Abandonar produtinhos de beleza me deu a pele dos sonhos

Hábitos são difíceis de mudar, especialmente aqueles que custam caro e não te dão nada em troca. Por exemplo: álcool, cigarro e a maioria dos produtos lançados pelas empresas de produtos para pele.

Nos últimos dez anos, gastei uma quantia vergonhosa em séruns, tonalizantes, produtos de limpeza, hidratantes, máscaras, esfoliantes, óleos, sprays e tudo mais. Qualquer coisa que prometesse me deixar com uma carinha de querubim, eu comprava. No auge disso eu tinha uma impressionante rotina de seis passos diária — e me sentia estranhamente orgulhosa de ter atingido tal complexidade. Acontece que nunca achei a rotina exata: eu estava sempre prestes a encontrar a combinação definitiva de produtos que funcionavam para mim, para finalmente ter uma pele limpa e viçosa.

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Depois de testar quase uma centena de produtos diferentes, descobri que minha pele nunca pareceu mais irritada, manchada, sem brilho, seca, irregular e oleosa. Então, na esperança de começar do zero, cortei a maioria dos produtos, toda a zona de “passos de cuidado da pele”, e fiquei com o mínimo. Eu queria apagar tudo que me ensinaram sobre cuidado de pele.

Me limitei a fazer uma limpeza ocasional, usar um produto simples de esfoliação e, se estava com muita vontade, uma máscara facial. O resultado: para minha surpresa, minha pele finalmente parecia limpa e saudável. Não estou me gabando, só chocada com o conhecimento que, aparentemente, minha pele e minha carteira estavam sob ataque, enquanto a indústria de produtos de beleza ria da minha cara no caminho pro banco.

A autora quando estava obcecada por rotinas de cuidado de pele.

Isso, obviamente, não foi uma revelação: você sempre vê matérias sobre o “golpe dos produtos de beleza”. Mas matérias pró-cuidados de pele também são publicadas regularmente em resposta. Então qual é a verdade?

O fundador da Elite Aesthetics, Dr. Shrin Lakhani, que trabalha com clientes em rotinas de cuidado de pele, disse: “Nos fizeram acreditar que o ritual de limpar, tonificar e hidratar é tão importante quanto escovar os dentes, e ainda assim, contrário à crença comum, só 15% das pessoas precisam mesmo de hidratante. São as pessoas que têm a pele geneticamente seca, levando a condições como eczemas e psoríase.

“O resto das pessoas têm peles normais com poros grandes e uma zona T oleosa, para quem um creme hidratante não traz nenhum benefício para a pele. Em vez disso, usar hidratante provavelmente vai perpetuar o problema, levando a acúmulo de células mortas, secura, acne e sensibilidade. Usar um hidratante por três semanas reverte a hidratação natural da sua pele e acaba com ela se tornando preguiçosa e dependente de hidratação externa.”

Essencialmente, se você não precisa realmente de hidratante, todos os cremes só ficam na superfície da sua pele, agindo como uma barreira. Em vez de proporcionar hidratação profunda, seus cremes estão sufocando sua pele e criando excesso de oleosidade.

“Hidratação natural tem que vir de dentro do corpo e não pode ser revertida aplicando hidratante na superfície da pele”, disse o Dr. Lakhani. “O que as pessoas realmente precisam desde cedo é um bom produto de limpeza, esfoliante e filtro solar. Uma das primeiras coisas que faço com meus pacientes é quebrar sua dependência e fazê-los começar a usar produtos que vão acordar as células da pele e reiniciar a produção de hidratação interna.”

Claro, fatos básicos nem sempre sobressaem diante de grandes orçamentos de marketing: o Dr. Lakhani acrescenta que produtos de baixa qualidade de muitos revendedores, que prometem uma cura para tudo, só deixam uma pele saudável mais sensível.

Melissa Kimbell, blogueira de beleza e fundadora da Awake Organics, concorda: “Se você faz limpeza com detergentes, esfolia demais, usa hidratantes sintéticos, ou tonalizantes com base de álcool, você pode prejudicar o equilíbrio natural da sua pele”, ela explica. “Isso pode levar a produção de oleosidade em excesso, pele seca e até condições como eczema. Isso também pode começar um círculo vicioso de sentir que você precisa aplicar mais produtos para contra-atacar os efeitos.”

