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Tecnologia

Agora Vai Rolar Internet em Cuba

O exército norte-americano anunciou no ano passado que, em 2015, construiria um link de cabo entre a Flórida e a Baía de Guantá​namo, com planos de expansão para o restante de Cuba caso as tensões políticas melhorassem.

A retomada de relações diplomáticas com Cuba significa que as pessoas da pequena ilha do Caribe possivelmente terão acesso à internet de forma comparável ao resto do mundo, finalmente.

Hoje, o Presidente Obama e o Presidente de Cuba, Raul Castro, anunciaram ​que os dois países, que não mantinham relações formais desde o começo dos anos 60, passarão a normalizar estas relações. Apesar de que o fim do longevo embargo comercial dos EUA exigir ações por parte do Congresso, Obama afirmou que empregará ordens executivas para diminuir restrições à viagens e atividades bancárias. Os Estados Unidos também instalarão uma embaixada em Havana.

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O que isso tudo tem a ver com a internet lá? Bem, o sistema de​ cabos submarino que conecta boa parte do ​mundo por meio de fibra ótica basicamente desviou de Cuba. Ao invés disso, o país conta com tecnologia lenta e obsoleta de satélites para dar ao seu povo acesso (limitado e censurado) à internet. Obama disse especificamente que permitirá a empresas de telecomunicação norte-americanas a trabalharem em Cuba.

O serviço de fibra ótica em Cuba é péssimo e limitado. Crédito: SubmarineCableMap.com

"Eu acredito no fluxo livre de informações. Infelizmente, nossas sanções à Cuba negaram aos seus cidadãos acesso à tecnologia que tem empoderado indivíduos ao redor do mundo, então autorizei novas conexões de telecomunicações entre os EUA e Cuba", disse Ob​ama. "As empresas poderão vender produtos que permitirão aos cubanos se comunicarem com os Estados Unidos e outros países".

Isso é importante. O acesso à internet no país é algo abissal. Somente 5% dos cubanos tem acesso à rede, e pouquíssimos tinham internet em casa até este ano, quando a estatal Empresa de Telecomunicaciones de Cuba passou a oferecer conexões muito lentas e limitadas para alguns cidadãos. Antes disso, a internet só era disponibilizada por meio de 118 quiosques, onde pagava-se $4,50 por hora de uso (uma quantia astronômica no país).

HÁ UM IMPERATIVO ECONÔMICO PARA QUE CUBA CONECTE-SE

Além destes quiosques, resta ​a conexão discada.

De qualquer forma, a questão da internet em Cuba tem motivos tecnológicos e políticos. A tecnologia é obsoleta, e até há pouco, não estava claro se o governo realmente queria que seu povo tivesse acesso, de qualquer forma.

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"Há um imperativo econômico para que Cuba conecte-se", disse Julia Sweig, diretora de Estudos Latino-Americanos do Conselho de Relações Internacionais. "Penso já se tratar de uma questão política, e caso eles recebam o capital para investir de provedores norte-americanos, então essa porta se abriu lá e aqui. É algo que tem sido discutido no mais alto nível entre os dois presidentes".

Sweig está certa – o acesso à internet estava aos poucos melhorando em Cuba sem a intervenção norte-americana. No ano passado, o único​ link de fibra de Cuba – com a Venezuela – começou a transmitir dados. E o país declarou publicamente que quer levar a internet às casas de m​ais cidadãos. Mas é preciso mais.

Letreiro em uma antiga sala de aula em Cuba. Crédito: Paul K​eller/Flickr

"Nos últimos dois anos, alguns pequenos passos rumo a um maior acesso de internet no país foram dados, mas este acesso ainda é limitado por uma série de razões, incluindo o preço do serviço e tecnologia obsoleta", disse-me por email Doug Madory, analista de internet especializado em Cuba da Dyn Research. "No geral, [o anúncio de Obama] é um avanço muito positivo".

A questão tecnológica pode e deve ser resolvida logo, porém. O exército norte-americano anunciou no ano passado que, em 2015, construiria um link de cabo entre a Flórida e a Baía de Guantá​namo, com planos de expansão para o restante de Cuba caso as tensões políticas melhorassem.

Aparentemente as pazes estão prestes a serem feitas (supostamente o diálogo entre Cuba e Estados Unidos tem acontecido secretamente há 18 meses), então é razoável esperar que esse cabo eventualmente leve adiante parte do tráfego de internet cubano.

"Este cabo teria a capacidade de eventualmente levar adiante uma porção significativa do tráfego de toda Cuba assim que o embargo for resolvido", disse Madory.

A questão que permanece, então, é a qual internet os cubanos terão acesso. No momento, existe censura. O regime de Castro notoriamente tentou limitar o acesso de seus residentes ao mundo exterior. Com tecnologia de má qualidade, não houve motivo para se preocupar com informações entrando no país pela internet. Mas em breve isso tudo poderá mudar e será um bom teste para determinar se o país está comprometido a mudar.

"Acho que o problema tem sido mais de acesso do que censura", disse Sweig. "Talvez encontremos com mais sites bloqueados pela frente, mas só saberemos quando acontecer".

Tradução: Thiago "Índio" Silva