MC Guimê. Foto por Anna Mascarenhas.
Depois de vestir a camisa de representante oficial do funk ostentação por alguns anos, MC Guimê está prestes a realizar um de seus maiores sonhos: o lançamento do seu primeiro disco, Sou Filho da Lua. E a expectativa é grande. Semana passada, no dia 22, o cara lançou um clipe em parceria com o duo Tropkillaz, a faixa “Viva La Vida”. Uma festa muito louca, contada pela perspectiva de um cachorro que, no fim das contas, é o próprio MC. O trampo foi dirigido pelo Alexandre Guedes e lançado pela Warner Music, a gravadora responsável pelo disco. E já da pra sacar uma diferença no estilo e na ousadia do cantor, que está percorrendo outros caminhos e flertando com outros estilos, como o trap e o rap — no começo do ano ele também lançou um clipe em parceria com o rapper Don Cesão.
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Quem assina a direção do disco é o Pedro Dash, da HEAD Mídia, e as faixas foram produzidas por uma galera diferente, como o Nave e o já citado Tropkillaz. Já as participações, estão dignas de álbum dos sonhos: Marcelo D2, Negra Li, Emicida, Haikaiss, MC Lon, MC Rodolfinho, entre outros. Ou seja, pelo menos na lousa tática, tem tudo pra ser um lançamento de ouro. Troquei uma ideia com o Guimê lá no QG da Warner sobre a nova fase que ele está vivendo e as intenções do disco. Se liga:
Nesses quatro anos de muito sucesso e funk ostentação, o que mudou na sua maneira de encarar a sua vida e o seu trabalho?
Eu amadureci muito, aprendi bastante com o trabalho, com o funk, com a música, com a rua, com esse lance de viver essa vida noturna. E hoje em dia eu sou um cara mais focado, acredito que se eu já era um cara de fé, hoje eu sou mais ainda. Acredito em muita coisa por ter acontecido comigo. Então tenho vontade de realizar diversas coisas que ainda não realizei e sou muito grato por tudo que aconteceu. Acredito que a vida é mágica, que a gente tem que viver, que a gente tem que ser feliz. Então esse tempo de trabalho me trouxe isso. Me trouxe essa nova visão de vida, novas perspectivas, novos sonhos. E cada vez mais vontade de viver.
Soube que você comprou uma casa maravilhosa no Cidade Jardim, pra morar com a sua noiva Lexa. Posso te perguntar qual a sensação de ser um cara tão rico?
Sinceramente eu sou um cara que vivo bem, perante a situação de toda a galera não só Brasil, mas no mundo, acho que tem gente muito mais rica. Acho que é uma parada de viver bem, agradeço muito a Deus, porque eu nem imaginava viver o que eu vivo hoje. Morar em uma casa legal, ter um carro bacana. Essas coisas que acontecem comigo é tudo através do trabalho, da música, e também de muito suor. Então agradeço muito a Deus e acredito que eu só tenho vontade de ter mais. Eu sou um cara que, se hoje eu tenho isso, eu tenho vontade de ter mais. Acredito que eu posso ter mais também, mas sou muito feliz em estar bem, hoje eu sou um cara casado, então tem todo esse lance também. To vivendo uma fase legal da vida.
Você finalmente vai lançar o seu CD. Qual a ideia principal do disco? Como foi a concepção do trabalho no geral?
Como eu demorei bastante tempo pra lançar, um ano trabalhando nele, a ideia dele é meio que passar essa minha vontade de fazer o disco. O que eu queria escrever, o que tinha guardado pra escrever, na mente, no coração. E a vontade de fazer parcerias. Então esse disco vai trazer bastante essa cara do MC Guime, esse sonho de moleque sendo realizado. Ver o encarte, ele sendo vendido nas lojas. Isso pra mim vai ser um grande sonho sendo realizado. E o trabalho foi muito bem feito, na calma. Tem aquela frase “a pressa é inimiga da perfeição”, então a gente foi bastante perfeccionista. Tivemos diversas ideias, tínhamos colocado tantas músicas, depois diminuimos a quantidade. Foi um trabalho com bastante paciência e é uma honra ter trabalhado com a galera do estúdio, aprendi muito com eles. Muito legal pra mim ver esse trabalho ter esse crescimento, [ver] onde eu tô chegando com esse disco. Com certeza é um ponto marcante na minha vida, na minha história, então acho que o disco vai ser uma parada única e vai ser uma felicidade e tanto quando for lançado. Não só pra mim, mas pra todo mundo que ta esperando também.
