Identidade

Mulheres contam sobre a primeira vez com outras mulheres

Transar enquanto seus pais saem pra comprar sorvete é uma síntese maravilhosa da juventude. Assim como perceber que você talvez não esteja 100% alinhada ao universo lésbico se nunca sequer assistiu um vídeo pornô de mulheres ou chupou uma xoxota. A sexualidade tem essa mistura de medo, descoberta e tesão. Por isso, a VICE pediu um relato para mulheres que voltaram no tempo para relembrar a primeira vez que transaram com outras mulheres. Saca só.

SARRAÇÃO DE CALÇA JEANS

Eu tinha uns 16 anos e foi um ano de estreias juvenis: o primeiro porre, o primeiro beck e a primeira vez com a minha primeira namorada. Praticamente aquele filme do Adam Sandler com a Drew Barrymore. Sensação de noob em todos os passos. Mas tudo começou quando a pegação foi ficando mais intensa após alguns meses de namoro. As mãos que, até então, se limitavam apenas aos seios foram descendo ao passo que o tesão, o medo, o suor e a puta insegurança confortável iam aumentando e se misturando com a vontade de ir além (e nem eu e nem ela sabíamos o que era isso). De início, era aquela sarração com roupa, velcro com velcro da calça mesmo. E, pra nós, estava tudo ok. Prazer alcançado, felicidade no rosto e acabava lá mesmo. Mas, num fatídico dia, ouvimos uma amiga falando que você só é sapatão de verdade se chupar uma xoxota. Foi aí então que tivemos um estalo: “Ops, o que estamos fazendo até agora?”. Decidimos descobrir os mistérios da caverna do dragão começando com uma discotecada básica. Até aí, tudo certo. DJ, toca o som, tô ficando louca e cê também. Mas faltava aprender a cantar na língua sapatina. Então, fui primeiro. Ariana nata, xá comigo. Fui chupando, meio que beijando, meio que enrolando, meio barro, meio tijolo. Não sabia o que tava fazendo e naquela época eu não vi filme algum, nem tutorial no YouTube e nem nada. Aprendemos na prática. Só ia sendo guiada pelos gemidos, quanto mais alto, mais eu continuava os movimentos. O melhor tutorial foi seguir os reflexos dela. Depois de muito alongamento bocal e movimentos intermitentes, veio o gozo mais tenso e intenso. Pronto, mundo novo. A coisa foi louca. Não paramos mais. Agora era a vez dela. Montanha-russa de prazer, vamos de novo? Cada dia era uma nova aventura, o lance sempre foi conhecer ela e me reconhecer em nós. Depois disso, a gente começou numa onda de orgasmos múltiplos pesados. O máximo que contamos foram 11. Mas aí, também, nunca mais. Foi diferente por ser a primeira e por ser ela. Quando tem amor, a gente saca depois que o número 1 e o 11 sempre andaram juntos. – Yasmin, 26

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SEM DEIXAR NA MÃO

Fico com minas desde os 15 anos, mas, como eu não era assumidamente sapatão, ainda tinha uma cabeça muito heteronormativa: se homens já tinham me feito gozar com a mão e eu ainda era virjona, apenas gozar na mão de uma mulher não significava que a gente tinha transado. Então, com 16 anos, apaixonadíssima e ficando com uma menina (minha melhor amiga, óbvio) a gente decidiu que tinha que “perder a virgindade” igual todas as nossas amigas hétero, com aquela história de penetração, dor, sangue, etc. Compramos um dildo, uma comeu a outra, choramos e finalmente acreditamos que não éramos mais virgens, mesmo já tendo tido umas dezenas de orgasmos juntas antes. Foi tão ridículo quanto fofo. – Débora, 29

BAIANINHA DE MARACUJÁ

Eu tinha 14 anos e estava no primeiro colegial. Só ficava com meninos até chegar a repetente de outro colégio com cara de má e uma camiseta escrito “emo multiemoção”. Apaixonei, o baile seguiu, mãozinhas dadas aqui, mãozinhas dadas ali. Álcool, churrasco, muita Baianinha de maracujá e Smirnoff Ice. Escada do prédio. Luzes apagadas. Incômodo. Gostei. Incômodo. Gostei. Gostei e gostei. – Natacha, 26

CALÇA ATÉ O JOELHO

Eu tinha 17. Ela tinha 27. Ela se dizia hétero, eu me dizia confusa. O beijo de despedida se prolongou mais que o esperado dentro do carro dela, que estava estacionado um pouco acima da minha rua. Ela tomou a iniciativa. Eu só correspondia. Eram os beijos que marcavam o ritmo acelerado dos nossos corpos que começavam se juntar, se fundir. As minhas mãos ainda descobrindo os caminhos. As mãos dela mostrando outras direções. Não pensava em nada. O som da voz dela, reagindo ao meu toque, me deixava fora de mim, fora do que em outros momentos me geraria culpa. Não tinha dúvida nenhuma, eu queria aquilo tanto quanto ela. Meu corpo falava o mesmo. O corpo dela também. Foi num carro, foi sem música de fundo, sem velas, sem planejamento, foi sem blusa, no desconforto de uma calça jeans até o joelho, mas foi minha primeira vez. Foi com ela, sem culpa, sem remorso, sem medo, sem nenhum outro sentimento que não fosse prazer e amor. – Alice, 31

