinante. Ele estava com o congressista Leo Ryan na Guiana e foi a última pessoa a entrevistar Jim Jones. Ele contou como foi estar no avião levando tiros quando aquelas pessoas todas, incluindo o congressista Ryan, foram assassinadas. No livro ele descreve em detalhes como seu relógio de pulso foi arrancado com um tiro e depois devolvido a ele. Quando perguntei o que tinha acontecido com aquele relógio, ele levantou a manga e mostrou ele para mim como uma cicatriz de batalha.

Mas você não tem uma sala de roteiristas nesse projeto do Jim Jones. É só você fazendo o roteiro?
Esse é o plano. A última coisa que escrevi sozinho foi o piloto de Breaking Bad, todo o resto foi com colegas roteiristas. Tenho que fazer seis episódios sozinho, e espero me lembrar como se escreve.

Antes de ir, eu queria apontar que Bob Odenkirk (Saul Goodman) daria um ótimo Jim Jones…
Você tem razão, não é uma ideia ruim. Vou anotar isso, mas o Bob também consegue interpretar qualquer coisa.

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Tradução: Marina Schnoor

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