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Música

Nada Fará os Rockabillies Renitentes de Atenas Pendurar as Botas

Não só o rock 'n' roll ainda está vivo em Atenas. Algumas pessoas nunca pararam de ouvir, amar e viver pelas regras um dia controversas desse estilo.

Quando conheci Lefteris e Christos alguns anos atrás, não entendi muito bem qual era a deles. Levou um tempo para ver que não só o rock 'n' roll ainda está vivo em Atenas, mas que algumas pessoas nunca pararam de ouvir, amar e viver pelas regras um dia controversas desse estilo.

Encontramo-nos na estação de trem Thisseio, no centro da cidade. Eles chegaram de moto, e, na curta caminhada até a cafeteria, o nome “Elvis” surgiu pelo menos cinco vezes enquanto as pessoas passavam pela gente fazendo careta sem a menor vergonha.

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VICE: Quando vocês ouviram rock 'n' roll pela primeira vez?
Lefteris: Aconteceu aleatoriamente. Bom, talvez não tanto assim. Meu pai ouvia rock. Quando eu ainda estava no ensino fundamental, compramos um aparelho de som novo, que, de algum jeito, acabou ficando no meu quarto, assim como todos aqueles discos (45 rpms) de Eddie Cochran, Gene Vincent, Elvis Presley, etc. Fiquei curioso e comecei a escutá-los. Eu não tinha a menor ideia do que era rock 'n' roll naquela época, eu só gostava do som.

Christos: Lefteris é mais velho do que eu. Ele e seus amigos costumavam ficar na frente da agência bancária, na rua Vavoulas, em Kifisia. Eles deviam ter uns 17 anos. Eu tinha 13 ou 14. Costumava passar por ali e lembro de pensar comigo mesmo: “Quem são esses malucos com essas correntes e costeletas?” Aí, no colegial, meu melhor amigo ouvia Elvis. Ouvimos Elvis até descobrir Jerry Lee [Lewis] e isso mudoutudo para mim. Depois disso foi só ladeira abaixo (risos).

Andando na rua, vocês devem ouvir muitos comentários de quem passa, como acabou de acontecer. Vocês lembram de algum incidente engraçado em particular?
Christos: O incidente mais engraçado aconteceu num contexto de trabalho. Sou arquiteto e minha firma estava reformando o palácio do príncipe em Omã. Ele apareceu no escritório para nos conhecer, acompanhado de uns 30 seguranças, me olhou e ficou visivelmente desconfortável.

Lefteris: Uma vez trabalhei como professor de química numa escola particular. Eu ia até a cantina para pegar café toda hora, mas eles nunca me serviam. Um dia, quando entrei, vi um colega professor pedir um café e ser servido. Fui até a gerente e reclamei, e ela disse: “Não servimos café aos estudantes!”

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Eu achava que eles não me serviam, porque não gostavam das minhas roupas; nunca passou pela minha cabeça que eles podiam me confundir com um estudante, mesmo sendo um cara jovem na época. Mas os outros professores me olhavam de um jeito estranho. Um deles me disse uma vez para raspar as costeletas. “Elas nem combinam com você”, ele disse. Eu expliquei que rock 'n' roll não tem nada a ver com aparência.

O que é o rock 'n' roll para vocês? O que isso significa?
Lefteris: Rock 'n' roll, não é uma coisa só. Há um elemento vadio envolvido. Na verdade, isso é caracterizado por um certo tipo de vida errante. E conforme os anos vão passando, você vai parando de se comportar tão “selvagemente” quanto costumava.

Christos: Na verdade, ele está pior (risos). Rock 'n' roll é uma sensação, a existência de uma sensação, é uma “ligação” com algo ou alguém. É autêntico.

Lefteris: É quase um traço de caráter, um modo de vida. Você não consegue isso simplesmente se vestindo desse ou daquele jeito.

Suponho que muita gente com quem vocês andavam na época superou isso hoje, cada um por seus próprios motivos.
Lefteris: Umas dez ou nove pessoas superaram. Poucos amigos preciosos continuam leais ao rock 'n' roll. Uma das razões é que muitos entram nessa para aplacar sua raiva adolescente – e, sim, as pessoas mudam. Alguns acabaram ouvindo música grega contemporânea. Outras viraram ravers da noite para o dia – essa era a cena dominante na época.

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E tinha alguma mulher no grupo de vocês naquela época?
Lefteris: Não, havia algumas que usavam jaquetas de couro e coisas assim. O estilo pin up, que é tendência hoje, não existia naquela época. E muitas eram irmãs de amigos ou primas, esse tipo de coisa.

Qual foi o melhor show ao vivo que vocês já assistiram?
Lefteris: Stray Cats, na Farewell Tour, no Summer Jamboree de 2008, e o Bullets, todas as vezes.

Chris: Crazy Cavan ao vivo no Ol' Skooll Weekend, no Rio, em 2011.

Que bandas gregas de rockabilly se destacam hoje?
Lefteris – Christos: Thriller. Quando você ouve os discos é difícil acreditar que eles são da Grécia. Bullets de Tessalônica, Breathless (também de Tessalônica), Misty Blue Boys, Hi Rollers e Dustbowl são muito boas também. E, sem dúvida, The Last Drive e The Invisible Surfers. Há muitas bandas gregas incríveis, mas, infelizmente, elas não recebem muito apoio por aqui.

Como os rockabillies lidam com o verão e o mar gregos? Acho que deve demorar para tirar todas essas correntes, coletes e jaquetas.
Lefteris: É quando você fica realmente consciente de como essas botas são pesadas.

Tradução: Marina Schnoor