FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Arqueólogos Descobriram Ferramentas de Pedra de 3,3 Milhões de Anos Atrás

Os artefatos antecedem em 700 mil anos o que acreditávamos ser as ferramentas mais antigas.
Uma das ferramentas. Crédito: MPK-WTAP.

Cientistas descobriram em um sítio arqueológico perto do lago Turkana, no Quênia, ferramentas de pedra de 3,3 milhões de anos atrás. Os artefatos antecedem em 700 mil anos o que acreditávamos ser as ferramentas mais antigas. É uma margem muito grande e que, segundo os pesquisadores, deve mudar nossa compreensão de como a cultura material surgiu nas primeiras comunidades de hominídeos.

Harmand com uma das ferramentas de LOM3. Crédito: MPK-WTAP.

As ferramentas "esclarecem um período inesperado e até então desconhecido do comportamento dos hominídeos", afirmou a arqueóloga Sonia Harmand, autora principal do artigo. Ela acrescentou que o achado "pode nos contar muito sobre o desenvolvimento cognitivo de nossos ancestrais, que não conseguíamos compreender somente por meio dos fósseis".

Publicidade

Harmand e seu colega Jason Lewis, coautor do artigo, chegou ao local por acaso em 9 de julho de 2011. A dupla estava sondando as colinas ao redor do lago Turkana, que é hoje maior lago desértico do mundo e no passado (estamos falando de milhões e milhões de anos) fora uma região de bosques.

Eles pegaram uma entrada errada em algum ponto e, quando tentavam voltar ao caminho principal, depararam com esse sítio arqueológico valioso, conhecido hoje como Lomekwi (LOM3). De acordo com Harmand e Lewis, no momento em que chegaram ao sítio, eles sentiam "que havia algo especial nesse local em particular".

A escavação meticulosa nos anos seguintes validou a intuição da dupla. Desde então, 149 ferramentas foram recuperadas do sítio. Os artefatos sugerem que esses hominídeos foram pioneiros nas técnicas de talha lítica envolvidas na modelagem artificial de pedras para tarefas específicas. Os resquícios desse comportamento complexo encontrados em LOM3 incluem bigornas de pedra, percutores e núcleos usados para fazer pontas de corte afiadas.

Sammy Lokordi, um caçador de fósseis e artefatos, conduz ao caminho até uma coleção de ferramentas de 3,3 milhões de anos. Crédito: West Turkana Archaeological Project.

Harmand reconheceu que essas ferramentas primitivas poderiam representar um novo recorde para as ferramentas mais antigas do mundo, mas foi só quando se juntou à equipe de especialistas que sua conclusão foi confirmada. Dentre esses especialistas que contribuíram para o estudo está o geólogo Chris Lepre, que determinou a data dos artefatos usando um magnetômetro. "O sítio todo é surpreendente, ele reescreve a história em muitos aspectos que pensávamos ser verdade", afirmou Lepre em uma declaração.

Publicidade

O contexto ecológico abrangente da comunidade que as moldou deve render uma série de novas teorias sobre o comportamento de nossos ancestrais. O uso de ferramentas está, com frequência, correlacionado às mudanças climáticas na África do Plioceno, que teria forçado as espécies de hominídeos a explorar os campos abertos em vez de se apegar a áreas arborizadas que estavam adaptadas. Isso é conhecido como a Teoria da Savana que, como muitas hipóteses relacionadas à biologia evolucionária humana, é controversa.

O estudo de Harmand sugere que a invenção de ferramentas não está relacionada de forma inerente ao ambiente de savana. Os hominídeos ousados que criaram esses itens viviam em um tipo de ambiente arborizado e devem ter feito uso de suas ferramentas para propósitos diferentes do que as espécies de campos abertos que emergiram 700 mil anos depois.

O sítio LOM3. Imagem: MPK-WTAP.

É provável que eles estivessem somente quebrando tubérculos e frutos secos com suas pedras, mas talvez eles estivessem usando as ferramentas para extrair larvas de madeira apodrecida e árvores mortas. O fato é que será necessário pesquisar muito para compreender melhor os detalhes.

"Quando você se dá conta dessas coisas, você não resolve nada, simplesmente levanta novas perguntas. Fico empolgado, e aí percebo que há muito mais trabalho pela frente", afirma Lepre, resumindo sua importante, empolgante e exaustiva atuação.

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri