Fotos meigas do inventor não oficial das selfies com famosos
Andy Warhol and ME, 1986. 


FYI.

This story is over 5 years old.

Viagem

Fotos meigas do inventor não oficial das selfies com famosos

Jean Pigozzi começou a tirar selfies com celebridades em 1973.
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
MS
Traduzido por Marina Schnoor

O fotógrafo e filantropo Jean “Johnny” Pigozzi era um estudante de Harvard em 1973 quando viu a atriz Faye Dunaway numa festa e pediu para tirar uma foto com ela. “Todo ano o Hasty Pudding, um clube de teatro de Harvard, convida um astro do cinema [para uma festa]”, Pigozzi explicou a VICE. “Todo mundo queria um autógrafo, mas eu sentia que autógrafos podiam ser falsificados.”

Quando Dunaway disse sim para a foto, Pigozzi fez algo extraordinário (pra época). Ele ficou do lado dela, esticou o braço, apontou a câmera para os dois e clicou — fazendo uma selfie com uma celebridade décadas antes da invenção do Instagram. “Agora você tem um iPhone e uma câmera, e pode se ver na tela e tirar muitas fotos. Mas quando comecei a fazer selfies, eu só tinha uma chance de clicar a foto, então tinha que acertar”, diz Pigozzi.

Publicidade

Depois da universidade, Pigozzi se tornou um insider em um mundo em expansão. Em 1974, ele exibiu trabalhos no Musée d'Art Moderne de Paris. Logo depois, sua grande amiga Bianca Jagger o ajudou a conseguir uma ponta num filme (que acabou nunca sendo lançado). Uma noite, Jagger convidou Pigozzi para um jantar íntimo com Liza Minelli, que contou sobre um novo clube noturno de Nova York chamado Studio 54. As baladas no clube renderam fotos com celebridades como Grace Jones, Andy Warhol, Helmut Newton e Ai Weiwei. Aí, nos anos 80, Pigozzi começou a dar luxuosas festas na piscina em sua casa em Cannes e voltou suas lentes para os convidados, capturando momentos singelos com seus amigos famosos.

Antes da inauguração da exposição de Pigozzi na IMMAGIS Fine Art Photography em Munique, que vai de 22 de junho a 4 de agosto, a VICE falou com o fotógrafo sobre o poder da cultura moderna das selfies e usar uma câmera para colecionar momentos de sua vida glamourosa.

ME and Lady Gaga, 2012. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Como você se envolveu com fotografia?

Quando era menino, eu queria fazer um diário, mas nunca conseguia ler o que eu escrevia, porque minha letra é horrível e também sou disléxico. Então meu pai me deu uma pequena câmera Brownie. Aí, quando fiz dez, ele me deu uma Leica bem velha, e comecei a usá-la. Meu pai morreu quando eu tinha 12 anos, e comprei uma câmera melhor. Tiro fotos todo dia desde então, e estou com 66 anos. Para minha surpresa, ainda gosto muito.

Publicidade

Como as pessoas reagiam quando você pedia para tirar uma selfie com elas?
As pessoas não entendiam o que eu estava fazendo. Eu tirava a foto bem rápido e só uma, então não tinha como a pessoa reagir. Naquele tempo, as pessoas até faziam autorretratos, mas sempre de maneira bem organizada, num estúdio. Pintores e escultores fazem isso há séculos, mas fazer algo assim como uma câmera era novidade.

Helena Christensen and Bono and ME, 2010. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Você pode descrever a vida noturna de Nova York nos anos 80, quando muitas dessas fotos foram tiradas?

Eu frequentava o Studio 54 e tenho que dizer — já estive em milhões de clubes na minha vida, mas aquele era de longe o clube noturno mais divertido, excitante e louco que já vi. Antes os clubes eram escuros, com só uma fonte de luz. Era deprê, OK? E o Studio 54 era enorme e tinha uma música fantástica. Eles tinham milhões de frequentadores, de freiras andando de patins a Calvin Klein e Iman.

Não tinha área VIP, o que era ótimo. Uma noite você podia estar sentado ao lado de uns caras de Nova Jersey com suas namoradas bregas, na outra você se sentava com Andy Warhol e seus amigos glamourosos. Steve Rubell ficava na porta e decidia quem entrava. Ele era muito bom em misturar públicos – era como um cara escolhendo o elenco de um filme.

Sergio Leone and ME, 1978. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Quais alguns de seus momentos favoritos fazendo essas fotos?

O barato que sinto é quando estou apertando o obturador. O resultado depois, não é tão legal assim — exceto quando faço uma impressão em tamanho grande e a vejo num museu ou galeria. Não me interesso muito em ver minhas fotos nem em editá-las. Agora que tem uma tela na sua câmera, você sabe que se foto ficou boa ou não, mas muitas vezes eu nem olho.

