O Vale do Silício parece ter acabado com o modelo de negócios de Milo Yiannopoulos.
O troll de direita que caiu em desgraça está reclamando que grandes redes sociais cortaram seu público alt-right – e estragaram sua capacidade de viver decentemente.
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O ex-escritor de tecnologia do Breitbart compartilhou as reclamações no Telegram, um aplicativo de mensagens para onde alguns aliados da extrema-direita foram depois de serem chutados de outras plataformas de tecnologia. Yiannpoulos foi banido do Twitter em 2016 por dirigir abuso racista contra a comediante Leslie Jones, perdendo quase 400 mil seguidores. Ele foi banido do Facebook em maio.
“Passei anos crescendo, desenvolvendo e investindo na minha base de fãs e eles tiraram isso num piscar de olhos”, escreveu Yiannopoulos, que já se envolveu com neonazistas e nacionalistas brancos. “É legal ter um pequeno chat privado com meus amigos mas não consigo fazer uma carreira de um punhado de pessoas assim. Não consigo colocar comida na mesa desse jeito.”
“Não é um bom uso do meu tempo estar aqui”
“Falando com as mesmas mil pessoas que não compram livros, ingressos pra nada nem fazem doações”
O provocador não mencionou todo o assédio que o colocou na cadeia da internet. Nem tocou no assunto de ter que sair do Breitbart no ano seguinte, depois de fazer comentários que pareciam endossar pedofilia.
Enquanto o Telegram permite que Yiannopoulos compartilhe comentários tão importantes com mais de 19 mil seguidores diretamente, o app não tem o grande alcance do Twittter, Facebook e YouTube. O mesmo vale para o Gab e outras redes sociais criadas para protestar contra os esforços cada vez mais agressivos de moderação de conteúdo da Big Tech.
“Não sei de ninguém que está conseguindo fazer um canal realmente grande aqui”, escreveu Yiannopoulos, cujas postagens no Telegram geralmente chegam a umas 2 mil pessoas. “Todo mundo está chegando no fundo do poço. Não tem um futuro no Telegram para refugiados das redes sociais se isso é o melhor que conseguimos fazer.”
“Essa merda de 19 mil [seguidores] não vale de nada.”
O chororô de Yiannopoulos dá alguma esperança para ativistas progressistas que pressionaram as empresas de tecnologia para ser mais linha-dura contra usuários que usam discurso de ódio. Um bando de comentaristas de direita estavam conseguindo transformar conteúdo incendiário em dinheiro, vendendo para os públicos engajados das redes sociais palestras, livros ou recebendo contribuições diretas de fãs através de serviços como o Patreon.
Esforços para regular essa indústria foram um tiro pela culatra em alguns casos. Em junho, o YouTube desmonetizou um canal comandado pelo comediante conservador Steven Crowder, que assediava obsessivamente o jornalista do Vox Carlos Maza, o que fez a mídia de direita acusar a plataforma de censura. O caso ajudou Crowder a juntar uma legião de novos seguidores e assinantes pagos.
“-Gab: implacável, exaustivamente hostil e cheio de adolescentes racistas que ditam o tom da discussão (não posso postar nada sem ser chamado de judeu pedófilo infiltrado meia dúzia de vezes)
-Parler: zero interação, ninguém está lá
-Telegram: uma terra desolada”
“Nenhum desses dirige tráfego. Nenhum deles têm públicos que compram ou se comprometem com qualquer coisa.”
“A menos que algo monumental mude, vamos ser expulsos da internet pra sempre.”
Mas a expulsão de Yiannopoulos das redes sociais parece ter bombardeado o motor econômico de toda sua operação. E é possível que ele não seja o único. O artista pró-Trump Jacob Wohl, que foi banido do Twitter no começo do ano por operar contas falsas, compartilhou a thread de Yiannopoulos, comentando apenas “Concordo com tudo isso”.
Yiannopoulos colocou a culpa não só nas medidas de moderação da Big Tech, mas também na incapacidade da internet pró-Trump de contra-atacar.
“Estou me agarrando à vida. E nunca vou desistir”, disse Yiannopoulos, que não respondeu os pedidos de comentários da VICE News por mensagem direta. “Mas caralho, a base na América é uma BOSTA. Fracamente, eles merecem perder seu país e se por algum milagre conseguirmos salvá-lo, não será graças aos eleitores, leitores, assinantes e SÓ graças aos poucos corajosos combatendo nas linhas de frente, além da razão e da esperança.
“Estamos anos atrasados”, ele acrescentou. “A hora de agir foi quando fui expulso do Twitter. Mas ninguém agiu.”
Matéria originalmente publicada na VICE EUA.
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