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Os Pixadores e o Fotógrafo Choque Falam Sobre o Ataque da Semana Passada

Depois da grande repercussão sobre o ataque às obras na última terça (21), o movimento Pixo Manifesto Escrito (PME) e o fotógrafo Choque falam com a VICE sobre o acontecido.

A repercussão da matéria "Pixadores de SP Atropelaram a Exposição do Fotógrafo Choque" na imprensa brasileira foi grande. No dia em que o texto foi ao ar, Choque não quis falar com a VICE, mas deu entrevistas para os veículos Folha de S.Paulo, Rede Globo e R7, que acabaram citando nossa reportagem – que entrevistou os pixadores responsáveis pelo ataque. Após as declarações do artista para os outros veículos, o Pixo Manifesto Escrito (PME), que assumiu a responsabilidade pela destruição das obras expostas na galeria Crivo, na última terça (21), enviou uma nota exclusiva à VICE.

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Nela, o movimento se defende das declarações "caluniosas e inverídicas que Choque deu na mídia nos últimos dias". De acordo com o comunicado, a questão não são os registros da "pixação no âmbito da paisagem urbana da cidade, pois isso qualquer fotógrafo pode fazer". O que a nota contesta é a exibição realizada por Choque, "que demonstra não apenas pixações, mas, sim, pessoas" com o intuito de tirar "vantagem econômica".

O PME afirma que Choque violou os direitos de imagens dos pixadores, embora o fotógrafo alegue ter as autorizações necessárias. "O tipo de autorização que ele possui é apenas para a publicação de um suposto livro que seria o resultado final de sua tese acadêmica", dizem novamente os pixadores. "Para fazer uso desse material como Choque vem fazendo – em exposições e publicações em veículos da mídia –, ele precisaria de uma autorização específica. Coisa que ele não tem, e é absolutamente consciente disso."

Choque rebate. "Tenho autorização de imagem de todo mundo que participou da documentação que eu fiz. Nas minhas fotografias, eu não identifico o rosto de ninguém. Tenho autorização de todo mundo que retratei. Isso é muito simples. Eu sou fotojornalista de formação. Sempre tive esse cuidado. Isso, pra mim, é básico", disse por telefone.

O fotógrafo explica que, quando começou a retratar os pixadores, o combinado era fazer os registros e ceder todo o material bruto ao fotografado. "Em retorno, ela [a pessoa] assinava a autorização de uso de imagem pra eu poder utilizar na divulgação do meu trabalho. Seja em livro, seja numa exposição, seja uma publicação de terceiro."

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Outro fator que agrava o imbróglio vivido pelo artista e pelos pixadores foi a publicação do vídeo "Uma Última Noite", em que Guigo (que assinava como NETICOS) morre ao pixar um prédio. Comissionado pela Bienal de São Paulo, o vídeo foi parar no YouTube – provocando a ira dos amigos do pixador morto. Choque explica que o garoto o procurou pedindo para que aquela noite fosse documentada e que o vídeo foi uma homenagem. O PME acusa o fotógrafo. "[Ele] tenta posar de herói e bom samaritano. No entanto, o que ele não revela é que tentou filmar Guigo caído no chão já sem vida e que foi impedido pelos companheiros de Guigo que participavam da ação, os quais ele cinicamente acusa de omissão de socorro. Se a intenção de Choque fosse mesmo a de ajudar, a primeira providência que ele deveria ter tomado era a de desligar a câmera."

O fotógrafo relata que os amigos de Guigo fugiram no momento da queda. "Como eles sabem disso se não tinha ninguém comigo [dos pixadores]? Só um amigo. Os pixadores foram embora." De acordo com Choque, um dos caras presentes na noite do incidente fez uma ligação ameaçando-o de morte. "O meu intuito com o vídeo era fazer uma homenagem pro Guigo. O vídeo não mostra o garoto caindo, não tem sangue, não tem nada. Eu termino o vídeo com ele falando o quanto ele amava pixar."

Choque considera as acusações um "absurdo". "Olha a violência do ato deles. Entrar numa exposição, detonar tudo", indigna-se. Entretanto, em 2008, a convite dos pixadores, o fotógrafo acompanhou três intervenções que aconteceram em São Paulo, em que a galeria Choque Cultural, a Bienal de São Paulo e a faculdade Belas Artes foram também atacadas por pixadores. O que mudou dos três ataques para cá? O artista se defende. "O propósito deles era levantar a bandeira da pixação, era intervir em locais icônicos da arte brasileira pra chamar a atenção pra existência da pixação", argumenta. Para ele, o que houve na Galeria Crivo foi uma tentativa de destruir sua carreira. "Isso é pessoal. Eles não destruíram a galeria inteira, só o meu trabalho. E tem uma questão também. Eles nunca consultaram os pixadores retratados nas minhas imagens. É um desrespeito não só com o meu trabalho, mas com quem está documentado."

Um outro elemento que reforça o entrevero entre os lados foi um passeio turístico pela cidade de São Paulo que aconteceria em março com o intermédio do Sesc Vila Mariana para observar os pixos na metrópole. Choque informa que o evento foi cancelado por não atingir o quórum necessário. Já os pixadores do PME sugerem que a direção do SESC cancelou o tour após ser informada "sobre a falta de apoio e legitimidade de Choque junto aos pixadores". Mesmo depois do cancelamento, o fotógrafo manteve a agenda. "Como não teve o passeio oficialmente pelo SESC, pra não deixar essas pessoas interessadas, eu fiz o passeio por minha conta", frisa. A VICE procurou a assessoria de imprensa do SESC Vila Mariana, mas ainda não conseguiu falar com ninguém, já que a instituição não funciona às segundas-feiras.

Enquanto a polícia investiga o ataque às obras realizado na semana passada, a discordância continua. Choque considera os riscos "ossos do ofício" e não pretende parar de utilizar o tema, embora não fotografe pixos desde 2010. "Meu trabalho continua, e eu não vou ceder", destacou. Já o PME, que prefere seguir anônimo, avisa em seu manifesto que, caso haja o desejo de dialogar com pixadores, "basta ele [Choque] ir ao Point do centro de São Paulo, onde os mesmos se reúnem toda quinta-feira à noite".