Publicidade

Algumas das outras pessoas nas fotos já viram seu trabalho, e qual foi a reação delas?
Sim, algumas pessoas já viram e até compraram a fotografia. Fiz uma exposição dois anos atrás na Gagosian Gallery em Nova York e vendi todas as minhas fotos. Eles geralmente não te dizem quem comprou, mas dizem “Ah, um amigo seu comprou essa”. Aí vou até a casa de um amigo e vejo a foto na parede. Acho que as pessoas não conseguem resistir a se ver numa fotografia.

ME with Ai WeiWei and Maurizio Cattelan, 2016. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Tem algum famoso que “escapou” de uma selfie sua?
Tem fotos que eu gostaria de ter, como Stanley Kubrick e Picasso. Tem milhões de pessoas que admiro e com quem gostaria de ter tirado uma foto, mas não me esforço realmente. Não sou uma groupie que fica na fila por cinco horas na chuva para tirar uma foto com o Slash do Guns N' Roses.

Tem um limite no meu lado groupie. Se a pessoa estiver na minha frente, vou tirar uma foto com ela. O engraçado agora é que as pessoas chegam para mim e perguntam “Jean, por que você não tira uma foto comigo? Não sou bom o suficiente?”

Naomi Campbell, Villa Dorane, Antibes, 1993. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Você pode descrever a cena na Villa Dorane onde a série Pool Party foi feita?
Tenho uma casa no sul da França, e todo ano dou uma festa durante o Festival de Cinema de Cannes, mas é uma festa para os meus amigos. Não estou fazendo publicidade de um filme ou ator. É tudo bem relax. As garotas não usam salto alto ou vestidos apertados. Os caras não usam smoking. Já recebi várias pessoas incríveis em todos esses anos. Geralmente é um dia ensolarado e as pessoas estão só curtindo, é por isso que tiro fotos.

Publicidade

Nunca vou tirar uma foto com alguém fazendo algo embaraçoso ou parecendo mal. Os paparazzi tentam roubar fotos, e muitas vezes são desagradáveis. Não publico minhas fotos na revista People. As celebridades confiam em mim, então não forçam um sorriso. Conheço algumas delas há anos, como o Bono e o Michael Douglas.

Uns três ou quatro anos atrás, decidi fazer um livro. É um livro muito feliz. O mais engraçado sobre as fotos do livro é que elas foram tiradas num lugar menor que uma quadra de tênis. É como fazer um filme no lobby do Carlyle. Visualmente, é muito interessante. Era um lugar só, mas todas as fotos são diferentes.

Zebra, 2015, Villa Dorane, Antibes. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Você ainda tira selfies?
Sim. Tiro menos porque fiquei um pouco entediado, mas se encontro alguém que realmente me empolga… Eu estava no Japão e tirei uma foto com Murakami. Agora as pessoas me pedem para tirar selfies. Elas chegam com seu celular e querem que eu tire uma foto com elas com o meu. Com meu celular, nunca; eu uso uma câmera Leica.

Na sua opinião, por que as selfies atraem tanto as pessoas hoje?
Essa é uma cultura “eu eu eu”. É uma coisa bizarra em termos de promover a si mesmo, que é um fenômeno novo porque você não podia fazer isso antes. No Instagram de qualquer pessoa, 90% das fotos são dela, dos filhos, do que ela come, o que veste. Não acho isso imensamente interessante, mas as pessoas acham a si mesmas fascinantes.

Sempre pensei nisso como uma brincadeira — minhas selfies não eram para ser levadas a sério. Mas vejo pessoas que levam horas para tirar uma selfie. Elas querem mostrar que foram para Miami, Aspen, LA; que estão comendo sushi caro ou usando Balenciaga. É um culto estranho a você mesmo, o que acho esquisito.

Publicidade

Qualquer um pode pegar um lápis e um pedaço de papel e fazer um desenho, mas poucas pessoas podem desenhar como Picasso ou Matisse. Então, agora que todo mundo tem um iPhone e tira fotos o dia inteiro, não quer dizer que eles são bons fotógrafos. Todo mundo tem os mesmos instrumentos, mas como você os usa — essa é a grande diferença.

Warhol's Stuffed Dog at the Factory and ME, 1978. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

ME and Nobuyoshi Araki, 2017. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

ME and Ed Ruscha, 2012. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Fireworks, 2013, Villa Dorane, Antibes. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Larry Gagosian and Helmut Newton, Villa Dorane, Antibes, 1991. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

E: Lewis Hamilton, 2015, Villa Dorane, Antibes. D: Elle MacPherson, Villa Dorane, Andibes, 1997. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Mick Jagger and girls, 2011, Villa Dorane, Antibes. Foto: ©Jean Pigozzi. Cortesia IMMAGIS.

Matéria originalmente publicada na VICE US.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.