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Milhões de Festa

Piscina, moshpit e água fresca

É o festival de sempre, mas sem o dinossauro e com outro tipo de cerveja.

Barcelos tem de ser, por esta altura, o ponto mais quente de Portugal. Metaforicamente, claro, porque na prática está só um calor do caralho e há país a arder a sério. Aqui convergem centenas de hipsters, mares de gente culturalmente interessante ou relevante e muita música boa. Sem qualquer tipo de criaturas répteis à entrada do palco principal, o Milhões de Festa torna-se imperador incontestável dos festivais sem merdas.

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Felizmente, a cidade e o festival têm no Palco Piscina a resposta ideal ao problema do aquecimento global (se isso existisse). Para quem ainda não tenha lido, tipo, em todo o lado, o Palco Piscina é ladeado por piscina e meia (a meia é a das crianças, mas também serve para molhar) e por muita relva, o que se traduz numa tarde a preguiçar ao sol. A receita é simples: dar uns mergulhos, micar as miúdas e curtir as bandas. Já tudo parece um hábito na profética cidade minhota carinhosamente alcunhada de nova capital do rock. A romaria, o calor (menos do que no ano passado), as piscinas e até as filas (essas sim, mais demoradas este ano, mas também é sempre uma situação engraçada e dá para conhecer pessoas novas. O dia zero deixou de ser para os warm-ups familiares (para não dizer ranhosos) nos bares locais alternativos, onde, sem dúvida, se come e bebe bem, mas onde no pasa nada. Pontos fixes do primeiro dia de piscina: a loira do biquíni cor-de-rosa, acordar com Jibóia sem uma noite sórdida que o anteceda, os ataques de epilepsia proporcionados pelos Equations, a energia desgarrada dos ALTO! (a banda sonora perfeita para saltos assassinos para a água). Pontos menos fixes do primeiro dia de piscina: gajas gordas, o primeiro escaldão do ano, ter de perder o set da Lovers por causa do primeiro escaldão do ano, não ter tido colhões de festa para apalpar a loira do biquíni cor-de-rosa. Coube aos barcelenses La La La Ressonance iniciar os concertos do palco principal, uma tarefa inglória já que coincidiu com a hora oficiosa do jantar. RA inaugurou o Palco VICE com os Löbo e havia uma concentração fixe de camisolas negras com copos na mão — podem não saber, mas confiem: não há melhor pessoal para conhecer do que o pessoal da pesada (excepto talvez a loira do biquíni cor-de-rosa) porque na melhor onda (e na melhor das hipóteses) acabam por vos pagar mais rodadas do que aquelas de que se vão conseguir lembrar na manhã seguinte. A espacialidade da electrónica densa a contrastar  com a materialidade de uma banda doom a tocar ao vivo. Os Sensible Soccers jogam em 2x2, com  a electrónica no ataque e as guitarras no meio-campo, a fazer passes para desmarcações incríveis e a subir no terreno de vez em quando. Ideal para abanar pés e cabeça ao início da noite. Os League deram continuação a esta mini-saga dançável com o seu electro-pop mais estridente, letras fofinhas e coros cantaroláveis. Depois os Baroness subiram ao Palco Milhões (para o tentar deitar abaixo). O concerto da noite teve proporções épicas de headbanging e porrada. A resposta do público deixou a banda tão emocionada que voltaram para um encore e ainda prometeram regressar rapidamente a Portugal. Yellow & Green, lançado há poucos dias, está mais do que fresquinho e assim sabe ainda melhor. Holy Other a seguir a isto acabou por saber a pouco. Há ainda que destacar Youthless e Throes + The Shine. Os primeiros fizeram o que puderam e até o que não puderam com covers de Talking Heads e Black Sabbath num bom aquecimento para Meneo, o mestre do Rudolfo. Os segundos foram explosivos ao máximo, fazendo o recinto dançar(com resultados variáveis). Mais tarde (cedo?) houve toda uma resma de campistas, cansados mas felizes, a entrar por engano em tendas alheias, contentando-se com umas bolachas e água fresca. Ou com um biquíni cor-de-rosa. Milhões de amor.  Fotografia por Miguel Refresco, Paulina Skrok e Weronika Wolińska