Identidade

Fazer anos no Verão é uma autêntica merda

Uma compilação de aniversários de Verão - a melhor ou a pior época para fazer anos, consoante a perspectiva.
fazer anos no Verão
Ilustração por Teresa Cano.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Fazer anos no Verão não é só abraços com muito suor, turistas por todos os lados e sítios sem ar condicionado. Fazer anos na época estival é, no mínimo, frustrante, pelo menos para quem se importa com isso. Este ano tive que mudar a data do jantar umas três vezes, porque toda a gente está de férias, em festivais ou a fazer coisas mais interessantes do que vir à tua festa de merda.

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Mas, a coisa é ainda mais traumática quando és criança. Nunca me vou esquecer de um aniversário em concreto, quando era pequena, acho que fazia 8 ou 9 anos. A minha mãe organizava-me sempre uma festa no parque ao lado de casa, com bandeirinhas penduradas nas árvores, uma toalha de piquenique aos quadrados cor-de-rosa e um bolo feito de donuts e gomas. Sabia que alguns dos meus amigos, como sempre, não iriam poder vir, mas os que estavam confirmados também não apareceram. Passaram 20 minutos, 40, uma hora, uma hora e meia… Assumi que já não vinha ninguém e desatei a chorar agachada num banco.


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Não, não precisas de ter pena minha, afinal os meus amigos lá apareceram, só que tinham todos combinado chegar mais tarde, os estupores. Por isso houve um final feliz, suponho. Seja como for, sempre invejei aqueles afortunados que fazem anos no Inverno, com festões com 20 miúdos e muitos presentes.

Agora, estou quase a fazer 30 anos. Não sei porque é que hoje em dia está na moda montar uma mega festa para celebrar algo que nos devia fazer chorar. É como se fossem os novos 18 anos e estejamos a comemorar ser maiores de idade. Nos últimos meses, o algoritmo do Mark Zuckerberg fez com que o feed de todas as minhas redes sociais se enchessem de artigos suicidas do tipo "Coisas que deves fazer antes dos 30", "Como mudar o teu corpo a partir dos 30", ou "O dinheiro que tens que ter poupado quando chegares aos 30". Enfim, depois de várias semanas a queixar-me de todos estes problemas ridículos de primeiro mundo, falei com várias pessoas para que me contassem as suas histórias.

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Do armário ao bordel

"A minha história aconteceu quando fiz 19 anos. Faço anos no dia 8 de Agosto e não tinha absolutamente ninguém com quem comemorar. Também é verdade que, na altura, não tinha muitos amigos, por isso não era assim tão difícil que algo do género acontecesse. Os meus primos, com quem não tinha muito em comum, tiveram pena de mim e propuseram levar-me a sair à noite. Pensei, porque não?

Apesar de não saber que tipo de festa tinham em mente. Levaram-me a um bordel de beira de estrada que cheirava a mofo e ofereceram-me um encontro sexual com uma prostituta que era muito gira, mas estava muito mal vestida. O problema é que eu, naquela altura, ainda não tinha saído do armário - e não era ali nem daquela maneira que o queria fazer. Por isso fiquei calado e aceitei o presente". — Joaquín, 27 anos

A pior canção de parabéns da história

"Faço anos dia 13 de Agosto, mas a verdade é que sempre gostei disso. Vivo numa terra linda, ao lado da maior praia da Galiza. No meu aniversário organizava sempre um acampamento na praia com todos os meus amigos, era muito divertido. Mas, a coisa mudou quando fui viver para Barcelona. As pessoas escapam de Barcelona em Agosto.

Um ano, as minhas duas amigas que ficaram na cidade organizaram-me uma festa surpresa num terraço. Para que não me sentisse sozinha, imprimiram fotografias de todas as que não estavam e colaram-nas na parede. Além disso, pediram a cada uma que mandasse uma mensagem de voz a cantar os parabéns e juntaram-nas todas para que soassem em uníssono quando viesse o bolo. É a pior música de parabéns que alguma vez ouvi, mas o que conta é a intenção (suponho)". — Nerea, 28 anos

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Avós e piñatas

"Odeio piñatas. Sabem porquê? Porque num dos meus aniversários, todos os meus amigos estavam de férias e a minha avó lembrou-se de convidar os vizinhos para encher a sala. Por isso, quando fiz 11 anos, celebrei-os rodeada de velhos, que passaram a tarde a jogar às cartas e ao bingo. Até havia um ou outro que nem sabia que eram os meus anos. Como não havia crianças, quando chegou a piñata todos os idosos se agacharam para apanhar as guloseimas. Depois devolveram-mas, claro, porque tinham os níveis de açúcar demasiado altos para as poderem comer. Foi muito triste". — Jose, 33 anos

A piscina

"Fazer anos no Verão e ser pobre é uma merda. Havia uma miúda da minha turma que tinha uma casa com piscina e toda a gente ia aos anos dela. Como aquele episódio dos Simpsons em que o Martin Prince comprava amigos graças à sua piscina enorme.

A minha mãe, para tentar compensar, no ano seguinte comprou uma piscina insuflável, pô-la à frente do portão do meu prédio e organizou jogos, como corridas de sacos em que tínhamos que levar uma batata numa colher que segurávamos com a boca. Foi aí que percebi que, para além da minha mãe ser muito fixe, não preciso de dinheiro para me divertir (apesar de ajudar um bocado)". — Carla, 24 anos

Os presentes são piores

"Os aniversários no Verão escondem a radiografia perfeita das classes sociais espanholas. A mim, sempre me chateou fazer anos no Verão por uma razão muito simples: recebia sempre piores presentes. Passava o ano a ver como o resto dos meus amigos recebiam a carrinha da Barbie, bicicletas ou carros telecomandados. São assim os presentes dos ricos. Mas, no Verão, esses miúdos vão para as suas casas de férias, por isso só me restavam os presentes dos amigos de classe operária como eu. É um pensamento muito superficial, mas quando és criança importas-te com estas coisas". — Paula, 38 anos

O mamilo da prima

"Eu sempre adorei fazer anos no Verão e até posso dizer que, graças a isso, guardo uma boa recordação do meu despertar sexual. Como estava muito calor, a minha mãe organizava-me sempre uma guerra de balões de água. Graças à água, pude ter um vislumbre da forma perfeita de um seio, coroado por um bonito e eriçado mamilo. Era da minha prima em segundo grau, isso não é estranho pois não?". — Fer, 23 anos


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