Foto por Anna Mascarenhas.
Achei bem foda que você buscou variar o estilo das participações especiais do disco, convidando uma galera do rap. Você gostaria de se tornar um híbrido dos dois universos? Por que você quis convidar essa galera?
Primeiro, porque eu sempre curti muito essa galera. Sempre fui muito fã de rap. Quando moleque escutava SNJ, Racionais MC’s, mais uma galera do rap. E tinha o sonho de ser rapper. Aconteceram diversas coisas e pensei, nem vai dar certo. Desisti e com uns 15 anos de idade eu voltei a acreditar na música, com o funk. Eu escutava muitos funks que tinham essas letras parecidas com as do rap, que incentivavam a sonhar, a acreditar. O funk da Baixada Santista, o funk consciente. E aí eu comecei a fazer essas letras e, graças a Deus, Ele foi muito generoso comigo, eu comecei a fazer muitos shows. Teve essa realidade que se tornou a ostentação, essa evolução como profissional, como pessoa. O lance de ter essa galera do disco foi uma ideia minha, como eu falei que era um sonho de criança fazer o disco, também era um sonho de criança meu colocar uma galera que eu gosto, que eu conheci, que eu escuto no carro. O Emicida é um cara que eu sentia um compromisso de colocar ele no meu primeiro disco a ser vendido nas lojas, por ser um grande parceiro meu, por sempre ter me fortalecido e ter sido um cara que sempre acreditou no meu trabalho. Lá trás, antes da parceria, a gente já tinha uma amizade. E cada um tem seu motivo, eu coloquei também a Claudia Leitte, que é de outro seguimento musical, mas também por essa ideia de ter conhecido ela e de saber do quanto é grandioso o trabalho dela, o público dela. Então eu queria juntar todo mundo que eu gosto, que eu tenho uma admiração e um certo vínculo. E a galera do rap naturalmente acabou tendo mais rolê, vamos dizer assim. Ontem mesmo eu tava gravando com o Haikaiss, terminei a faixa com eles ontem. A galera do rap é muito parceira, então eu trouxe todo mundo pro disco. Até posso dizer que infelizmente faltou lugar, tinha que ter trazido mais gente.
Como você acha que o público vai receber o disco? Existe um certo preconceito com o funk por parte do público do rap, algumas pessoas não aceitam muito bem essa integração ainda.
Na real eu venho pra quebrar barreiras, pra mudar o que as pessoas pensam. Graças a Deus minha carreira foi muito bem consolidada por isso. Muita gente me dizia “po, não gosto de funk, mas escuto sua letra e acho maneira” ou “eu amo rap mas escuto o Guimê”. Então essa ideia pra mim sempre foi muito maneira e como eu tive a parceria com o Emicida e outras galeras do rap, pensei que é agora, vamos fazer essa parceria mesmo e mostrar que não tem barreira, tá todo mundo junto.
Quais raps você escutava quando era criança? Não vale dizer Racionais MC’s.
Além do Racionais eu escutava muito SNJ, RZO, Trilha Sonora do Gueto, Apocalipse 16, Pregador Luo. Gosto muito da batida do rap, de escutar as letras.
Desde que você começou a bombar contando seus plaquês de cem, o funk mudou bastante e muitas caras novas apareceram, como o MC Bin Laden. Como você enxerga o funk hoje em dia?
Acho que é um novo momento do funk. Meio que parabenizo, bato palmas pra essa galera nova que veio quebrando várias barreiras e chegando longe. Então esse movimento do funk que vem vindo agora ta mantendo o funk cada vez mais em alta. Inclusive muitos hits, como “Baile de Favela”, os do Bin Laden, eu fiquei sabendo que na gringa tão estourados. É maneiro ver isso, ver o funk quebrando barreiras.
O que você tem escutado ultimamente?
Muito rap americano, tipo Gucci Mane, Drake, tô escutando direto esses dias. Acabo escutando bastante música minha, agora com o lance do disco, e uma molecada nova do funk. Escuto MC Pedrinho, Davi, Livinho, João. Uma galera que fazia sucesso antes também, como Nego Blue, e eu direto também. Gosto de escutar as músicas que eu fazia lá trás, entre outros estilos musicais.
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