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Tecnologia

​A Matemática Por Trás do Efeito Hipster

Se todo mundo tenta parecer diferente dos outros, todo mundo começa a ficar igual. Ao menos se você empregar um modelo matemático publicado recentemente que descreve este fenômeno.
Crédito: Shutterstock

Se todo mundo tenta parecer diferente dos outros, todo mundo começa a ficar igual. Ao menos se você empregar um modelo matemático publicado recentemente que descreve este fenômeno. E olha, observando as coisas por aí, parece ser bem preciso. Deixe-me lhe iluminar com um pouco de matemática.

"O efeito hipster é este fenômeno não-concertado emergente coletivo de ter aparência semelhante ao tentar parecer diferente", nas palavras de Jonathan Touboul, neurocientista matemático do College de France, em Paris, autor da pesquisa.

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Antes de mergulharmos de cabeça no modelo, temos que definir algumas regras: todo mundo já está de saco cheio do termo hipster há anos. A palavra não significa nada, tipo 'tipo' ou dizer 'vamos marcar hein, mas vamos mesmo'. Não dá pra culpar Touboul, porém, que me disse só ter usado o termo porque com ele vinha uma puta analogia para explicar melhor o funcionamento do modelo.

Logo, proponho que substituamos a palavra 'hipster' por 'fãs de bodes' neste artigo. Por quê? Porque eu tô afim.

Vamos lá.

De acordo com o modelo, as semelhanças no vestuário usado por fãs de bodes é uma consequência de dois fatores: primeiro, os fãs de bodes sempre querem se vestir de forma diferente dos outros fãs de bodes. O segundo fator é o tempo de reação dos fãs de bodes. Em outras palavras: demora um pouco até eles perceberem que ter uma barba comprida e tomar cafés caros é uma tendência, então decidem fazer o oposto e tirar a barba. Esta última parte é importante, e é a inovação dentro da teoria de Touboul.

Por conta do atraso na reação às tendências e as fórmulas usadas por Touboul, um equilíbrio é atingido em determinado ponto do tempo em que todos os fãs de bodes acabam fazendo a mesma coisa, até perceberem que estão se repetindo e então passam a fazer o oposto. O diagrama abaixo explica melhor:

Sei que parece meio complicado, mas calma. Na imagem abaixo da letra C, não há atraso. Como você pode ver, aquela imagem se assemelha à estática na TV, as tendências opostas – digamos, ter uma bicicleta descolada demais (branco) ou não ter uma bicicleta (preto) – não combinam, tornando o padrão completamente aleatório. Mas não é assim que funcionam as pessoas na vida real.

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Na imagem D há um atraso, e você pode notar a atitude anti-conformista levando a um equilíbrio em que a maioria das pessoas possuem uma bicicleta durante determinado período de tempo, e a maioria das pessoas não tem uma bicicleta no próximo período, exatamente porque todos querem ser diferentes.

O atraso possibilita um pico na quantidade de pessoas em oposição à última tendência, que só percebem serem parte de um coletivo quando muitas outras estão fazendo a mesma coisa.

Como você pode perceber, um ponto de virada claro é reconhecível em que todos os fãs de bodes de repente percebem que todos estão usando Clarks, e então leva um tempo para que os fãs de bodes passem a usar Timberland. Até eles perceberem isso e mudarem para outra coisa etc. rumo ao infinito.

Ok, talvez seja um jeito complicado de explicar algo que as pessoas já sabem há tempos, mas não é isso que acho importante nesta pesquisa. O que pra mim é importante é o fato de Touboul usar de forma eficaz uma analogia para tornar um modelo matemático relativamente complicado em algo mais transparente e interessante, para pessoas que cagam e andam para matemática.

O lance é que, você quer saber como funciona, por ser algo que você reconhece. E isso te deixa curioso para aprender o que a exótica linguagem da matemática tem a dizer sobre isso. Normalmente, eu não teria escrito nada sobre esta pesquisa, principalmente porque não teria entendido do que se tratava caso seu título fosse algo como "Sistema de Sherrington-Kirkpatrick do vidro de spin" ou "Bifurcação Hopf", e também porque matemática abstrata é algo que só é interessante para matemáticos. A não ser que as pessoas entendam do que se trata. E possam se relacionar com algo que conhecem. Algo como os amantes de bodinhos.

Tradução: Thiago "Índio" Silva