Ilustração: Luiza Formagin/ VICE

PERTURBADAS DE TESÃO

Meu primeiro sexo lésbico, assim como meu primeiro beijo lésbico, foi um pouco tardio. Nascida no interior, onde fiquei até meus 19 anos, estava destinada a uma heterossexualidade fajuta. Cheguei na cidade grande já dando as caras nas festinhas de meninas e foi em uma delas que aconteceu. As coisas começaram a esquentar durante os beijos com uma amiga que já havia ficado. Perturbadas de tesão, não aguentamos mais e fomos para uma cabine do banheiro, transamos lá mesmo, de pé contra a porta, embaladas pelo som da pista. Perdemos a noção do tempo e, quando já não tinha música, saímos. A festa tinha acabado. Havia sido a primeira vez dela (hétero confusa, até então) com uma menina também. Tivemos outras transas, mas no conforto das nossas camas. Entre a gente rolou uma paixonite mútua não assumida na época e somos amigas até hoje. Fico feliz que tenha sido com ela e até mesmo desse jeito, uma espécie de combo: primeira transa lésbica com um quê de fetiche. – Juliana, 30

EU IMITEI E CHUPEI ELA

Eu tinha 14 anos e rolou enquanto meus pais foram na padaria comprar sorvete, algo assim. A menina foi na minha casa e começamos a nos pegar na minha cama. Eu não sabia o que fazer, então, deixei ela tomar a frente, já que era mais velha e experiente. Ela começou a me chupar, mas eu não senti muito tesão, na real. Eu tava achando tudo muito bizarro e mecânico. Daí eu imitei e chupei ela. E foi massa. Mas tudo mecânico. Acabou, ela foi embora e meus pais chegaram. Foi meio que uma rapidinha. – Helena, 29

EU, VOCÊ E MEU MARIDO (SEM O MEU MARIDO)

A primeira vez que eu transei com uma mina eu tinha 30 anos e estava casada com um cara. Ela era um bocado mais nova, ex-namorada de uma mina que trabalhava comigo, e começamos a conversar pelo Facebook por alguma afinidade que não me lembro mais. Papo vai, papo vem, a conversa virou paquera. E, como eu e ele sempre falávamos de fazer um menàge, fui levando a brincadeira. Daí, um dia, depois de uns bons amassos, ela virou pra mim e disse: “Meu lance é só com você. Não vai rolar dormir com teu marido, beleza?”. Voltei pra casa, dei a notícia pra ele e, como eu sempre tive vontade de transar com uma mina, mesmo #chatiado, combinamos que eu ia em frente sozinha, até que o momento da primeira vez chegou. Apesar de não ser tão simples como eu tinha imaginado ou visto nos filmes (é complicado organizar tanta perna entre perna no meio da euforia), ela sabia que eu nunca tinha ido tão longe com uma mina antes e fez tudo rolar da forma mais natural e tranquila possível. E, ó, foi bem gostoso. Nosso rolo durou uns três meses e somos amigas até hoje. O casamento acabou pouco depois, nunca mais nos falamos, e há mais de dois anos namoro uma mulher. – Amanda, 36

DEPOIS DA VERNISSAGE

Minha primeira vez aconteceu quando eu tinha 21 ou 22 anos, no meu primeiro ano morando fora do Brasil. Não esperava me apaixonar, foi bem por acaso. Fui fazer uma exposição em uma cidadezinha e ela ajudava na exposição. Estava ficando na casa dela e nos beijamos na noite da vernissage, mas eu não lembrava de nada no dia seguinte. Num outro dia, sentamos na cama e eu ficava só pensando que não sabia nada, mas me joguei e deixei acontecer. Fluiu, não teve uma regra, foi super legal e aconteceu naturalmente. Foi diferente de alguma maneira, pois era um corpo diferente, uma estrutura diferente e não sabia direito o que fazer, mas fiz oral, carícias, dei beijos. Ela foi a única namorada que eu tive. Foi ruim quando terminamos, a gente chorou muito quando contei que tinha dúvidas. Nos falamos até hoje, apesar de não sermos melhores amigas. Me identifico como bissexual, mas, no momento, era uma descoberta e foi muito bonito e especial. – Lais, 30

NADA DE PINTO

O meu primeiro sexo lésbico foi mais divertido do que romântico, no banheiro de uma balada. Apesar da falta de romantismo, foi com uma pessoa que se tornou cada vez mais especial e me ensinou muito sobre lesbianismo (na teoria e na prática – risos), inclusive que pra ter sexo não precisa de pinto. – Nicole, 29

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