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Anarquistas Incendiaram as Ruas de Atenas em Solidariedade ao Colega em Greve de Fome

O anarquista Nikos Romanos está em greve de fome desde 10 de novembro, exigindo ter permissão para frequentar a faculdade mesmo cumprindo pena.

​Na tarde da terça-feira, fui até a área de Monastiraki em Atenas, Grécia, para participar de uma manifestação em solidariedade ao anarquista preso Nikos Romanos. Ele está em greve de fome desde 10 de novembro, exigindo ter permissão para frequentar a faculdade mesmo cumprindo pena. O rapaz de 21 anos foi preso no ano passado depois de uma tentativa fracassada de roubo a banco.

Quando cheguei ao ponto de encontro da manifestação, fiquei um pouco desapontada. Poucas pessoas tinham comparecido. Mas, depois de mais ou menos uma hora, a cena mudou completamente. Não eram apenas anarquistas, mas representantes das organizações mais de esquerda – homens e mulheres, jovens e velhos, todos juntos para apoiar Romanos.

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A marcha começou às 19h com uma multidão de mais de sete mil pessoas caminhando até a Praça Omonia. Enquanto descíamos a Rua Stadiou, a tropa de choque fez sua primeira aparição. "Tenho medo que eles usem gás lacrimogêneo [se houver] a menor provocação, só para acabar com o protesto", disse uma garota, marchando com o bloco anarquista.

O objetivo da marcha era passar pela Praça Sintagma, a praça central de Atenas. Lá, mais de 200 sírios estão realizando um protesto: há algumas semanas, vêm exigindo passagem livre e legal para a União Europeia. Os sírios também estão em greve de fome desde a última segunda-feira.

Com o reforço dos esquerdistas, os sírios começaram a se organizar para manter seu posto. "Não vamos sair a menos que a polícia decida nos remover à força", afirmou Khaldoon.

"Não temos medo", garantiu Khaled, em greve de fome há nove dias. "Sabemos que a manifestação é em solidariedade a Nikos Romanos, que também está em greve de fome. Conhecemos a história dele. Não entendemos por que ele não tem permissão de frequentar a faculdade. Mas estamos com ele – é uma questão de humanidade."

Assim que a marcha chegou à Praça Sintagma, esquadrões da tropa de choque fecharam a rua em frente ao Hotel Grande Bretagne, de frente para a praça. Os manifestantes gritaram frases de apoio aos refugiados sírios. "Eles nos apoiam!", gritou Khaled.

Nesse ponto, alguns manifestantes decidiram ser sarcásticos com a tropa de choque. Eles gritavam "Vocês querem uma garrafa de água, caras?" e "Não roubaram nenhuma garrafa d'água hoje?". Referiam-se à noite de 17 de novembro, quando um protesto em comemoração aos 41 anos do levante estudantil contra a junta militar se tornou violento. Naquela noite, os manifestantes jogaram uma garrafa de água num esquadrão da polícia, que liberou uma torrente de gás lacrimogêneo.

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A marcha terminou no meio da Rua Panepistimiou. A maioria dos manifestantes enrolou suas faixas e foi embora pelas vias próximas, mas alguns foram à Universidade Politécnica de Antenas para ouvir um discurso do pai de Romanos. A escola está sendo ocupada há alguns dias por estudantes, que realizam várias reuniões gerais para decidir o que deve acontecer em outra manifestação planejada para 6 de dezembro – o aniversário do assassinato de Alexandros Grigoropoulos, um garoto de 15 anos baleado e morto pela polícia em 2008.

Problemas logo começaram na Rua Solonos. Carros de luxo foram virados; fachadas de bancos, depredadas; e latas de lixo, incendiadas pelos manifestantes. Enquanto eu seguia em direção à Rua Stournari, a tensão em frente à Politécnica começou a aumentar. As portas foram fechadas. Houve pânico. Todo mundo sabia que a polícia ia começar uma festa de gás lacrimogêneo a qualquer instante.

Um grupo de manifestantes que estavam na Rua Stournari parou um ônibus vazio. O motorista desceu, e coquetéis molotov foram jogados no interior do veículo. Latas de lixo foram incendiadas e usadas como barricadas para evitar a aproximação da polícia. Um cartucho de gás lacrimogêneo foi jogado na universidade, aterrissando a um metro de onde eu estava.

Lá dentro, mais e mais pessoas colocavam capacetes e máscaras. Todo mundo estava tossindo e em lágrimas. O ar estava sufocante. A tropa de choque cercou o prédio, e a tensão continuou até as primeiras horas da noite. Ouvimos relatos de espancamentos, detenções e prisões.

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Depois, fui à reunião das 22h no auditório da universidade. Assim que entrei, ouvi o pai de Nikos Romanos afirmar: "O procurador rejeitou os pedidos para que Nikos pudesse sair para frequentar a faculdade técnica. Vamos esperar até amanhã para ver se há alguma chance".

"O que Nikos pretende fazer?", um estudante perguntou.

"Nikos vai lutar até o fim."

Quando saí de lá algumas horas mais tarde, a situação tinha se acalmado um pouco – mas havia uma ressaca do caos anterior. O cheiro de gás lacrimogêneo ainda estava no ar. Eu sentia isso no meu peito. Os bombeiros estavam tentando apagar os focos de incêndio remanescentes em frente à universidade. As revoltas da noite tinham sido intensas, mas acho que foram apenas um gostinho do que vai acontecer no próximo final de semana, no aniversário de seis anos da morte de Alexandros Grigoropoulos.

Tradução: Marina Schnoor