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Música

A Mix do Armand van Helden para a Masterpiece É uma Aula de Música para os Novinhos

O DJ, produtor e remixer de Boston reúne na famosa série da Ministry of Sound músicas que evocam sua memória afetiva, yacht rock e freestyle. E é bom demais.

Ouça uma mini mix da 'Masterpiece' do Armand

A famosa série Masterpiece, da Ministry of Sound, já contou com a participação de alguns dos expoentes da dance music, do Gilles Peterson ao Andrew Weatherall - e, mais recentemente, com a participação do ícone do drum and bass Goldie - que agraciaram nossos tímpanos com a sua própria compilação de mixes habilmente selecionada. Para a maioria, a série é uma viagem meticulosamente orquestrada rumo ao interior da mente de um DJ, um lugar onde toda a sua memória musical é colocada à prova e despejada ao longo de três CDs para refletir sua identidade. No entanto, para o inovador da house music Armand van Helden, de Boston, a Masterpiece foi a chance de fazer algo muito diferente, nostálgico até e muito especial.

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Throwwwwwback! (Mal aí, Armand)

"[A Masterpiece] é uma série em que todo mundo faz uma mix eclética de discos incríveis que, geralmente, muito pouca gente conhece. Normalmente, é uma viagem íntima", diz van Helden direto da sua residência de inverno em Miami. "Posso ser esse cara, mas perguntei se podia fazer algo diferente."

Em vez de escolher fazer um retrato musical da sua própria carreira, Helden seguiu um caminho diferente, apresentando três mixes temáticos: The Loft-Boston, Yacht Rock Don't Stop e Freestyle Forever.

Armand no modo 'The Loft-Boston'.

O primeiro disco da compilação, The Loft-Boston, é um aceno para um refúgio da terra natal de Armand, um lugar que foi instrumental para a sua evolução como DJ - o clube The Loft, dos primórdios do house de Boston. "'É meio que sobre a 'ideia' do Loft', diz Helden. "Quero que as pessoas sintam como se tivessem entrado numa máquina do tempo." O Loft foi o primeiro lugar onde o DJ e produtor de 44 anos, reverenciado por hits como "You Don't Know Me", pôde abrir suas asas como seletor, e onde ele viu o verdadeiro potencial da cultura da dance music como força unificadora. Não surpreende que ele tenha dedicado um terço da compilação ao clube.

"Lembro da reação às faixas "Show Me Love", do Robin S., e "Give It Up", do Goodmen. O Loft explodia com essa faixa", diz Van Helden, apontando ainda o poder do Loft como unificador de duas cenas muito segregadas da dance music na época - o deep house e a galera do rave/techno. "Essas duas comunidades não interagiam, você podia desenhar uma linha entre elas, então aquele espaço realmente uniu essas comunidades, forçou-as a conviver uma com a outra. Foi uma coisa bonita de se ver", explica.

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Yacht Rock Don't Stop.

Helden se afastou ainda mais das convenções ao dedicar a segunda mix da série a um som que pode ser equiparado a um churrasco de quintal, em fins dos anos 1970, com o seu tio Ted à beira da calvície - a escorregadia marca de grooves suaves originária do sul da Califórnia conhecida como yacht rock. "Curto compilações de yacht rock há muito tempo, mas nunca as mixei. Queria fazer isso e não me segurei, achei que seria engraçado", ele brinca.

O que não foi tão engraçado foi o processo para conseguir a liberação de faixas de gente como Boz Scaggs, Toto, Kenny Loggins e os Doobie Brothers. Para muitos desses artistas das antigas, a ideia das suas músicas acabarem na metade, levando à outra faixa (i.e., um mix) era confusa. "Eles não curtem essas coisas, não gostam que mexam nas suas músicas, cara", Helden ri. Em muitas ocasiões, ele só ganhou permissão para mixar uma ou duas barras dessas produções preciosas: "De alguma forma, o Ministry of Sound conseguiu fazer essas pessoas concordarem com que uma ou duas barras das suas músicas fossem mixadas. Isso é loucura num compasso quaternário, não é mixar de verdade, mas fiz o melhor que pude".

Freestyle Forever.

As seleções de van Helden se voltam frequentemente para esquecida era do freestyle, um gênero efêmero, focado no soul, que lançou artistas como Lisa Lisa e Stevie B. Helden disse que chegou a se vestir como este último para as gravuras que estampam os dois lados do lançamento (veja acima). "Queria garantir que seria divertido para mim", ele diz. Enquanto alguns escolheriam apenas destacar uma faixa ou duas de um movimento tão obscuro, Helden dedica a ele um disco inteiro. Ao final da seleção, você não só acaba querendo mais, mas pode se pegar fazendo uma busca no Google para descobrir outras pérolas e artistas do gênero.

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Helden não se esquiva do fato de que a sua compilação para a Masterpiece certamente vai contra a corrente e, às vezes, debocha das compilações como um todo, apresentando três sons muito diferentes com a intenção de que sejam ouvidos de forma autônoma, em vez de serem consumidos como uma mensagem musical única. "Na era moderna, não é muita gente que digere um disco inteiro, e acho que as pessoas serão forçadas a digeri-lo como um mix separadamente. Então, de certa forma, estou enganando a molecada", diz ele. "Talvez, no fim das contas, alguém o descubra seis meses depois e pergunte: O que é este mix de freestyle?', e você seja obrigado a tocar a coisa inteira."

"Ainda estou usando disfarçadamente aquela velha tática da escola, forçando-os a ler o livro inteiro", completa.

Masterpiece - Armand van Helden está disponível para venda no iTunes.

O Armand Van Helden está aqui:
soundcloud.com/armandvanhelden

O pai do David adora o Boz Scaggs - @DLGarber

Tradução: Fernanda Botta