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Entretenimento

Censuraram-me por ensinar como se utiliza um preservativo

Há uns meses, pedimos a Nayara Malnero que nos falasse sobre livros pornográficos e outros assuntos menos literários.

Há uns meses, pedimos a NayaraMalnero que nos falasse sobre livros pornográficos e outros assuntos menos literários, e descobrimos o que tem feito pela Internet nos últimos três anos: vídeos didácticos sobre educação sexual e "tutoriais" muito úteis e práticos. Um trabalho de divulgação, que recentemente se deparou com o que ela qualifica como censura por parte do Youtube.

Um vídeo em que explica como utilizar um preservativo foi qualificado como inapto para menores de 18 anos, quando parece que abaixo desta idade pode estar parte do seu público alvo. Isto foi em 2011. Dois anos depois, decidiu voltar à carga, e desta vez estava acompanhada por uma banana sorridente, que lhe servia como substituto do pénis de látex. O resultado foi semelhante, mesmo que os dois vídeos sejam um autêntico sucesso, com quase 10 milhões de visitas entre ambos.

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Agora decidiu fazer frente a estas restricções através de uma petição em Change.org. Nayara explica-nos a sua luta.

Vice: Conta-nos, como vês isto da censura dos vídeos?

Nayara Malnero: A primeira censura foi bastante insólita. Um dia acordei e vi que o meu e-mail estava completamente atafulhado de mensagens de associações argentinas. Perguntavam-me se eu era a pessoa que aparecia nos jornais, e mostraram-me todo o seu apoio. O director de uma escola foi suspenso durante 90 dias por ter projectado o meu vídeo: "Como colocar um preservativo". A educação sexual era permitida há apenas três meses, e nessa turma, em concreto, três miúdas de 14 anos estavam grávidas, sendo que a comunidade eclesiástica da zona exercia uma grande influência sobre esta comunidade.

Que explicações te deram?

O Youtube entrou em contacto comigo para dizer-me que, embora o vídeo cumprisse todas as condições legais, tinha recebido demasiadas denúncias e por isso eles alegavam que se tratava de um "semi nu público", por causa do pénis de plástico que utilizava.

Explica-nos a diferença entre ambos. Porque é que um foi censurado e o outro não?

No segundo vídeo que fiz sobre como colocar um preservativo tentei precisamente dar a volta a essa restrição, e utilizar uma banana engraçada com uma carinha sorridente. Neste caso não recebi qualquer notificação, e quando percebi que as visitas tinham diminuído entendi que estava novamente censurado. Só os adultos podiam vê-lo.

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Achas que há algo realmente censurável nos teus vídeos? Arrependes-te?

Pelo contrário, tal como informou o Ministério da Educação argentino, o meu vídeo cumpre os mínimos educativos exigidos. Cumpre uma função social e vela pelo direito universal da educação sexual. É o Youtube quem está a violar os direitos fundamentais, neste caso. Gravaria uns mil vídeos mais, exactamente da mesma forma. Em todo o caso, o meu canal já conta com 150 vídeos, 42.000 subscriptores e 17 milhões de visitas. Porque será?

E o que é que fizeste?

Pedi explicações, queixei-me na minha página, voltei a gravar um vídeo muito mais profissional, mas nada mudou. Foi assim até à minha última actuação, uma campanha na Orange.org que já conta com 42.000 assinaturas. O apoio que estou a receber é enorme. Vocês também podem contribuir com a vossa parte, sem nenhum compromisso em Change.org.

E a reacção entre a comunidade de sexólogos…

A reacção da comunidade sexóloga tem sido a mesma que a minha. Sentimo-nos ofendidos por este tipo de restrições à nossa profissão. Estou bastante grata pelo grande apoio e difusão por parte dos meus companheiros. Eu faria o mesmo para defendê-los, devemos estar unidos neste objectivo.

Tens bastantes seguidores, o que te disseram eles?

Os meus seguidores mostraram o seu desagrado. Apoiaram a minha petição, partilhando nas redes sociais… Basta ver os comentários que deixaram no vídeo em que explico a minha petição em Change.org.

Ainda existem tabus sobre o tema da educação sexual dos adolescentes?

Como pode não haver tabus e desinformação se a informação rigorosa e científica é censurada? Como podem continuar a assumir riscos sexuais se se pensa que informar é o mesmo que incentivar? Estamos perante um verdadeiro problema. Como explico sempre: "se ninguém me disser que ao atravessar a rua um carro pode atropelar-me vou continuar a seguir os mesmos passos, mas as probabilidades de magoar-me são muito maiores".