O homem responsável pelo pior ataque de extrema-direita na Alemanha em quarenta anos não era, mas palavras de um especialista em extrema-direita, “um neonazista clássico”.
Em vez disso, julgando pelo material postado na internet, Tobias Rathjen parece ter sido estimulado por uma mistura tóxica de ideologias racistas, de teoria da conspiração e incel, e provavelmente sofria de graves problemas mentais, dizem especialistas.
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“Seu manifesto e vídeos mostram uma mistura de teorias da conspiração, racismo e ideologia incel”, disse Daniel Koehler, diretor do Instituto Alemão de Estudos de Radicalização e Desradicalização, a VICE News.
“Ele não era, pelo que vi até agora, um neonazista clássico, e de suas próprias postagens, também é provável que ele sofresse com questões de saúde mental. Saúde mental e extremismo, [e] pensamento de teorias de conspiração andam juntos.”
As investigações apenas começaram sobre o que levou o alemão de 43 anos a matar nove pessoas em dois bares de narguilé, pontos de encontro populares entre jovens turcos, num ataque racialmente motivado em sua cidade natal de Hanau na noite de quarta-feira, antes de atirar na mãe e em si mesmo.
Mas até agora, nenhuma evidência emergiu de que ele tivesse laços com organizações de extrema-direita, ou indicando que ele agiu como parte de uma rede maior. Peter Beuth, ministro do interior do estado de Hesse, disse na quinta que o atirador não estava no radar da polícia ou das agências de inteligência por suas visões extremistas.
Muito do que sabemos sobre a visão de mundo perturbadora de Rathjen até agora foi revelado numa carta de 24 páginas e em vídeos que ele postou na internet antes do ataque. Na carta, Rethjen revela suas convicções genocidas, pedindo pelo “extermínio completo” de muitas “raças e culturas no nosso meio”, e defendendo a superioridade da cultura alemã.
‘Termos explicitamente eugenistas’
“Ele odiava estrangeiros e não-brancos”, tuitou Peter Neumann, diretor do Centro Internacional de Estudos de Radicalização de Londres, sobre o que ele viu no manifesto.
“Ele pedia o extermínio de vários países do Norte da África, Oriente Médio e Ásia Central (que tem maioria muçulmana). Ele justificou matar populações de países inteiros em termos explicitamente eugenistas, dizendo que a ciência prova que certas raças são superiores.”
Rathjen também disse que não tinha um relacionamento com uma mulher nos últimos 18 anos, por escolha própria, segundo ele.
A carta e os vídeos também deram um vislumbre alarmante das teorias da conspiração vívidas que informavam a visão de mundo de Rathjen – crenças que, segundo especialistas, provavelmente eram uma indicação de grave doença mental.
Na carta – descrita pelo procurador federal alemão Peter Frank como um “tipo de manifesto” mostrando “pensamentos confusos” e uma “atitude profundamente racista” – ele dizia que seus pensamentos estavam sob controle de leitores de mente, trabalhando para uma “agência de inteligência” controlada por uma elite secreta.
E num vídeo postado em seu canal do YouTube dias antes do ataque, intitulado “Minha mensagem pessoal para todos os americanos”, Rathjen elaborava ideias similares, dizendo que os EUA estava sob controle de “sociedades secretas invisíveis” que usavam “métodos malignos de controle de mente” e matavam crianças em bases militares subterrâneas.
“Acordem!”, ele dizia no vídeo, assistido em cache pela VICE News. “Localizem esses espaços, juntem muitas pessoas e os invadam. É seu dever como cidadão americano acabar com esse pesadelo.”
Jan Rathjen, pesquisador da Amadeu Antonio Foundation, uma organização alemã que trabalha para combater a extrema-direita, disse a VICE News que as visões extremistas do atirador eram fortemente influenciadas por teorias da conspiração.
“Ele espalhava sua própria versão da narrativa da ‘Grande Substituição’, e acreditava que uma ‘elite’ secreta estava espionando todos alemães, mas especialmente ele”, ele disse. “Ele até estava convencido que esses supostos conspiradores podiam ler sua mente.”
Robert Lüdeck, porta-voz da fundação, disse a VICE News que essas crenças conspiratórias ilusórias aparentemente fizeram o atirador se sentir obrigado a tomar medidas urgentes.
“Ele sentia uma grande ameaça sobre si e seu povo, e acreditava que ele era o escolhido para defendê-los à força contra inimigos de fora. Ele acreditava que tinha sido escolhido, portanto se sentiu legitimado para realizar seu ato de violência.”
Mas enquanto Rathjen tinha uma aparente fixação em conspirações fantásticas nos EUA – o site dele continha links para sites de teóricos da conspiração americanos conhecidos – políticos alemães estão apontando para algo mais perto de casa por ajudar a colocar um alvo nas vítimas da cidade natal do atirador.
Rathjen tinha como alvo especificamente bares de narguilé – populares entre imigrantes – e suas nove vítimas eram de origens estrangeiras, na maioria turcos.
Lorenz Gösta Beutin, legislador do partido de esquerda Die Linke, disse que o partido de extrema-direita AfD, que vem sendo culpado por estimular a xenofobia na Alemanha nos últimos anos, vinha realizando uma campanha contra bares de narguilé no estado de Rathjen nos últimos meses.
“Terrorismo de extrema-direita em Hanau contra pessoas relaxando num bar: o AfD, também em Hesse, vem fazendo campanha contra bares de narguilé há meses”, tuitou Beutin, postando propagandas do AfD pintando bares de narguilé como locais de estupro coletivo e outros crimes, e pedindo policiamento mais rigorosos desses comércios. “E essa é apenas uma pequena seleção.”
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