Fotos por Larissa Zaidan; texto por Amanda Cavalcanti
Numa choperia do Sesc Pompeia absurdamente abafada e mais cheia do que eu jamais tinha visto, o Nublu Jazz Festival 2017 teve seu pico no terceiro dia de apresentações, com os norte-americanos Saul Williams, poeta e rapper, e Kamasi Washington, saxofonista, nova promessa do jazz nos Estados Unidos e grande estrela da noite.
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Tanto era que levei um tempo convencendo os meus amigos a entrarem na choperia e verem o show “de abertura” comigo. Apesar de ter começado devagar (com “Groundwork” e “Horn of the Clock-Bike”, também as faixa de abertura de seu disco mais recente, MartyrLoserKing), Saul não demorou a engatar em alguns de seus singles mais antigos e faixas mais agitadas, e, quando atingiu o apogeu de energia – e de calor! – desceu calmamente do palco e conduziu um pedaço do show no meio do público, que formou uma roda suada e empolgada em volta do rapper.
Acompanhado só de um DJ que soltava seus beats influenciados pela música industrial (o segundo disco do rapper, The Inevitable Rise and Fall of Niggy Tardust, foi co-produzido pelo Trent Reznor do Nine Inch Nails), Saul cantava à frente de um painel que exibia imagens como “Protesto não é crime”, “Fora Temer” (que arrancou sonoros gritos do público diversas vezes durante o show) e “feminismo abolicionista”.
Saul deixou sem palavras o público durante o curto intervalo entre sua apresentação e a de Kamasi, que preencheu o silêncio de maneira menos enérgica e mais elegante. A justaposição destacou os outros aspectos opostos dos dois shows: a banda de Kamasi, The Next Step, preenchia o palco todo com seu jubileu de metais, cordas, percussão, cantora e tecladista; ao contrário da proximidade proposta por Saul, Kamasi e o grupo deixavam a distância aumentar a impressão de grandiosidade do show.
Evitando os hits e temas mais conhecidos do álbum que o ascendeu ao status de nova estrela do jazz, The Epic (2015), o saxofonista focou nas jams durante a apresentação, que durou cerca de uma hora e meia. Apesar de desfalcados (no meio do show, o músico que tocava um bongô passou mal pelo calor e teve de se retirar do palco), o grupo terminou a bonita apresentação ovacionados pelo público.
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