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A Ocupação Binz de Zurique Não Existe Mais

As autoridades da Suíça iam despejar a ocupação Binz, em Zurique, que existia há 7 anos. O prédio estava protegido por barricadas e deserto.

Um dos espaços criativos dentro da Binz.

Três semanas atrás, numan manhã de sexta-feira, as autoridades de Zurique cercaram a Binz, a ocupação mais famosa da Suíça, chutando de lá qualquer alma viva que encontrassem na intenção de acabar com seus sete anos de existência. No entanto, quando viraram a esquina na 111 Üetlibergstrasse, as autoridades encontraram uma surpresa – em vez de uma horda de anarquistas com coquetéis molotov eles acharam um prédio todo cercado por barricadas, mas completamente deserto. Para onde foram todos?

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Não era para ser assim. Os jornais burgueses que vivem de alimentar os temores das pessoas velhas, gordas, ricas e chatas de Zurique – e acredite em mim, tem um monte disso lá – tinham previsto fogo, revoltas e guerra nas ruas. Mas a polícia encontrou um lugar totalmente desocupado e silencioso, a não ser por um cachorro e um aparelho de som ligado na rádio suíça.

A família Schoch – como o coletivo que vivia na Binz chamava a si mesmo – fez as malas e se mudou para a área de Koch no bairro de Altstetten em Zurique, o que não foi muito bem recebido pelos donos da nova casa da ocupação, o banco multinacional UBS. Mas claro, eles são banqueiros internacionais, e provavelmente também não acharam graça quando os ex-moradores da Binz lideraram um comboio de carros de som tocando techno e hardcore, guiado por um carro com um enorme sapato de dança em cima, pelo centro da cidade.

Barricadas de arame farpado bloqueando o acesso à Binz.

Mas eles se foram pacificamente, chocando aqueles que rotularam a família Schoch como agitadores violentos depois dos tumultos que se seguiram ao protesto do comboio/rave. Eles saíram na noite de quinta-feira, não sem antes bloquear todas as entradas com veículos e sucata. Como testemunho da imparcialidade dos jornais locais da Suíça, a cobertura deles se concentrou mais nos bloqueios deixados para trás do que no fim pacífico do que foi um dos espaços públicos mais culturalmente significantes e únicos de Zurique. A história podia ter terminado de maneira muito diferente, mas como os ocupantes resolveram sair de forma silenciosa, o evento vai deixar poucas marcas na imaginação do público – provavelmente por falta de imagens de policias derrubando punks crust com canhões de água.

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Apesar do anticlímax, nosso fotógrafo ainda conseguiu ser preso por fotografar um oficial civil. Ele foi detido por uma hora, até que um porta-voz da polícia esclareceu a questão e o oficial se desculpou, o presenteando com um croissant como ramo de oliveira.

Um cachorro bravo que não queria deixar a Binz.

O fechamento da Binz foi um dos últimos atos oficias do atual superintendente da polícia, Daniel Leupi. O momento escolhido para o despejo em massa dificilmente foi um mero acso. Um dia depois do fim da Binz, o substituto de Leupi, Richard Wolf – conhecido por ser mais simpático à causa dos ocupas, principalmente por também ter sido um – tomou posse.

Em todo caso, pelo menos em se tratando da própria Binz, está tudo terminado. A atualização austera no site da família Schoch diz apenas: “O show acabou, estamos fora”.

Uma ocupação na área de Koch, Zurique.

Durante esses sete anos, os ocupas que criaram a Binz defenderam seu próprio espaço público cultural na 111 Üetlibergstrasse, oferecendo oportunidades além do enquadramento legal sufocante da sociedade suíça. O lugar também fornecia moradia e espaço comercial acessíveis para os residentes numa cidade que encarou um aumento de mais de 25% nas taxas de aluguel nos últimos 20 anos. Para os ocupantes, isso nunca foi uma questão de tirar algo de alguém, mas sim mostrar o absurdo das políticas de construção e moradia na cidade de Zurique.

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Como bem colocou um ocupa anônimo: “Vemos como algo muito mais antissocial possuir um espaço de moradia e deixá-lo vazio do que ocupar espaços de moradia vazios e os disponibilizar para pessoas que queiram operar fora dos incentivos financeiros e restrições legais”. Na manhã de sexta, Zurique perdeu mais do que um refúgio para pensadores criativos. A cidade perdeu uma parte insubstituível de sua própria história.

Interior da nova ocupação da família Schoch.

Os próprios ocupas saíram de maneira relativamente calma. Eles se reuniram na noite anterior à grande mudança para um último jantar e uma festinha, um breve adeus para sua casa tão querida. Às 2h da manhã, tudo terminou e os ocupas se despediram dos vizinhos com um show de fogos de artifício.

Mas o fim da Binz não é o final dos ocupas de Zurique. Uma grande parte da família Schoch começou a transportar seus pertences, sob a vigilância de drones da polícia, para um novo lugar em Altstetten duas semanas atrás. Eles estão otimistas e acham que encontraram um lugar onde poderão continuar sua luta contra os políticos arrogantes de Zurique, mesmo com o UBS preferindo começar a destruir os prédios desocupados na sexta e abrindo licitações para propostas de firmas de arquitetura. Visando deter os ocupas, o UBS mandou destruir todas as instalações sanitárias do local.

Só o tempo dirá se os ocupas na área de Koch conseguiram se ancorar por ali a longo prazo ou se serão removidos novamente por gente mais poderosa. Ao invés de se sentirem intimidados, os ocupas de Zurique parecem mais empolgados que nunca depois de seu êxodo da Binz. Ou, usando as palavras da própria família Schoch: “Estamos longe mas ainda permanecemos! A BINZ CONTINUA BINZ”.

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Fotos por Even Ruetsch.

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