Um Retrato de um dos Poucos Fazendeiros Negros nos EUA

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Um Retrato de um dos Poucos Fazendeiros Negros nos EUA

Eles ainda lutam contra as consequências do racismo histórico.

Todas as fotos por Michael Santiago.

Nos anos 20, fazendeiros afro-americanos formavam 14% da indústria agrícola dos EUA. Hoje eles são menos de 1%. Essa redução pode ser ligada ao racismo das políticas de empréstimo, aquisições de fazendas por grandes corporações e migração para as cidades. Mas o 1% que continuou diz que eles ainda lutam contra as consequências do racismo histórico.

Para o projeto Stolen Land, Stolen Future, o fotógrafo Michael Santiago passou um tempo com um homem que ele chama de Sr. McGill, um dos poucos afro-americanos tentando viver de sua fazenda. Nos anos 80, McGill comandava uma grande propriedade, mas perdeu as terras depois que teve um empréstimo negado pelo governo. Ele passou os últimos 30 anos tentando viver da criação de porcos na propriedade rural de seu pai na Califórnia. Seu pai também perdeu propriedades e terras devido a práticas discriminatórias de empréstimo, mas conseguiu manter os cinco acres onde McGill vive hoje.

Publicidade

Falei recentemente com Santiago sobre os problemas de McGill e o que poderia ser feito para ajudar.

VICE: Oi, Michael. Por que você decidiu fazer essa série sobre o Sr. McGill?
Michael Santiago: Quando eu morava na Califórnia, notei ao andar pelos mercados de produtos agrícolas que não havia fazendeiros negros. Quando perguntei a um segurança se ele conhecia algum, ele começou a rir. Moro em Syracuse e tentei achar mais fazendeiros negros na área, mas não encontrei nenhum. Eu quis fotografar o Sr. McGill para mostrá-lo como uma pessoa normal tentando sobreviver.

Como você o conheceu?
O encontrei através de uma ONG chamada Farms to Grow. A história dele começo nos anos 80, quando ele tinha uma fazenda de 320 acres. Ele e seu sócio precisavam de um empréstimo para evitar ter a hipoteca executada e o Departamento de Agricultura negou isso a eles. Depois de serem rejeitados, uma pessoa com quem eles estavam lidando na agência comprou a propriedade e a vendeu com lucro. Agora ele trabalha nos cinco acres de terra do pai.

É possível ganhar a vida com uma fazenda hoje?
Ele ainda precisa trabalhar em outros ranchos. Ele vive a vida de um fazendeiro típico. Acorda de madrugada, alimenta os porcos e faz toda a manutenção da fazenda pela manhã. Depois ele vai para outros ranchos no começo da tarde, alimenta seus porcos de novo e vai para cama às sete ou oito da noite. Esse é o cotidiano dele, sete dias por semana.

Publicidade

A discriminação pode não ser tão descarada hoje, mas alguns fazendeiros nunca se recuperaram de problemas racistas de décadas atrás. Que tipo de ações as pessoas gostariam que fossem aplicadas?
Mais diretamente, apoio financeiro para os fazendeiros e organizações para apoiá-los. Além disso, acho que a maneira como os empréstimos são concedidos deveria ser reestruturada para pequenos proprietários. Muitas vezes os critérios para conseguir empréstimos se baseiam no tamanho da fazenda. Então o Sr. McGill não consegue ser aprovado porque sua operação não é grande o bastante. Ele não consegue um empréstimo porque sua fazenda não é tão grande quanto foi um dia.

Na sua opinião, por que fazendeiros como McGill continuam tentando viver da terra apesar das condições difíceis?
Ele faz de US$ 2 mil a US$ 3 mil a cada seis meses com seus porcos – então ele não faz isso por dinheiro. Mas é o que ele ama fazer. Ele tem 71 anos agora e faz isso há 50. Seus porcos são importantes para ele.

Entrevista por Laura Rodriguez Castro, siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor