A Mossless in America é uma coluna que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mossless em 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a revista já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mossless foi destaque na exposição Millemmium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 – 2013) e foi lançada recentemente.
O fotógrafo Sean Stewart nasceu na cidade industrial de Pittsburgh, na Pensilvânia. O trabalho dele é silencioso e contemplativo, e seus temas se centram em questões americanas contemporâneas. Suas cenas retratam a normalidade do dia a dia: o colapso da indústria, casas pré-fabricadas idênticas invadindo vastas planícies, ônibus parando apressadamente em estacionamentos de shoppings e assim por diante. Mas as fotografias de Stewart são particularmente cativantes, porque parecem afastadas da ansiedade que essas cenas provocam. Elas são concretas, limpas e aparentemente objetivas, como se ele estivesse pairando sobre elas. Conversamos com Sean sobre objetividade na fotografia, o momento decisivo e a importância de se fazer parte de uma comunidade fotográfica.
Videos by VICE
Mossless: Se você não fosse fotógrafo, o que você seria?
Sean Stewart: Idealmente, eu seria agricultor de alimentos orgânicos. Mas mais provavelmente eu estaria trabalhando num armazém imenso, separando seu pedido da Amazon. Se eu não tivesse encontrado a fotografia (ou a arte em qualquer forma), eu não teria conhecido minha esposa ou encontrado amizade nos lugares mais improváveis. Eu provavelmente ainda estaria morando numa casa localizada num dos CEPs onde cresci. Toda decisão tomada tem um efeito cascata no que está por vir.
Você sempre anda com a sua câmera?
Não. Trabalho com uma câmera de formato grande que não é prática para se carregar por aí. Também não tenho carro, então geralmente me locomovo de bicicleta. É nesses momentos que a maior parte do meu pensamento visual e não verbal acontece. É uma coisa pequena, mas muita energia mental e física é necessária nessa atividade. Não há nada que se compare ao ato de se mover pela paisagem sem a ajuda de combustível fóssil e ser apenas uma testemunha de como os detalhes mudam enquanto você passa.
Moro no Brooklyn, em Nova York, mas muito do meu processo fotográfico real é feito na Pensilvânia ou durante o caminho. Essas sessões de foto geralmente acontecem em alguns finais de semana por mês, durante certas épocas do ano, ou em viagens de uma semana para lugares mais exóticos quando tenho tempo. A câmera geralmente fica no porta-malas de um carro alugado até que alguma coisa me acorde.
O que você procura numa paisagem antes de pegar sua câmera?
Acho que luz é a chave para iniciar uma fotografia. Depois da luz, geralmente estou interessado em algum detalhe familiar. Esses detalhes podem ter alguma relação cognitiva com a minha infância ou podem ser sobre como padrões e relações visuais estão organizados no quadro. Sempre tento começar num lugar familiar, tocando memórias, pensamentos e sentimentos sobre o lar. Não importa a motivação, tento não pensar no escopo do projeto quando estou fotografando. Isso pode levar a uma autoedição exagerada e ansiedade sobre a futilidade de um projeto fotográfico. Vamos fotografar primeiro e ser o artista e o editor de fotos depois.
Você acredita que a objetividade pura pode ser alcançada na fotografia?
Absolutamente não. A principal preocupação da fotografia é com a manipulação sobre a documentação e com as vidas no meio disso.
Tenho a maioria das minhas ideias visuais vendo filmes. Essas ideias tomam a forma de uma perspectiva ou um modo de ver. Acho cada vez mais difícil assistir a um filme e não pensar na equipe de produção, nos equipamentos de iluminação e na mesa de bufê esperando no sol. Há motivos atrás e em frente à câmera, e economias inteiras são construídas ao redor desses motivos. Os melhores filmes (Fitzcarraldo, de Werner Herzog, por exemplo) chegam perto de atingir a objetividade. É uma ilustração crua da natureza humana. Mas mesmo esses, já que você está vendo o tema através de um meio artístico, nunca serão um fato. Terrence Malick também chega perto. Os filmes dele operam em muitas emoções e memórias fragmentadas de experiências traumáticas. Fico feliz por não ter feito faculdade de cinema, porque toda essa mágica se perderia para mim.
Sempre gravitei em torno da fotografia, porque isso é uma busca individual. A única experiência objetiva é sair pelo mundo e experimentar isso primeiro com uma câmera, e depois responder a esses fragmentos de um modo real. As fotografias feitas são apenas imitações de uma experiência subjetiva e daquela luz. Elas não são um fato ou a própria experiência. Sou atraído por imagens que têm uma distinção enevoada entre a ilustração de um lugar específico e a ideia de um lugar ficcional.
Se você pudesse mudar algo em como a fotografia é ensinada, o que você mudaria?
Eu pararia de enganar jovens artistas com um futuro. Acho que existem alguns caminhos negligenciados para forjar uma vida profissional com fotografia. Os custos cada vez mais altos da educação superior e o fato de que há poucos trabalhos disponíveis não batem para a maioria das pessoas. Se você realmente quer fazer algo incrível, invista em equipamento, viaje e faça trabalhos com os quais você realmente se importe. Há preocupações técnicas e barreiras psicológicas que não se pode superar sozinho numa sala, então se cercar de artistas e compartilhar seu trabalho é extremamente importante. A internet é provavelmente a ferramenta mais importante para aprender.
Sean Stewart é um fotógrafo que vive atualmente no Brooklyn.
Siga a revista Mossless no Twitter.
Tradução: Marina Schnoor