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Música

Discos: Rework

As batidas e os grooves não são assim tão bons.

You Play
Visionquest
2014 Já foram mais que muitas as vezes que a Europa central nos provou ser um terreno fértil para as sonoridades electrónicas dance/house/techno/whatever. Actuando quase como uma gigantesca Silicon Valley de empreendedores de beats, é neste contexto que surge o trio baptizado de Rework, formado pelo duo húngaro de Daniel Varga e Michael Kuebler, ao qual se veio a juntar Sascha Hedgehog nas vozes, e que até já anda nisto há perto de 14 anos. Entre EP's e outros lançamentos, trazem-nos agora You Play, terceiro longa-duração do grupo. Não é difícil entender o que move os Rework em termos sonoros: com uma espessa camada de batidas electrónicas minimalistas em pano de fundo, temperam o seu house dinâmico com diversas nuances que nos façam tirar o pé do chão — sejam elas recortes de sintetizadores ácidos a disparar em todas as direcções, seja pelo uso subtil da voz feminina que integra o grupo. Tudo isto não deixa de ser um recurso utilizado apenas em quantidades mínimas essenciais — nunca inundando os loops que sustentam as canções de pormenores e detalhes supérfluos. Como resultado temos então malhas que tanto podem ser incrivelmente delirantes (no bom sentido, obviamente), como mais inconsequentes e monótonas. No passado, os Rework provaram-nos que conseguem corresponder à primeira descrição. Basta ouvir por exemplo "You're So Just Just", presente no seu primeiro disco, para nos apercebermos que tem tudo o que caracteriza um malhão do house minimalista. Infelizmente, em You Play, falta quase tudo o que se pretende para que este não seja uma mera colectânea de batidas para ouvir já todo cego às quatro da manhã enquanto os strobes nos bombardeiam a córnea. Para um disco que vive tão intensamente da qualidade dos seus beats, estes revelam-se algo insípidos na maior parte do tempo, deixando-se levar num mero cruise control do mesmo loop durante seis ou sete minutos sem que exista aquela garra — vulgo punch — para nos deixar apanhados. Os detalhes de cada faixa parecem mais uma obrigação do que uma genuína tentativa de agarrar o nosso interesse, nunca sendo realmente interessantes na maior parte do disco. Sim, existem ritmos frenéticos e dançantes, mas muitas das vezes estes extinguem-se lentamente na sua duração face à incapacidade em manter a variedade acesa. Nas (raras) vezes em que encontramos um momento mais diverso, é difícil identificar se estamos perante uma malha genuinamente boa ou se apenas essa reacção é um fruto do oásis com que nos deparamos no aborrecimento que a rodeia. É, aliás, mesmo a fechar o disco que encontramos a maior ousadia do mesmo, com uma quase-balada de synthpop decente que pouco se relaciona com o que ouvimos minutos antes. No total, são poucas as ideias que se justificam como valendo a pena: apenas um par de canções nos apresentam argumentos para se destacarem do rebanho, já que de resto as batidas e os grooves não são assim tão boas para nos cativar a plena atenção durante a hora e dez minutos que compõe o disco.