Retratos de mulheres com acne

Matéria originalmente publicada pela i-D Reino Unido.

A maioria dos meus projetos pessoais surge da minha própria experiência de vida lidando com o familiar e o novo. Como fotógrafa, uso pessoas para expressar minhas próprias preocupações e questões. Quando penso sobre isso por meio do meu trabalho, tem sempre um elemento da minha própria vulnerabilidade ali. Uma grande parte disso é capturar algo honesto e verdadeiro em sua forma. Quero fazer as pessoas se sentirem bem. Todas as mulheres, na verdade.

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Meu novo projeto, Epidermis, é sobre espinhas. Como alguém que sempre teve dificuldade para se sentir confiante na própria pele, invisto muito em positividade corporal como um todo. Tive um caso péssimo de acne da adolescência até os 20 e poucos anos. As espinhas me faziam sentir como se eu me destacasse nos anos desconfortáveis quando eu estava desesperadamente tentando me encaixar. Como uma jovem mulher, as imagens, filmes e revistas que eu via e lia mostravam essas representações pouco realistas de beleza. Se você estivesse longe daquilo, que esperança podia ter?

“Positividade de pele é uma questão de abraçar todos os tipos de pele e dizer que você não tem que ter um tipo certo para ser bonita”

Apesar de todo o progresso em torno de positividade corporal nos últimos anos, quando comecei esse projeto uma área que ainda parecia tabu era a pele. Nos meses em que venho trabalhando nisso, parece que as coisas começaram a mudar, o que é ótimo. Positividade de pele é uma questão de abraçar todos os tipos de pele e dizer que você não tem que ter um tipo certo para ser bonita. Talvez isso pareça óbvio, mas nossa pele é a parte mais exterior de nós, então devíamos estar mais confortáveis com essa parte do que com qualquer outra.

Para Epidermis, eu queria fotografar no estilo tradicional dos editoriais de beleza; eu gostava da ideia de justapor o estilo e o tema – algo tradicional visto em oposição à beleza clássica. Fotografei todas as mulheres no estúdio da minha casa; fotografei com luz natural e inicialmente queria fazer as mulheres se sentirem o mais confortável possível na minha frente. Conversávamos, nos conhecíamos melhor e compartilhávamos nossas histórias sobre pele.

Algumas dessas mulheres nunca tinham saído de casa sem maquiagem antes, então isso já era assustador para elas, e a maioria não estava familiarizada com a câmera. Acho que ser fotografada muitas vezes significa que o tema está numa posição bem vulnerável, e sempre tento garantir que os modelos se sintam confortáveis em seus ambientes. O que pode começar como uma sessão de fotos tensa, muitas vezes acaba se mostrando uma experiência libertadora e empoderadora.

“Algumas dessas mulheres nunca tinham saído de casa sem maquiagem antes, então isso já era assustador para elas, e a maioria não estava familiarizada com a câmera”

O aspecto mais importante era manter as coisas bem naturais. Eu não queria chocar. Eu queria que isso fosse visto primeiro como um retrato de beleza e, depois, como uma exploração de pele, mostrando uma variedade de mulheres com condições de pele mais sutis e outras mais notáveis. Sinto que quando se trata de tipos de corpos, vemos a indústria oscilar para um lado ou outro, idealizando os dois extremos em nome do óbvio; a modelo de passarela ultramagra e a modelo plus size, as duas não necessariamente realistas. Mas as duas chamam a atenção e criam impacto. Acho que há um risco de fetichização. Com essa série, eu queria que isso só parecesse algo normal.

A coisa mais importante que aprendi é que todo mundo vê sua condição de pele como muito mais significativa do que realmente é. Não quero minimizar o quanto isso pode afetar as pessoas, mas tive muitas respostas de mulheres dizendo que suas peles eram horríveis e perguntando se elas se encaixavam no perfil do projeto – e quando elas me mandavam as fotos, tudo que eu via era uma pele perfeita. Acho que isso me fez perceber que somos muito mais críticas e conscientes das nossas supostas “imperfeições” que qualquer outra pessoa. Só posso imaginar que isso só piora com os padrões irreais que vemos representados no mundo ao nosso redor.

Quando se trata de acne e como vemos isso, parece haver equívocos e estigmas sob a superfície do diálogo. Acho que muitas pessoas acham que espinhas são só coisa de adolescente. Sim, é mais comum em adolescentes, mas pode afetar pessoas de qualquer idade e não há só uma causa e uma solução. Com certeza não é algo que você resolve da noite para o dia. Também há impressões erradas sobre higiene, limpeza e dieta – isso pode ser visto como algo “sujo” ou “nojento”, e as pessoas muitas vezes acabam se sentindo constrangidas e envergonhadas. Não sei há quanto tempo esse estigma existe, mas mesmo em propagandas de creme para acne as espinhas são falsas e quase invisíveis.

E isso me faz pensar: não seria legal se vivêssemos num mundo onde tipos de pele e corpo não são tão genéricos, e a beleza se torna muito mais variada? Um pouco como a arte, a beleza é subjetiva, mas sempre parece que há uma mentalidade de rebanho. Dito isso, acho que as novas gerações estão ultrapassando fronteiras, sem querer se conformar com a “normalidade”. Talvez isso seja apenas um progresso natural dos incríveis avanços feitos no passado. Acho também que estamos vendo isso mais que nunca por causa das redes sociais, onde as pessoas se sentem mais confortáveis para terem uma voz.

“A beleza vem de dentro e quanto antes você aprender isso, melhor”

Para mim, beleza é confiança, e estar confortável na própria pele é uma das coisas mais atraentes que existem. Falamos tanto sobre beleza como atributos físicos, mas, na verdade, e sei que isso pode parecer meio piegas, a beleza vem de dentro e quanto antes você aprender isso, melhor. Seja uma linda amiga, seja gentil, seja atenciosa, e no final das contas não importa quão convencionalmente bonita você é, quem te ama te ama pela sua individualidade, não pela maneira como você se conforma.

Veja mais do trabalho da Sophie no site dela.