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O Dia das Mães de Três Detentas da CPP Butantan

Tem lugares onde a filha chora e a mãe não vê.

Tem lugares onde a filha chora e a mãe não vê. Um deles é o Centro de Progressão Penitenciária Feminino "Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira" do Butantan, em São Paulo, que abriga 1.028 mulheres que cumprem pena em regime semiaberto – a maioria delas, além de filha, também é mãe. Considerada uma unidade modelo, é para lá que são levadas, com seus bebês, muitas das reeducandas da capital condenadas durante a gravidez, após darem à luz. E, com eles no colo, prontas para uma das cinco saídas às quais têm direito por ano, três delas toparam tirar umas fotos para nós e contar como vão passar o domingo de Dia das Mães em liberdade.

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No domingo, vai ter Dia das Mães sim para a cearense Lucinalda Cruz da Silva, de 30 anos, na companhia da mãe, das irmãs, dos irmãos, da filha Cauani, de 13 anos, e do filho Marcos, de três meses, que mora com ela no CPP. "Esse é meu quarto. Dos outros, um eu perdi para o pai, outro eu dei. Tive com 14 anos, fui abusada. Eu me arrependo, mas agora não vai ser assim", disse, ansiosa por chegar em casa. Cumprindo sua segunda condenação por roubo, em julho deste ano deve sair em definitivo (após cerca de um ano e meio de pena; da primeira vez foram quatro), mas já antecipa a separação com o bebê, que pode acontecer: "A gente fica triste, mas pelo menos ele vai comer papinha, danoninho… aqui dentro não tem muita coisa". E ela também vai comer bem nesse fim de semana – as irmãs já estão cozinhando.

"Não tem nada aqui. Até dão fralda boa, mas não dão leite, as frutas vêm quase passadas. Não querem saber quem vai ficar com a criança. Minha filha não pega chupeta", disse Kássia (preferiu resguardar o sobrenome), de 32 anos, indignada e preocupada. Na segunda-feira, ela tem que voltar ao presídio para cumprir o resto da pena, mas não poderá mais levar a filha Coralina, de sete meses. No Brasil, a lei de amamentação garante o mínimo de seis meses e o máximo de sete anos para as mães presas que não têm com quem deixar os filhos ficarem com eles, mas na prática a separação em geral ocorre logo depois dos seis meses, independente da condenação e da realidade familiar.

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Quando a separação é determinada, as crianças vão ou para a casa da família, para um abrigo, ou para a adoção – muitas vezes, por determinação do juiz e sem qualquer audiência com a mãe, o que contraria o protegido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. No caso dela, o marido, que foi buscá-la, trabalha e eles não conseguem achar uma creche em um dia. E Kássia já sai em dois meses, mas não pode contar com a ajuda da mãe, usuária de crack, nesse tempo. Em função disso, estava até pensando em não voltar ao CPP na segunda – transgressão pela qual seria penalizada e que aumentaria seu tempo na cadeia. Precisa conseguir progressos: o fim de semana das mães vai ser no fórum, tentando manter Coralina até o término da pena. Os outros cinco filhos estão sob a guarda do primeiro marido.

Agarrada no pacote de seis meses e calça rosa, Dinéia de Lima, de 28 anos, estava animada para pisar fora da penitenciária. Como Kássia, Lucinalda e as demais mães com bebês do CPP, Dinéia não trabalha, então só sai nas cinco permissões do ano. Dessa vez, ia gastar os R$ 10,00 que a unidade dá a cada saída para ir até a casa de uma colega, já que sua família é do Paraná. "Na Páscoa, eu fui para lá, minha mãe conheceu a nenê. Mas é longe, aí não dá. Eu também fico dependendo do dinheiro deles, é caro e é muito pouco tempo", lamentou. Para falar com os outros filhos no domingo, o negócio vai ser o telefone. "Ser mãe é tudo. Não tem palavras", disse ela, que já criou seis – a expertise, ela divide com as mães menos experientes, que ficam na mesma ala do presídio, divididas em duas por quarto.

Presa pela primeira vez, Dinéia foi condenada a seis anos por tráfico de drogas (foi pega com cinco gramas de maconha) e já cumpre há três anos. Em algumas semanas, sua irmã, Rosane, vai buscar a sobrinha para levar ao Paraná, e ela ficará sozinha, mas segura com o apoio da família. Deve voltar a trabalhar – provavelmente não de gari, como costumava ser – e aparecer na TV, já que Rosane, ao que tudo indica, chegará acompanhada de uma Rede de TV. "Já dei entrevista, não me importo. Tô bonita (risos)", brincou, satisfeita por estar fumando tranquila dessa vez na parte de fora do presídio, mergulhada no batidão de um carro e na alegria de outras mulheres, produzidas, bebendo cerveja, namorando, curtindo os primeiros minutos da liberdade às oito horas da manhã. Ser mãe é padecer no paraíso. Mas segunda elas têm que voltar para o CPP.