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Drogas

Essa Campanha Vai Mudar Sua Opinião Sobre Maconha Medicinal

Produzido pelos amigos Tarso Araujo e Raphael Erichsen, o curta “Ilegal” conta a história de uma mãe, Katiele Fischer, e sua filha epiléptica de cinco anos.

Ontem (27), às 21h, meu táxi se aproximava da rua Rego Freitas, endereço da Matilha Cultural. No último andar, onde fica a sala de cinema, reunia-se um grupo de pessoas de diferentes idades, todas com o mesmo intuito que o meu: assistir ao lançamento do curta metragem Ilegal. Idealizado e produzido pelos amigos de longa data, Tarso Araujo e Raphael Erichsen, “Ilegal” conta a história de uma mãe, Katiele Fischer, 30, e sua filha epiléptica de 5 anos. São 22 minutos que registram a dificuldade da família em conseguir importar Cannabidiol (CBD), substância extraída da planta cannabis indica — em português bem claro, maconha.

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O curta de Tarso e Raphael destaca três pontos da história de Katiele — que pode parecer bastante específica, mas representa a realidade de diversos pacientes brasileiros: a felicidade de uma mãe em descobrir um medicamento que influencia rapidamente a melhora do quadro de sua filha; a burocracia excessiva e a falta de flexibilidade da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em relação à importação de substâncias derivadas da maconha; o desespero em testemunhar o retrocesso de seu desenvolvimento com a interrupção da medicação, consequência do agravamento de suas crises epilépticas.

O filme começa com uma ligação de Katiele para a Anvisa, questionando a retenção do suplemento vitamínico — como as pílulas de CBD são classificadas lá fora —, o que ela deveria fazer e quanto tempo mais deveria esperar. É fácil prever a forma como a conversa se desenrolou. As chances de você nunca ter precisado conversar com um atendente desinformado, instruído unicamente para complicar sua vida, são raras. Agora, imagina que você é mãe e, enquanto você tenta explicar sua situação para a pessoa do outro lado da linha, sua filha pode ter uma crise epiléptica a qualquer momento justamente por estar sem o maldito produto que, sem uma justificativa plausível (porque o simples fato de ser ilegal em casos como esse, você me desculpa, não é plausível), estão privando você de receber. Eu sei, é impossível imaginar.

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Foi durante a apuração da edição especial sobre a maconha da revista SuperInteressante que Tarso chegou a essa conclusão. Na posição de editor do especial — que você pode encontrar na banca mais próxima — Tarso se envolveu completamente no assunto. Por meio de Emilio Figueiredo, do site de ativismo canábico Growroom http://www.growroom.net/, o jornalista entrou em contato com uma mulher no Rio de Janeiro que consumia maconha medicinal. A conversa lhe rendeu outra fonte em Brasília. A moça tinha lhe dito que uma mãe desesperada queria a todo custo divulgar sua história e conseguir CBD para a filha. O diagnóstico da síndrome de CDKL5 havia saído um ano antes, mas a primeira convulsão da garotinha aconteceu quando ela tinha menos de 45 dias de vida. Nenhuma medicação funcionava e a garota somava cerca de 60 convulsões por semana. Esse número diminuiu absurdamente em menos de nove semanas de uso do CBD, remédio que a mãe encontrara quando pesquisava sobre a síndrome na internet. Essa é a história de Katiele e sua filha Anny.

Quando conversei com Tarso, depois da exibição do filme, nós dois com os olhos molhados, ele me explicou que só tinha chorado por causa de reportagem duas vezes na vida, uma delas, conversando com Katiele ao telefone. Ele sabia que não seria suficiente estampar sua foto em uma página da revista. Era preciso fazer mais por ela, mais pelos outros pacientes que ele havia entrevistado. Dois deles, inclusive, estavam ontem na Matilha. Gilberto Castro, 40, que usa a maconha para conter os efeitos da esclerose múltipla e Maria Antonia Goulart, 65, que substituiu antidepressivos e analgésicos pelos derivados da droga, assistiram ao curta comigo e, enquanto eu conversava com Tarso, pediram sua atenção para cumprimentá-lo pelo resultado.

Junto com Raphael, diretor criativo da produtora 3FilmGroup.tv, os dois organizaram uma viagem para fazer o curta em Brasília. O vídeo de 22 minutos que eu assisti inspirou os dois a começarem uma campanha, “Repense”, incentivando a pesquisa a respeito dos benefícios da maconha e expondo as dificuldades dos pacientes que precisam da droga ilegal para melhorar sua qualidade de vida. Cinco minutos e quarenta segundos foram extraídos do vídeo original e transformados em uma versão alternativa. Por ser mais curto e direto, a versão reduzida atingiria o público com mais facilidade, levando mais pessoas a compartilhar e apoiar a causa. Também foi criada uma página no site de crowdfunding catarse.me, para levantar fundos para criar um site informativo sobre cannabis medicinal com participação de médicos voluntários e produzir mais três vídeos como o de Katiele, com pacientes de doenças variadas. Tudo para conscientizar os brasileiros da necessidade, mais do que urgente, em legalizar o uso da droga.

Confesso que antes de assistir ao filme eu, pessoalmente, nunca tinha pesquisado ou me interessado profundamente pela maconha medicinal. Já tinha visto outros documentários sobre o assunto, lido alguns estudos e reportagens, mas nunca tinha pensado em abraçar uma campanha a favor da legalização desse segmento. Depois de assistir ao vídeo e conversar com Tarso, fiquei motivada a pesquisar sobre o assunto. Eu poderia falar mais um milhão de coisas e tentar explicar a você o que eu senti, pensei e conclui, mas acho que se você apertar o play no vídeo abaixo — sim, a versão reduzida — vai ter todas essas reações muito mais facilmente. Vá em frente.

Siga a Anna Mascarenhas no Twitter: @anapmm