

Lê Almeida: Começou com a minha falta de interesse nas matérias tradicionais nas aulas do ensino médio. Paralelamente a isso eu já tocava, e minha banda precisa fazer shows e ter uns cartazes legais. Em consequência, a gravadora [Transfusão] e os discos foram acontecendo e eu não conhecia ninguém que fazia esse tipo de coisa na época, então ou eu me metia a fazer ou não iria rolar. Com o passar do tempo eu fui curtindo ainda mais as coisas mais primais, colagens à mão mesmo. Faço por que curto muito mesmo, é meio que uma necessidade minha saber quem vai fazer o cartaz de um show, e se não tiver ninguém pra fazer eu mesmo me ofereco. Hoje o que mais gosto disso é de poder misturar umas cores e ter o controle visual da imagem -- considero um trabalho total artesanal até mesmo aqueles que só uso ferramenta digital. Tem algumas coisas que eu faço à mão e depois eu digitlizo, ou então faço metade à mão e o restante no computador usando Photoshop. Também costumo criar umas fontes usando papel fino branco com caneta normal de ponta fina.Na gravação do seu mini-documentário pro Noisey, o João brincou que você é "meio ditatorial" no que diz respeito aos trabalhos do projeto Lê Almeida -- arranjos, gravações, letras… Isso também se aplica às capas, digo, é você quem decide como e porquê as capas vão ser daquele jeito?
Sempre fui eu que fiz, nem vejo outra pessoa fazendo. Mas acho que não seria ditatorial a palavra correta, mas podeira ser algo tipo total controle. Tudo vai no desejo de manter uma qualidade que eu julgo interessante e bonita. Na maioria das vezes eu faço tudo sozinho, porém sempre pego umas opiniões de amigos -- tanto que na capa do Mono Maçã eu tinha feito uma outra versão antes do disco ficar pronto, só que que a maioria das pessoas que eu mostrei achou bem jovial (até demais) e eu acabei descartando.
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Elas não são programadas pra ser assim, com colagens o tempo todo. Mas a maioria acaba sendo. Acho que existe uma influência visual de todas as bandas que me fazem a cabeça e a cabeça dos meus amigos à minha volta. Rolava muito de imaginar como seria a capa de determinado disco até de fato poder ter contato com ela. Isso aconteceu comigo no Flip Your Wig, do Husker Du. É um disco que eu adoro, mas tive contato inicial via K7 sem capa, e só depois de alguns anos é que fui sacar a capa. Foi demais, porque de fato era bem próximo do que o som cultivava na minha cabeça. Sempre fui muito ligado à estética de capa dos discos que eu curto e curtia quando mais novo -- as capas do Pavement, Guided By Voices e dos discos solos do Robert Pollard são realmente especiais pra mim. O capricho de algumas outra capas dos anos 60 também me influenciaram muito, como o Sell Out, do The Who.De onde você costuma tirar as imagens que usa?
Na grande maioria das vezes eu uso coisas que compro de sebo, como enciclopédias. Na real as enciclopédias são as minhas preferidas junto com as revistas Manchete dos anos 60 e 70. Tambem uso um monte de revistas soltas das quais eu normalmente curto umas cores e as uso. Das contemporâneas são bem poucas. Não tenho muita preocupação com algumas imagens achadas de internet, desde que se altere em algo já tá valendo.
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Eu já fiz um monte de outras capas, mas geralmente das bandas que eu participasse de alguma forma. Também já encaminhei alguns amigos pra fazer algumas. Tipo o Laurindo, que fez a capa do primeiro da Looking For Jenny e depois fez o Meus Heróis, da Carpete Florido junto com a Amanda Dias. O João Casaes também sempre fez as capas do Fujimo, e recentemente a gente fez junto a capa pro Depois Eu Te Explico Melhor, da Babe Florida.

Rola umas dicas de ideias, mas no geral é carta branca. É até tranquilo, pois no meio indie 'roque' as pessoas curtem coisas parecidas e não são tão excêntricas, né?
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Complicado, mas lá vai: Last Splash, The Breeders, Alien Lanes, Guided By Voices, Not In My Airforce, Robert Pollard, Crooked Rain Crooked Rain, Pavement, Hotter Than Hell, Kiss, Love Tara, Eric`s Trip, Vol.4, Black Sabbath, Where You Been, Dinosaur Jr., Sell Out, The Who, Life of Leisure, Washed Out.E das que você fez até hoje, qual a sua preferida?
Acho que é a que eu fiz hoje mais cedo à mão. Curti tanto que acho que daria uma ótima capa. Das capas que já sairam eu curto muito a do single novo da Looking For Jenny, What You Said, e a do EP Massacre, da Treli Feli Repi.

Eu baixo vários discos pela capa, até por que existem alguns blogues preguiçosos que não postam referências nem textos e você acaba ficando meio perdido -- e nisso vai se guiando pelas capas. Agora, comprar, eu só compro os discos que gosto muito do fundo do coração mesmo.Tem alguma coisa nessa área de design que você ainda gostaria de fazer?
Na real eu gostaria muito de evoluir nessa area, trabalhar profissionalmente fazendo algo que gosto seria fantástico. Fico com um monte de ideia borbulhando na cabeça e às vezes só me falta opção no que usar além dos cartazes e capas que já faço. Trabalhar numa revista seria irado!