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Implosão do Aleixo: "É uma desgraça, mas até foi bonito"

Ainda sobram quatro torres. Mais quatro mega-eventos.

O estereótipo do mirone é dos mais populares na caracterização dos portugueses. Sempre que há um acidente ou assalto pode-se apostar que encontramos sempre um português a observar e a comentar. Já a mediática implosão de uma torre de um bairro social acaba por ser o mega evento dos mirones, uma espécie de Natal para quem não tem nada que fazer. Mas, e verdade seja dita, há algumas diferenças significativas. Demolições controladas são um acontecimento raro — só houve outra no Porto (no início dos 90) — e, ao contrário dos acidentes ou assaltos, isto tem hora marcada. E é também uma daquelas coisas que vemos muito em filmes ou nos aniversários do 11 de Setembro, mas que raramente temos oportunidade de assistir ao vivo. Foi assim com a Torre 5 do Aleixo, a primeira das cinco do bairro a ser implodida para dar lugar a prédios de luxo. Chegar até um bom local para ver a implosão foi um pouco como ir para um concerto sem se saber onde fica o palco. Não conhecia muito bem aquela zona, por isso limitei-me a seguir a multidão que se ia concentrando para assistir ao espectáculo. Havia de tudo: ex-moradores chorosos, jornalistas, turistas estrangeiros e pessoal que, como eu, não tinha nada melhor parar fazer. Discutia-se para que servia a água que era lançada ao ar, que tipo de explosivos eram usados e que raio era aquele aviãozinho de brincar que estava por ali a filmar. Como qualquer evento português que se preze, tudo começou com um quarto de hora de atraso em relação à hora prevista. A implosão em si durou cinco segundos e, poucos minutos depois, já a maioria da multidão se tinha dispersado. No fim, alguns continuavam a chorar, outros suspiravam de alívio pelo princípio do fim do maior centro comercial de droga do país. Outros ainda estavam divididos: achavam que era trágico para as famílias que sempre ali viveram serem expulsas, mas, ao mesmo tempo, não podiam esquecer que tinham assistido ao espectáculo das suas vidas. “Foi uma desgraça, mas foi bonito”, dizia alguém no autocarro de regresso, numa conversa entre amigos. Ainda sobram quatro torres para implodir. Ou seja, mais quatro mega-eventos e é provável que a última implosão seja aquela que traga mais multidão. Depois haverá mirones que passarão os seus dias a ver tudo aquilo a tornar-se em condomínios de luxo. Fotografia por Rebeca Bonjour