Sebastian Meyer Fundou a Primeira Agência de Fotografia do Iraque

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Sebastian Meyer Fundou a Primeira Agência de Fotografia do Iraque

Sebastian Meyer é um fotógrafo americano que trocou Londres pelo Iraque em 2009, lá ele e o colega de câmera Kamaran Najm começaram a primeira agência de fotos do país, a Metrography.

Sebastian Meyer é um fotógrafo norte-americano que trocou Londres pelo Iraque em 2009. Ele e o colega de câmera Kamaran Najm começaram a primeira agência de fotos do país, a Metrography. Agora com 60 fotógrafos trabalhando pra ela, a Metrography saiu do nada para se tornar a fonte local mais confiável de fotojornalismo num país que sofre com a guerra e revoltas por décadas. O Sebastian já cobriu confrontos no Iraque, Afeganistão e Líbia, e já foi homenageado por seu trabalho em diversas ocasiões. Ele ganhou um Exposure Award na categoria Documentário e Fotojornalismo pelas fotos que fez na Líbia, e este ano foi selecionado como um dos Fotógrafos Emergentes da Magenta's Flash Foward. Sebastian tirou uma folga da sua rotina de desviar de balas e fotografar para falar com a gente sobre sua agência e como é viver e trabalhar no Iraque, e se esquivar de bombas na Líbia.

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VICE: Vamos começar com a Líbia. O que te levou até lá?
Sebastian Meyer: Eu estava trabalhando em Bagdá durante a Revolução Egípcia e estava muito difícil ficar no Iraque. Eu levantava às 5 da manhã e fotografava o dia inteiro. Depois voltava pra casa e acompanhava os eventos diários no Egito pela Al-Jazeera. Eu queria muito estar lá, mas não podia largar o trabalho. Quando finalmente terminei, Mubarak tinha sido derrubado e a revolução na Líbia estava em andamento. Então dirigi de Bagdá até As-Sulaymaniyah, que é onde moro. Peguei cerca de sete mil dólares em dinheiro de um trabalho que tinha feito em janeiro, enfiei numa meia fedida e peguei um avião pro Cairo. Lá me encontrei com o Washington Post e dirigi até a Líbia.

Quanto tempo você ficou lá?
No total fiquei na Líbia por um mês e meio. Eu não queria ir embora, mas tinha que fazer uma apresentação em Minnesota no começo de maio. Pensei em cancelar, mas no final tomei a decisão certa de sair de lá naquele momento. Eu estava muito cansado e comecei a ficar desleixado. Era uma história incrível para cobrir. O acesso era incrível, a história era fascinante e, melhor de tudo, a história conseguiu chamar a atenção do mundo. Mas era muito perigoso e algumas vezes aterrorizante.

Qual foi a situação mais assustadora?
Eu estava em Misrata e saí com a equipe das ambulâncias para as linhas de frente no centro da cidade. Foguetes, morteiros e bombas de fragmentação caiam por toda parte. O trabalho da equipe de ambulâncias era manter posição até que alguém precisasse deles, então ficamos lá sentados enquanto chovia bombas. Não tinha nada pra fotografar, nada pra fazer, nada pra tirar a minha cabeça do que estava acontecendo. Tive que ficar lá sentado e aguentar.

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Todos os 60 fotógrafos do Metrography fazem trabalhos encomendados? Qual é a história dos outros fotógrafos? Qual a origem deles e como eles entraram para a fotografia?
Não. Só uns dez dos nossos fotógrafos estão num nível alto o suficiente para serem usados em trabalhos assim. Nossos fotógrafos têm todo tipo de origem. Alguns deles tinham pais que eram fotógrafos. Outros simplesmente pegaram uma câmera e começaram a trabalhar durante a guerra. Temos poucos fotógrafos que se formaram em diferentes institutos de arte. Muitos dos fotógrafos mais jovens são refugiados e os mais velhos serviram na guerra entre Irã e Iraque. É um balaio bem misturado e todo mundo tem uma história pra contar.

Como você encontrou essas pessoas?
É tudo boca a boca. Todos os caras envolvidos nisso se conhecem, então foi bem fácil em alguns casos. Mas em geral, é uma luta. É muito difícil encontrar caras nas áreas mais perigosas e remotas: Al-Anbar, Mosul e algumas áreas ao sul. Fotógrafas mulheres são especialmente difíceis de encontrar.

Quantas fotógrafas vocês têm?
Temos duas fotógrafas e elas são excelentes. Julie Adnan já publicou na National Geographic. Tanto a Julie quanto a Bnar criam trabalho realmente únicos. Primeiramente porque elas têm acesso a 50% da população que os outros fotógrafos não podem alcançar. Em segundo lugar, elas confundem muitos homens lá só por serem mulheres fotógrafas. Isso desarma as pessoas. Em geral, as fotografias delas são mais íntimas do que a maioria das produzidas por homens.

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Que outros obstáculos você encara diariamente quando está trabalhando no Iraque? Você tem que ficar sempre atento, não?
A maior dificuldade é a paranoia geral em relação aos jornalistas — especialmente fotógrafos e cinegrafistas. O governo é paranoico, as forças de segurança são paranoicas e as pessoas são paranoicas. Passamos muito tempo bajulando e convencendo as pessoas a nos deixar fotografar. Em termos de segurança, é tranquilo no norte, onde moro. Mas o resto do Iraque não é tão seguro. Então sim, você se acostuma a ter atenção redobrada nessas áreas. Sendo assim, agora consigo me passar facilmente por curdo e não chamar muita atenção. Então quando estou fotografando na parte central do Iraque, não fico preocupado em ser reconhecido como estrangeiro.

