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Vice Blog

Banco Mundial Diz que as Chances de Mobilidade Social na Índia São as Mesmas que nos EUA

O mesmo relatório puxou a orelha da Índia, que deve pensar em infraestrutura e serviços sociais que batam com a renda de seus cidadãos, além de dar um duro lembrete para os EUA, que devem considerar sua posição na escala global de mobilidade social.

Ah, os EUA… terra da oportunidade. Como Obama disse em seu discurso sobre o Estado da União na semana retrasada, "a nação que deu uma chance a um cara como eu". Uma nação que permitiu a um garoto havaiano da gangue Choom se tornar presidente. Mas as chances de mobilidade social nos EUA são assim tão incríveis? Em um novo relatório divulgado na terça-feira passada, horas antes do discurso de Obama, o Banco Mundial afirma que hoje é tão fácil sair da pobreza ou da classe baixa para a classe média na Índia quanto nos EUA.

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Intitulado "Addressing Inequality in South Asia", o relatório aponta que (baseado no coeficiente de Gini de distribuição de renda e desigualdade), entre 2004 e 2010, aproximadamente 40% dos pobres da Índia (ou 9% da população total) ficaram acima do nível da pobreza, com 11% adentrando a classe média. Os autores revelaram que, especialmente para minorias socialmente imóveis historicamente, o lugar de nascimento de uma pessoa ou a ocupação de seus pais importa bem menos agora do que na história da Índia moderna.

O relatório credita essa mudança à abundância de empregos não rurais nas esferas urbanas em expansão do país.

"Isso são boas notícias", disse ao The Hindu Martin Rama, coautor do estudo e economista-chefe do Banco Mundial no Sul da Ásia. "A Índia não é mais a terra dos extremos, e há pontos promissores."

O relatório reproduz narrativas animadoras da fluidez social recém-descoberta da nação, como a história da ascensão do primeiro-ministro Narendra Modi desde suas origens, na classe baixa, em que ele começou servindo chá numa estação de trem. Mas os EUA, onde o medo do enfraquecimento da mobilidade social e do crescimento da desigualdade já são grandes debates públicos, podem não ser um exemplo tão fenomenal do sucesso da Índia como muitos pensam.

De acordo com um estudo de 2012 do Economic Policy Institute, "a mobilidade [social] dos EUA está entre as mais baixas das grandes economias industrializadas".

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Um estudo de 2013 da Pew mostrou que 70% dos norte-americanos nascidos no último quinto percentual econômico nunca alcançam um percentual médio. Já 17% (aproximadamente) alcançam o status de classe média; 9%, o de classe média alta; e 4%, o de classe alta. Grande parte dessas descobertas foi corroborada por um estudo de 2014 da Universidade de Harvard que mostrou que movimentos da classe trabalhadora para a riqueza na verdade caíram. Comparados com uma nação como a Dinamarca, onde 16% dos pobres do país vão ascender ao primeiro quinto percentual econômico em suas vidas, os EUA parecem um padrão péssimo pelo qual se deva medir a mobilidade ascendente de classe de uma nação.

O que é realmente deprimente, de uma perspectiva americana, não é só a medida escrota do que somos. É que o estudo do Banco Mundial mostra que a Índia está acabando com a gente nesse quesito e aumentando a separação da origem de uma pessoa para seu futuro. Estudos recentes nos EUA não só sugerem que a taxa de norte-americanos escapando da pobreza está estagnada há décadas como também mostram explicitamente que raça, status social dos pais ou local de nascimento ainda são indicadores fortes da posição de um indivíduo no futuro. E, enquanto a desigualdade cresce no país, a posição da classe estática e a predeterminação socioeconômica se tornam ainda mais preocupantes.

Mas o estudo não é uma vitória universal para a Índia ou um golpe definitivo na psique americana. Muitos observadores não concordam com o que constitui pobreza na Índia: apesar de o governo ter afirmado em 2012 que apenas 22% de seus cidadãos estavam abaixo da linha da pobreza, auditores internacionais disseram em 2014 que a taxa de pobreza era de 30%. O novo estudo do Banco Mundial se focou em classe através de medidas baseadas em renda, mas admite uma falta de acesso chocante a água limpa, eletricidade, serviços médicos, educação e bem-estar na nação (apesar dos bilhões de dólares gastos anualmente por Nova Deli em subsídios e serviços sociais), especialmente para grupos marginalizados, sugerindo que esse sucesso em mobilidade social tem a profundidade de uma planilha. O McKinsey Global Institute afirmou em 2014 que, se fossemos levar em conta o acesso a comodidades que tradicionalmente associamos à vida acima da linha da pobreza, seria necessária uma renda 50% maior do que o governo projeta para escapar da destituição, deixando 56% da população em privação.

O estudo do Banco Mundial também aponta que, no mesmo período em que tantos teriam supostamente escapado da destituição no papel, 9% dos indianos caíram no índice, ficando abaixo da linha da pobreza.

Os EUA podem estar longe de uma provisão perfeita de bens essenciais e serviços sociais, mas é bem mais provável que os pobres norte-americanos tenham acesso decente a essas fontes vitais. Também é bem menos provável cair da escada de classes no país.

Claro, a Índia ainda merece felicitações por se tornar a líder regional em mobilidade social. Mesmo que uma mudança social não pareça tão significativa quanto poderia ser, a trajetória de ascensão do país, principalmente para grupos marginalizados, é promissora – especialmente em comparação com os EUA, onde ficamos felizes apenas em não reverter a corrente da fluidez social. Mas, apesar de todas as boas notícias, o relatório do Banco Mundial ainda puxa a orelha da Índia, que deve pensar em infraestrutura e serviços sociais que batam com a renda crescente de seus cidadãos, além de dar um duro lembrete para os EUA, que devem considerar sua posição na escala global de mobilidade social.

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