Máscara facial cushyspa.com via Flickr.

De todos os produtos que experimentei, as máscaras de papel — que você encontra em qualquer farmácia, sem cremes ou óleos “complementares” — eram as minhas favoritas, e a única coisa que realmente me dava resultados instantâneos.

Com a maioria dos outros produtos — baratos ou caros — sempre tinha essa lei tácita de fidelidade: que você tinha que investir em todos os produtos da linha antes que o produto inicial fizesse efeito. No dia a dia, quer eu limpasse a pele duas vezes, usasse tonalizantes simples, cremes para os olhos e hidratante orgânico, ou fizesse minha rotina de seis passos, eu não via muita diferença — eu ainda acabava com uma pele oleosa e cheia de marcas. Num dia ruim, pequenos inchaços e pontos parecidos com cistos apareciam, mesmo quando eu tinha seguido o manual de cuidados com a pele.

Lynne Baker, fundadora do Calla Salon em Londres, disse: “O maior problema que vejo como esteticista é diagnóstico errado. Pouca gente sabe a diferença entre pele seca e desidratada, e quase sem exceção vão tratar errado sua pele, especialmente quando ela é oleosa, acreditando que mais é sempre mais, em vez de que menos é mais. Vejo sempre peles que secaram, ficaram sensíveis pelo uso de produtos pesados, ou por usar produto demais. Mais que tudo, por usar produtos totalmente errados para seu tipo de pele”.

Claro, é fácil ver como as pessoas acabam presas num círculo: na nossa era de redes sociais, uma máscara é um jeito simples de dizer ao mundo “Eu cuido bem da minha pele”, e há muita pressão para seguir essas rotinas. Eu me sentia do mesmo jeito — cuidado de pele me parecia inescapável.

Mas quando mudei minha rotina para só lavar o rosto, não só eu tinha mais tempo livre e dinheiro no bolso, minha pele pôde fazer sua hidratação naturalmente. Meus hormônios ainda trazem algumas manchas, e quando estou sofrendo com uma ressaca particularmente escrota minha pele fica desidratada, mas no geral, com a melhor aparência que já teve.

A principal lição que aprendi com isso tudo foi que tem pouca coisa que uma pessoa pode fazer para ter uma pele impecável, se estiver preocupada com isso em primeiro lugar. Depois de passar pelos pontos mais básicos — evitar o sol, usar protetor, tirar a maquiagem — o Dr. Lakhani disse: “Esfoliar pelo menos duas vezes por semana é vital para uma pele perfeita. Tendemos a pular essa parte ou exagerar. Isso mantém os poros minimizados, afasta as linhas finas e faz ressurgir a pele perfeita.

“Retinol [Vitamina A] é essencial para uma pele saudável. Isso acorda as células e as encoraja a produzir a hidratação natural de dentro, acelera a exfoliação, estimula a produção de colágeno e encoraja a circulação para ajudar a se livrar das toxinas e trazer nutrientes essenciais para a pele.”

Lynne Baker me lembrou de prestar atenção no meu consumo de açúcar. “Vejo muitas peles sofrendo de glicação [onde as moléculas de açúcar se ligam a outras moléculas, por exemplo proteínas e gordura, causando envelhecimento] como resultado de alto consumo de açúcar”, ela disse. “Evite o álcool também. Uma fonte de açúcares escondidos, beber leva ao rompimento de vasos e pode causar rosácea [vermelhidão da pele].”

Como eu suspeitava, a grande conclusão é que menos é mais. Como Melissa Kimbell explicou: “Acho que o melhor é manter sua rotina simples e natural, e buscar qualidade em vez de quantidade. Apesar de tudo que o Instagram diz, não precisamos de uma rotina de cuidados de pele de 12 passos”.

Entendo que uma rotina simples pode não funcionar para todo mundo, mas, pessoalmente, descobri que definitivamente podemos dizer algo sobre esquecer os cremes. Todas as peles são diferentes, claro, e mesmo que alguns produtos prescritos por profissionais possam ser uma benção para quem sofre com problemas de pele como acne, eczema e psoríase, pra maioria, uma rotina complexa de cuidados com a pele simplesmente não é necessária.

Além disso, se cortar seus gastos com esfoliante você vai achar outras coisas divertidas com que torrar seu salário.

Matéria originalmente publicada pela VICE Reino Unido.
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