Mesmo sem água, moradores de Guarulhos recebem contas altas
Moradora exibe contas de água. Uma delas, de abril, aponta R$ 1.400. Foto: Lucas Dantas

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reportagem

Mesmo sem água, moradores de Guarulhos recebem contas altas

Em abril deste ano, uma mulher chegou a receber uma conta de R$ 1.400.

"É pedir pra Deus mesmo. Tá tenso", escreve no grupo de WhatsApp uma moradora do Portal Flora, conjunto habitacional localizado em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, composto por famílias contempladas pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Desde o início de setembro, a falta de abastecimento de água tornou-se uma dor de cabeça e só começou a melhorar na última quarta (27).

O problema não é novidade, já que os moradores alegam que os rodízios acontecem desde pouco tempo depois da entrega dos apartamentos, oficializada em maio de 2016. Eles informam também que, nos últimos meses, mais de 300 famílias receberam contas de água com valores alterados.

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Ali, vivem cerca de seis mil pessoas de baixa renda. Muitas delas vieram de comunidades como a do Baquirivu, que, meses antes da mudança enfrentou enchentes que destruíram barracos e levaram mobiliário, eletrodomésticos e roupas.

Um dos apartamentos do Portal Flora. Foto: Lucas Dantas

"Recentemente, teve gente que chegou a ficar 20 dias sem água dentro de casa", afirma Robert Talazans, síndico do condomínio localizado no bairro Vila Nova Bonsucesso. "Quando dava 11 da manhã, meio-dia, não tinha mais água."

No ano passado, ele conta, os habitantes se dirigiram até o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). "Brigamos e eles garantiram que deixariam a água ligada todos os dias durante 12 horas. Eles cumpriram com o que falaram e ficamos, mais ou menos, sete meses com água. Recentemente, eles reduziram e não tivemos ciência dessa redução."

Morador recolhe água de uma torneira externa. Foto: Lucas Dantas

Apesar de os abastecimentos com carro-pipa fornecidos pelo SAAE, a água não era suficiente e os moradores acabavam economizando o pouco que conseguiam para cozinhar. Banho de chuveiro era luxo. "Nos grupos de WhatsApp, as pessoas comemoram que vão tomar banho, que vão conseguir lavar o cabelo pra ir trabalhar", conta Robert. "Pegou a gente de surpresa. Se soubéssemos antes, teríamos nos preparado."

Os moradores do Portal Flora são contemplados pela Tarifa Social de Água e Esgoto, portaria que estipula uma taxa de, no máximo, R$ 11,22 para consumo de até 10 m3 de água. Robert menciona que mais de 300 famílias receberam contas com valores excedentes. "Teve muitas conta no valor de R$ 100, R$ 200 e até de R$ 1.400".

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Morador carregando balde de água até sua residência. Foto: Lucas Dantas

Procurado pela VICE, o SAAE admite parte da culpa e declara que a obra do Portal Flora "foi mal dimensionada pela administração anterior, que não ofereceu condições de infraestrutura para que a população ali fosse atendida com alguns serviços básicos, como o abastecimento de água."

A autarquia afirma ter feito uma nova visita técnica nesta quarta (28) e concluiu que "as tubulações internas têm capacidade abaixo da necessária para encher os reservatórios de cada um dos condomínios". Por isso, estudos foram iniciados para indicar as modificações necessárias na rede interna.

Roupas acumuladas e recipientes com água em um dos apartamentos do Portal Flora. Foto: Lucas Dantas

Sobre as contas de água com valor diferente do estipulado pela Tarifa Social, o SAAE justifica que esse benefício é concedido durante um ano. Após o período, é preciso fazer novamente a solicitação via Secretaria Municipal de Habitação. "No entanto, muitos moradores não fazem essa solicitação e se tornam clientes comuns. Mesmo assim, os consumidores podem procurar os serviços de atendimento ao consumidor."

Nesta quinta (28), o síndico Robert enviou uma mensagem de áudio para a reportagem da VICE avisando que a situação está, aos poucos, melhorando. "Estamos nos organizando para não ficar sem água e estamos conseguindo nos estabilizar, graças a Deus", diz.

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