Sua situação é mais rentável agora que a maioria da imprensa saiu o Iraque, permitindo que você venda mais fotos? Ou menos pessoas querem saber notícias sobre o Iraque agora que a guerra acabou?
As pessoas com certeza se importam menos com o Iraque depois que os militares norte-americanos foram embora. Acontece que as pessoas já estão cansadas das histórias de terror vindas do Iraque. Então sim, é mais difícil vender histórias agora do que era antes. Mas como você apontou, não há mais tanta imprensa aqui. Então a competição é baixa. Pra ser honesto, a minha verdadeira razão pra viver aqui não é uma decisão de negócios — era quando me mudei pra cá — mas agora é porque acho esse lugar absolutamente fascinante.

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O que você considera fascinante?
É um lugar muito extremo. Tudo que é grande é enorme, e tudo que é pequeno é realmente minúsculo. Pouca coisa é meio-termo. Adicione o fato de que a história aqui está viva como se fosse o presente, e você tem um lugar extraordinário.

Como a história está viva hoje no Iraque?
Bem agora no norte, os curdos estão prestes a criar seu próprio país, algo com que eles sonham faz séculos. No sul, temos o conflito entre sunitas e xiitas, algo que acontece há 1.500 anos e que continua acontecendo aqui como se estivéssemos no século VII. Junte a diversidade de religiões, a hospitalidade exagerada, a atitude imprudente, a música, o petróleo, a estrutura tribal e você tem um lugar sensacional para encontrar histórias.

Você vai continuar morando no Iraque quando a situação se estabilizar?
Não tenho certeza. Quando o país se estabilizar, teremos mais trabalhos comerciais disponíveis e essa será uma boa razão pra ficar. Istambul e Cairo são lugares excelentes onde muitos jornalistas vivem. Talvez Bagdá seja um lugar assim no futuro.

Suas gravações em áudio das linhas de frente dão ao espectador uma compreensão mais intensa das fotos. Você sente que isso é importante numa era em que as pessoas ficam cada vez menos sensibilizadas por conta da esmagadora exposição de imagens dramáticas a que são submetidas?
Sim, sinto muito isso. Na verdade, estou começando a repensar completamente a fotografia de conflito. Não acho que uma imagem estática ainda é forte o suficiente para fazer o trabalho necessário. Se fotografias de guerra não são aterrorizantes, então não estamos contando a história direito. Sinto que estamos nos tornando complacentes a imagens de guerra e é meu trabalho como jornalista contar uma história de uma maneira boa o suficiente para que as pessoas prestem atenção. E estou tentando fazer isso adicionando áudio.

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Mas você não acha que essa responsabilidade adicional pode prejudicar seu foco principal como fotógrafo?
Minhas gravações de áudio são bem amadoras. Qualquer radiojornalista ficaria envergonhado com a qualidade disso. Mas como você percebe, não dá para focar nos dois. Então eu simplesmente amarro um gravador na cintura e vou fotografar. Num mundo ideal, eu trabalharia juntamente com um radiojornalista e faríamos colaborações incríveis.

Você acha que o fotojornalismo profissional pode morrer no futuro com equipamentos de alta qualidade se tornando mais acessíveis?
Eu não fiz parte dos “dias de glória” do fotojornalismo. Acho que o negócio já estava morrendo quando entrei. Não acho que é necessariamente porque todo mundo tem uma câmera, mas tenho certeza que isso faz parte. Acho que a fotografia perdeu valor por causa da internet. Fotografias fazem sentido em revistas e jornais, mas se você lê tudo online, por que continuar com a imagem estática? Por que não assistir um vídeo? Veja o site da BBC. Três anos atrás quase toda história tinha um fotógrafo para acompanhá-la. Agora é só um vídeo curto.

AS-SULAYMANIYAH, IRAQUE: Mohammad Abdul Samad, um trabalhador migrante de Bangladesh, joga um gato morto na traseira do caminhão de lixo.

SHEIKHAN, IRAQUE: Baba Chowish, o guardião do templo Yazidi, Lalish, em 22 de janeiro de 2011 em Sheikhan, Iraque. O Curdistão Iraquiano foi indicado por jornais e revistas como um destino turístico em 2011.

LONDRES, REINO UNIDO: Chris ajuda sua namorada, Mona, a fumar crack no quarto deles enquanto assistem "Friends" na TV.

AJDABIYA, LÍBIA: Rebeldes jogam futebol nas linhas de frente durante uma calmaria nas batalhas.

BENGAZI, LÍBIA: Um paciente na ala psiquiátrica de Bengazi faz o sinal de paz.

BENGAZI, LÍBIA: Um paciente na ala psiquiátrica de Bengazi sofrendo de stress pós-traumático por conta dos conflitos violentos

MOSUL, IRAQUE: Um suspeito senta, algemado, no chão do pátio de uma delegacia iraquiana.

MOSUL, IRAQUE: Aproximadamente 10:20 do dia 13 de maio, 2010, um suicida detonou seu carro-bomba na frente de um veículo do exército dos EUA. Não houve mortos, mas três soldados ficaram seriamente feridos.

ZHARI, AFEGANISTÃO: Shah Wali, um soldado afegão, atravessa um canal com uma cortina de fumaça durante uma patrulha no sul de Pashmul.

MOSUL, IRAQUE: Aproximadamente 10:20 do dia 13 de maio, 2010, um suicida detonou seu carro-bomba na frente de um veículo do exército dos EUA.

ASHURA, IRAQUE: Um soldado norte-americano queima suas ordens secretas antes que seu pelotão saia em patrulha na província de Ninewa.