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Desporto

Fui ver a bola à Casa do Benfica do Algueirão-Mem Martins

Domingo, quatro da tarde, hora clássica do antigamente para jogos da bola.

Fotografia de Sérgio Felizardo.

Domingo, quatro da tarde, hora clássica do antigamente para jogos da bola, para o "passeio dos tristes" - cujo roteiro varia consoante a zona do país - e para se chegar a meio daqueles almoços de família que só acabam quando começa a cheirar a segunda-feira e sacar da garrafa do facilitador de digestão que estiver mais à mão. "Estranhos são os desígnios do Senhor", dizem os crentes e não posso senão concordar quando dou por mim num autêntico bundle dominical imbatível.

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Visita à família da cara-metade no Algueirão - Mem Martins, com visionamento do jogo do Glorioso contra o Boavista antecedido de repasto avantajado de Pernil Assado no Forno, tudo na Casa do Benfica local. Bingo!

Fotografia de Sérgio Felizardo.

Das tascas decoradas com cachecóis, preços de amigo para excursões à Catedral e os ocasionais torneios de sueca e chinquilho, as cerca de 200 casas do clube espalhadas por Portugal e pelo Mundo passaram no consulado de Luís Filipe Vieira a ser uma espécie de franchise de mística e de orgulho benfiquista. Uniformizou-se o design interior, criaram-se menus "à campeão", espaços de venda de merchandising, institucionalizou-se a presença das casas no Estádio e passou a aproveitar-se a inauguração (ou reinauguração) de cada uma como palco privilegiado para as comunicações oficiais à nação.

Fotografia de Sérgio Felizardo.

Foi no Algueirão - Mem Martins, por exemplo, que o presidente Vieira falou pela primeira vez em público sobre as então recentes patacoadas do seu homólogo lagarto, numa concorrida e mediática inauguração no início de Outubro, lançando o célebre e histórico apelo: "Ignorem o ruído, que não beneficia ninguém. Falemos de nós e preocupemo-nos apenas com o Benfica. Sei que como presidente tenho a obrigação de defender de forma intransigente o bom nome do clube, e deixo-vos a garantia de que assim farei, mas nos lugares próprios". Um momento que Gandhi não desdenharia e que só pode ter sido inspirado pelo enfardamento compulsivo do extraordinário Pernil Assado no Forno, estrela da companhia na ementa do Restaurante/Sala de Troféus da colectividade algueirense (não faço ideia se se diz algueirense e garanto que me fartei de procurar).

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Fotografia de Sérgio Felizardo.

Carne a desfazer-se e a soltar-se do osso com o simples encosto do garfo, pele estaladiça e aquele molho denso, caseiro, carregado de sabor…tudo regado a tinto da casa. Letal de tão bom e obviamente capaz de motivar discursos moderados e de apelo à calma. Eu próprio fui incapaz de durante o jogo soltar qualquer impropério contra a ineficácia ofensiva do Jiménez e a falta de profundidade que Sílvio traz à equipa quando comparado com o lesionado jovem Nélson Semedo. Ao contrário da maioria dos cinquenta e tal convivas presentes, que certamente optaram pelo Bacalhau, e até ao golo inaugural do mágico puto Guedes não deram descanso a Vitória e seus púpilos. Faz parte. E pelo menos não há lagartos ou tripeiros a moer o juízo a um gajo. Tudo vermelho a perder de vista. E já se sabe, depois do golo voltámos a ser os maiores, os bicampeões e agora ninguém nos segura, e toca a cascar nos "lagartixos que vandalizaram as paredes da Casa poucos dias depois da abertura", a enaltecer a quantidade muito superior de benfiquistas que há na freguesia (diz que é a maior freguesia da Europa em termos de habitantes" e a garantir que "o Jesus nunca me enganou e o que ele queria era dinheiro".

Fotografia de Sérgio Felizardo.

Depois de há largos anos a minha primeira visita a uma Casa do Benfica ter sido nada menos que épica - meteu Vale e Azevedo, Eusébio e desfile presidencial pelas ruas de Penamacor -, esta entra para os anais (salvo seja) por motivos bem mais prosaicos e simpáticos: excelente comida, pinga da boa, mística a escorrer das paredes e a possibilidade sempre prazeirosa de aliar a tudo isto um passeio turístico suburbano ao concelho de Sintra.

(À quinta há Cozido no Pão. Deve ser pouco bom deve!)

A Casa do Benfica, nº 223 em Algueirão-Mem Martins, é uma Associação Cultural, Desportiva e Recreativa, sem fins lucrativos, com sede na Rua Serra de Baixo, nº26-A, Algueirão, 2725-143 Mem-Martins, Freguesia de Algueirão Mem-Martins, Concelho de Sintra. Foi fundada em 28 de Fevereiro de 2008, e durará por tempo indeterminado. Bem haja.