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cenas

Sdds Barroselas

Estive em transe até agora.

#sdds Tentar ser vegetariana em Barcelos é catar os picles das moelas. O último dia é aquele em que dás tudo por tudo, o dia de colar o ácido. No café da piscina (acho que foi onde passei a maior parte do meu tempo) encontrámos alguns panfletos informativos sobre drogas duras e sexo seguro.  
Eu gostei deste. Claro que umas horas depois o panfleto do speed já tinha sido utilizado para cozer e cheirar speed, e umas das folhas transformada num tubinho. Havia um gajo de uma banda que queria mesmo muito arranjar speed e sempre que alguém lhe arranjava um bocadinho ele cheirava aquilo e lambia sofregamente o papel.   O concerto da noite era, de acordo com o Bruno (o rapaz da foto das moelas), Anaal Nathrakh, do qual eu aguentei talvez dois minutos antes de ter de fugir, contendo o vómito provocado pela intensidade dos graves a bombar dentro do meu peito. Foi hora de fugir para o café da piscina e conviver à mesa com os amigos disponíveis, aos quais agradeço desde já pela paciência para as minhas verborreias. O Tojó e o Bruno, com um ar triunfante e satisfeito. Acho que foi um bom concerto para quem conseguiu ultrapassar o mau-estar fisico. Tojó \m/ A partir daí o resto da noite aconteceu entre o café da piscina, o refeitório no backstage e o contentor dos Black Miasma onde girava uma miríade de substâncias potenciadoras de festa, trocavam-se garrafas, copos, saquinhos e sorrisos exagerados. São circunstâncias sob as quais (ainda que difícil) é muito importante saber dizer “não”. Eis se não quando: sangue nas mãos do Bruno. O alarme. De onde vinha o sangue? Alguém pergunta “are you a woman?” e eu começo instantâneamente a fazer contas de cabeça para saber se não havia de facto alguma possíbilidade daquele sangue ter origem algures no meu sistema reprodutor — não, o Bruno tinha cortado o dedo e não parava de sangrar (não me perguntem como é que eu achava que havia sangue da minha vagina no dedo do Bruno, provavelmente a minha cabeça conseguiu arranjar um cenário onde entre as 10 camadas de roupa que estava a usar isso seria remotamente possível). Mantendo o sangue frio, um gajo grande e cabeludo, todo ele sorrisos, agarra um pedaço de guardanapo e fita adesiva preta e faz o curativo mais heavy metal que eu alguma vez vi. A melhor descrição que posso fazer da aparência desta pessoa é: imaginem o Cheshire cat mas versão gajo grande e cabeludo. Ao fim de um espaço de tempo impossível de definir, aquele contentor tornou-se claustrófobico e o Bruno tinha de ir fazer xixi, aproveitámos a deixa para abandonar a embarcação, não sem ser vitima de um puxão no casaco e um pedido para ficarmos. Aparentemente o nosso humor cósmico-negro estava a fazer furor no contentor. De volta ao café da piscina, torna-se imperativo manter uma mesa “da malta”. Uma espécie de jogo das cadeiras à medida que o fim se aproximava e o café se torna o local mais apetecível. Entre conversas dignas do consultório de um psicólogo, idiotices pegadas e uma feijoada que ainda hoje não consigo imaginar de onde veio, e tivemos todos de fazer um grande esforço para conter os sons de nojo causados pela feijoada manital de forma a não estragar a experiência do senhor estrangeiro que a estava a comer. A música pára. Uma onda de pânico abate-se sobre mim. Acabou? Mas não tinha acabado, a música passou a existir no café da piscina. Algumas vozes de protesto erguiam-se contra a continuidade do metal. “Porque não ouvir algo mais agradável?” — Ninguém quis saber. Chega a vez do rei de Barroselas passar som: o Kikas com ritmos africanos animados. Festejei este acontecimento com uma sessão de dança em cima de uma mesa. A mesa era instável e tive dedescer e continuar a minha dança no chão com um espanhol estranho e a dança teve de acabar quando o movimento frenético teve inevitáveis consequências físicas dos duros dias que passaram: vómitos violentos afastaram-me da pista e fui remetida de volta para os banquinhos. À medida que os amigos começam a abandonar o local, torna-se mais urgente descobrir uma forma de regressar ao Porto. Não tínhamos isso planeado porque YOLO e é sempre divertido tentar resolver coisas importantes em alucinogénicos variados (sei que há muita gente que questiona a lógica por trás de alucinogenicos num ambiente como o de Barroselas, mas eu tenho uma teoria que um dia partilho convosco). As nossas malas estavam guardadas no contentor transparente, decidimos que se calhar era boa ideia ir indo buscar. Quem é que tem a chave? Onde estão as pessoas responsáveis por essas coisas? Umas voltas e uns telefonemas mais tarde e a aparece a Nini (uma amiga da organização). De malas às costas, começamos a caminhar em direcção à estrada. “Olha lá, Nini, arranja-me aí mais uns steels”, era a última frase que esperava ouvir naquela altura mas o Bruno continua a defender a sua lógica de que era relevante pedir mais steels quando estavamos a tentar ir embora. Também tivemos de o dissuadir de voltar para o bar da piscina. Acenámos furiosamente ao primeiro táxi que apareceu, tentamos negociar sem sucesso uma viagem para o Porto por 40 euros. Acabámos por ir de comboio e foi uma viagem do caralho.  
Pode não parecer mas estava a adorar a minha vida neste momento. De volta à cidade invicta, mais uma viagem de táxi, gatos, tirar a roupa, lavar a cara e fazer uma máscara facial de hortelã. Depois foi só dormir 70 por cento dos dois dias seguintes e passar uma semana inteira a dormir entre 10 e 20 horas por noite (percebem a demora do artigo agora?), a ser mal-disposta e insuportável (desculpem lá peeps) e dar tempo ao tempo. É isto. Cumprimentos e saudinha para todos.