Música

Ouça o Primeiro Disco do Tigre Dente de Sabre

A palavra de ordem de Marcos Leite Till e Guilherme Calzavara, o duo que forma o Tigre Dente de Sabre, é catarse. A junção de sintetizadores com as músicas clássica e eletrônica fez com que seus shows fossem reconhecidos pelo espírito de ritual que toma conta dos lugares em que tocam. Com Till comandando sintetizador e o baixo, enquanto Calzavara manda ver na bateria e no trompete, o Tigre acaba de liberar seu primeiro trabalho 100% autoral, Morte Iniciática.

Depois de sair de Bragança Paulista e conquistar as principais capitais brasileiras e gringas com sua rave erudita, estava na hora de expandir o som de alguma forma. E eis que o Tigre chega com dez músicas que são sinestesia nua e crua. Não precisa fazer muito esforço pra enxergar as luzes piscando loucamente com a batida de cada faixa, entrando no clima de “exorcismo para hippies” que a dupla evoca em suas apresentações e mantendo a proposta de ser um projeto vanguardista.

Videos by VICE

Troquei uma ideia com o Till que falou sobre o começo da dupla, o que nos separa do topo da montanha, os corres para o lançamento do disco (inclusive em formato fita cassete) e mais. O papo é uma brisa. Se liga:

THUMP: Queria que você contasse um pouquinho da história da dupla, sobre como vocês se conheceram e como surgiu a ideia de criar o Tigre Dente de Sabre.
Marcos: A primeira vez que subimos num palco juntos éramos bem novinhos. Éramos só dois garotos que mal se conheciam, tínhamos entre 15 e 16 anos e estávamos assistindo o show de uma banda que gostávamos muito, num lugar pequeno, escuro e que amávamos ir. Subimos no palco depois do show com o ímpeto de apresentar nossa primeira música. Tocamos algo que tínhamos composto juntos e que coincidentemente já era uma peça apenas para baixo elétrico e bateria. Inconscientemente não achávamos que precisávamos estar num formato “comum” para apresentar arte. Quando penso nisso hoje em dia, sinto que aquele foi nosso primeiro momento como Tigres nenês. Os Cosmos, meu e do Gui, são muito diferentes. O Tigre é o que nasce da combinação desse Cosmos.

Como foi o processo de criação do Morte Iniciática e por que vocês escolheram esse nome? 
O processo foi o próprio nome. Morte iniciática é o ritual de subir uma montanha e, durante o caminho, o topo parecer inalcançável, tudo ser só escuridão e você chega muito próximo da morte, mas quando você chega ao topo, você descobre que o que morreu foi exatamente o que distanciava o topo de você, e quando você desce a montanha, você já está transformado. Onde mais aprendemos são nos caminhos novos em que nós mesmos costumamos nos colocar. Não existem leis de como conceber esta música. Sempre nos deparamos com situações inusitadas e o maior desafio está em precisarmos criar meios e formas para imprimir toda essa música. Juntos desvendamos tudo o que é preciso pra elas existirem e transformamos a nós mesmos no meio do processo.

Os shows de vocês sempre foram descritos como “catárticos” e vocês mesmos os chamam de raves eruditas ou exorcismo para hippies. A intenção é continuar assim, intensificar a catarse ou mudar completamente o estilo a partir de agora?
Estamos tão imersos nesta música ritual no palco que é como estar diante do precipício, ou você voa ou você cai. Esta “catarse” vem do que esta música produz em nós e no público. Ficamos conectados por um fio invisível e esta é a mágica do negócio. Não conseguimos pensar em outra coisa que não numa música que faça as pessoas “voarem”.

Vi que vocês vão liberar o disco em fita cassete? De onde surgiu essa ideia?
A gente adorava fita cassete quando criança e agora nada nos impede de termos a nossa própria. Alguns dias atrás eu comprei uma fita cassete do IC3 PEACK, uma banda de witch house da Rússia, e ainda me desperta o mesmo que me despertava quando criança. A intenção do Tigre com a fita cassete é despertar o mesmo nos que têm esse sentimento por todas as mídias antigas, nada além.

Depois do Morte Iniciática, qual é o próximo objetivo?
Em qualquer lugar do planeta que, ao invés de estimular arte, alimenta-se de outras coisas onde arte nem sempre é item de primeira importância, é um fenômeno natural encontrar uma cena independente escondida em algum subterrâneo – e é nela que mora a base do início de muitas revoluções musicais e de artes como um todo, principalmente onde arte é uma questão de máxima urgência e primeira importância. Acredito numa arte na música que não importa se você é um virtuoso ou sabe apenas três acordes, se me faz tremer é o que eu procuro. A cena independente está na música erudita, no black metal, na música eletrônica, e ela é tão atual quanto o dia de amanhã, é na cena independente que estão as sementes. O novo sempre precisa ser descoberto. A forma “independente” é o caminho inverso da espera sem atitude e é o instinto que toda criação tem de dar seus primeiros passos. E se não há o interesse em plantar sementes, continua-se usando os mesmos galhos velhos. O novo nos interessa muito e uma vida inteira dedicada a isso é uma vida bem vivida! O próximo objetivo ainda é esse. O novo é o único próximo objetivo.

Quer sacar qual é do Morte Iniciática de perto? O Tigre Dente de Sabre comemora essa estreia nesta sexta (31), no Skol Beats Factory, com a participação de Subburbia, CassinoQueen, Cybass, Psilosamples, do coletivo Muscles Cavern e sets de Non Exists? e Fkoff 1963.

TIGRE DENTE DE SABRE Lançamento do álbum “Mor†e Iniciática”
Sexta, 31/10, das 18h às 5h.
R$50 segundo lote
Vendas: AMP – Rua Augusta, 2455, Jardim Paulista, São Paulo

SKOL BEATS FACTORY
Rua Pedroso de Moraes, 1036. Pinheiros, São Paulo.
Tel.: (11) 3814­7383