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O Estranho Mundo de um Comentarista Político Conservador Adolescente

Caleb Bond é um jovem de 16 anos que coleciona canetas-tinteiro e se descreve como um “conservador com um toque de liber”.

Caleb na casa dos pais em Adelaide. Fotos por Royce Kurmelovs.

Ser adolescente é bizarro, não importa quem você seja. Todo mundo se sente deslocado, como se estivesse sempre no lugar errado, na hora errada e no corpo errado. Mas Caleb Bond pode estar certo. Ele se descreve como um "conservador com um toque de liber" e escreve regulamente sobre atualidades para The Daily Telegraph e The Advertiser de Adelaide, Austrália. Ele também explica suas visões em programas de rádio e foi entrevistado por Miranda Devine no ano passado para a 2GB. Agora, eles são amigos.

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Pelo currículo, você pode pensar que ele é um observador experiente da paisagem política, o que ele meio que é mesmo, exceto que Caleb não podia conversar comigo no começo da semana porque tinha prova na escola.

A VICE falou com ele para ter uma noção dessa rebeldia adolescente ao contrário. Do tipo em que você coleciona canetas-tinteiro e considera ter apoiado Kevin Rudd quando você tinha oito anos um "equívoco da juventude".

VICE: Oi, Caleb. Você tem 16 anos. Por que passar seu tempo discutindo política em vez de, sei lá, tentar descolar umas cervejas? Qual foi o momento decisivo para você?
Caleb Bond: Aparentemente, quando eu tinha dois anos, assisti a toda a cobertura do 11 de Setembro. Acho que é um interesse que já existia e se desenvolveu com o tempo. Lembro em 2007, quando, num equívoco da juventude, eu queria que Rudd e o Partido Trabalhista vencessem as eleições [australianas]. Vai saber por quê. Provavelmente, alguma ideia maluca que eu tive aos oito anos. Muitas pessoas viram conservadoras com o tempo. Só fiz isso um pouco antes.

Uma foto autografada de Tony Abbott que o irmão de Caleb conseguiu para ele.

A mudança para o conservadorismo é comum na minha idade. Como alguém fazendo isso na velocidade da luz, diga: por que, em sua opinião, muitas pessoas fazem essa mudança?
Elas se tornam mais sensíveis. Elas percebem que as maneiras idealistas do socialismo não são práticas. Há um ditado frequentemente atribuído a Winston Churchill: "Um homem que não é socialista aos 20 não tem coração, um homem que não é capitalista aos 40 não tem cérebro". Eu não tenho coração.

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Sua família discute muito política?
Meu pai é um ateísta militante. Não somos uma família totalmente conservadora. Não há sentimentos fortes. Acho que descrevo meu pai como um centrista. Minha mãe não tem um interesse particular em política. Não é como se eu tivesse sido criado numa família realmente conservadora, com muito dinheiro e que vai à igreja todos os domingos. Quando ouço as pessoas dizendo "Voto nos trabalhistas ou nos liberais porque meus pais votaram", acho isso absurdo. Esse não é o seu voto. Esse é o voto de outras pessoas. Tenha suas próprias ideias.

Acho que devemos mencionar que o jeito como você fala é incomum para alguém da sua idade. Em quem você se inspira?
Não me inspiro em outras pessoas, acho que essa é uma receita para o desastre. Algumas coisas simplesmente acontecem, e isso é apenas uma delas. Já fui descrito de várias maneiras: uma mistura de Alan Jones e Jeremy Cordeaux, o filho de Alan Jones e Bronwyn Bishop, Christopher Pyne, entre outros. Mas me interesso em saber o que torna isso diferente.

Julgando pela foto, e pelo ingresso na prateleira, ele também é fã do Rove McManus.

Você parece existir mais num mundo adulto. Como isso é visto na sua escola? O que as garotas acham de você, por exemplo?
Veja, nenhum membro do sexo frágil mostrou interesse por mim antes das minhas aparições na mídia – nem depois. Você pode dizer que isso não ajuda nem atrapalha. Suspeito que meu problema é que tenho um rosto perfeito para o rádio e gosto de garotas muito bonitas ou muito velhas para mim. Não importa. Sandra Lee [ a jornalista , não a doutora norte-americana especialista em espremer cravos ] uma vez me disse que eu iria "partir muitos corações". Ainda estou esperando!

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Você entende os outros adolescentes?
Passo tempo suficiente com outros jovens para saber o que está acontecendo. Alguns se interessam por política; outros, não. Alguns estão mais interessados em correr atrás do sexo oposto, festas ou qualquer coisa assim. Pessoas jovens tendem a se interessar mais por questões sociais. Coisas como casamento gay e assim por diante: elas têm opiniões muito fortes sobre isso.

Qual a sua opinião sobre casamento gay?
Estou absolutamente enjoado de casamento gay. Já estou farto dessa história. Apoio a legalização, mas não fervorosamente. Isso é um não-problema que continua a dominar as discussões políticas. Entretanto, se você pergunta aos jovens sobre economia, eles não sabem o que dizer. Quanto ao que eles acham legal (garotas, carros), é a mesma coisa para mim, com exceção da música.

Temos de admitir que a coleção de Lego dele é bem legal.

Como assim?
Eles ouvem FM, eu ouço AM. Gosto de uma variedade de músicas, de Frank Sinatra a country dos anos 60. Os jovens parecem odiar country.

O que mais você faz para se divertir?
Bom, política é minha diversão. Gosto de me comunicar e me envolver nessa cena. Faço teatro com um grupo local há sete anos. No final do ano, fazemos pantomimas de Natal tradicionais e incorporamos um elenco de 8 a 80 anos.

Sempre gostei muito de pantomimas – geralmente, interpreto um tipo cockney. É uma forma maravilhosa de teatro. O público interage, e há oportunidade para improviso e piadas sujas. É divertidíssimo.

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E coisas cotidianas, fora política?
Sou fascinado por canetas-tinteiro. Hoje em dia, com os computadores, escrevemos menos e menos, então acredito firmemente que, quando você escreve, isso deveria ser uma experiência, não uma tarefa. Frequento leilões de Adelaide para comprar canetas-tinteiro por uma pechincha. Algumas pessoas não veem graça, porém isso me diverte. Parkers são minhas favoritas, mas estou usando uma Jinhao X450 há algum tempo. Uma coisa barata chinesa que achei no eBay por US$ 5. Um excelente custo-benefício.

Caleb se descreve como um 'evangelista da caneta-tinteiro'.

Falamos de garotas antes, mas, no geral, como ser um comentarista político te afeta na escola?
Meu interesse por política era aparente muito antes que eu começasse a aparecer na mídia. Estou falando sobre isso para todos ao meu redor há anos. Não acho que meus professores ficam intimidados – a maioria aprecia. Um professor em particular, um sindicalista e socialista fervoroso, conversa comigo pelo menos uma vez por semana sobre as últimas fofocas políticas.

Você sofre bullying?
Não. Não me lembro de ter sofrido bullying nenhuma vez. Ocasionalmente, alguém – sempre um ano ou dois acima de mim – tenta me irritar. A novidade acaba bem rápido. Construí um respeito na minha escola porque faço coisas para ajudar várias pessoas e participo de muitas atividades. Além disso, acho que todo mundo sabe que posso responder verbalmente o triplo do que qualquer um me mandar. É muito mais fácil fazer bullying com pessoas que ficam magoadas com isso. Eu não; por isso, eles não perdem seu tempo.

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Não consigo deixar de pensar que você pulou uma grande parte da juventude propositalmente. Você se preocupa em estar perdendo alguma coisa?
Nunca. A única coisa que realmente pulei foi a parte na qual você não liga para nada. Não saí dos trilhos. Tenho muitos amigos, e conversamos sobre coisas loucas como todo mundo. Política é uma faceta da minha vida. Isso se infiltra em outras, embora não domine. Além disso, quem quer me deixar de fora provavelmente não vale meu tempo mesmo.

O quarto dele era mais arrumado e continha mais tacos de golfe que o quarto de um adolescente padrão.

Falando em sair dos trilhos, o que você acha de drogas?

Nunca usei e não pretendo. São substâncias terríveis, destrutivas. Tenho dificuldade em simpatizar com pessoas pegas com drogas. A epidemia de metanfetamina é terrível, apesar de essa não ser a primeira vez que vemos uma coisa assim. Não faz muito tempo, a heroína era um grande problema. Temos de nos inspirar nos anos Howard parar lidar com essa crise.

E sobre drogas como a maconha e a questão da legalização?

Não planejo agradar os maconheiros. As pessoas falam como se isso fosse tão inofensivo quanto biscoito. Eles estão loucos. Há evidências de ligação entre maconha e doença mental, junto com vários outros efeitos colaterais. Tabaco e álcool já causam problemas suficientes sem precisar acrescentar outra droga.

Brincando com o gato da família, Fudge.

O que você acha de retenção de dados?
Não fico excessivamente ofendido. A internet é um local público – se tenho de confiar num terceiro para usar isso, então isso não é privado. É como ter uma conversa com alguém num café: estou falando baixo na minha mesa, mas você é idiota se acha que ninguém pode estar escutando. Se não estou planejando um ataque terrorista, então vou ficar bem.

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Você já pensou que seu conservadorismo pode ser só uma fase que você vai superar?
Nem uma única vez acreditei que isso poderia ser uma fase. Até o que eu sei, conservador é apenas o que sou. Opiniões mudam, mas não espere que eu me junte à Aliança Socialista em breve.

Você tem fãs?
Ocasionalmente, alguém descobre quem sou. Alguns meses atrás, essa pessoa me ouviu falando e perguntou se eu era Caleb Bond. Ela tinha me ouvido no rádio na semana anterior. Eu estava tomando café com um amigo outro dia, e o gerente do lugar perguntou se meu nome era Bond. Ele me conhecia pelo Twitter. Não acontece sempre, porém ainda não estive em Sydney, onde a maioria das minhas coisas é publicada. O plano é visitar a cidade no ano que vem. Adoro Adelaide, mas gostaria de ter um caso com Sydney. Tenho certeza de que Adelaide não vai se importar. Não tenho planos de ir a Camberra de novo. Visitei o lugar em março, e a frieza da política local ficou evidente no clima quente.

Considerando as opiniões políticas dele, o resto da família de Caleb não se interessa muito pelo assunto. A mãe dele coleciona ursos de pelúcia que ela expõe pela casa.

E você tem ambições políticas?
Nunca diga nunca, só que política é um jogo sujo e não sei se fui feito para isso. Não sei se me encaixaria em algum partido político também. Tendo a ter minha própria visão, e acho que assim é melhor. A ideia de ter de seguir o hinário de outra pessoa não me agrada muito.

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Tradução: Marina Schnoor.

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