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Μodă

Gaahl Odeia Suas Calças de Moleton

Você se lembra do Gaahl. Ele era o vocalista do Gorgoroth, uma das bandas mais assustadoras do mundo inteiro. Conversamos sobre moda e namorados.

Fotos por Inma Varendela
Fotos da Wynjo cortesia de Dan DeVero

Você se lembra do Gaahl. Ele é aquele norueguês magrelo e cabeludo que aparece no documentárioTrue Norwegian Black Metal,exibido na VBS.tv. Ele era o vocalista do Gorgoroth, uma das bandas mais assustadoras, senão do mundo inteiro, pelo menos da Escandinávia. Ele foi preso algumas vezes por atos violentos e casos de tortura ritualística, e foi condenado em Roma por ninguém menos do que o papa – essas informações já devem servir para refrescar a sua memória. O Gaahl é aquele sujeito que, entre cabeças de carneiro empaladas e modelos crucificadas, urrava para grandes plateias enquanto dezenas de litros de sangue de carneiro escorriam por todos os lados. Ele também foi eleito a Personalidade Gay do Ano de 2010 em Bergen, na Noruega. Ééééééé, esse cara. Hoje Gaahl é um sujeito reservado, quase refinado. Tempos atrás foi visto admirando um desfile de moda da marca da qual é coproprietário. Sentado na primeira fila, bebericando um vinho italiano bem caro, Gaahl admirava afetuosamente seu namorado Robin Jakobsen, então com 19 anos de idade, cruzar a passarela em criações coloridas e andróginas ao som de uma funky house music de Ibiza. Esse outro lado de Gaahl pareceu interessante para nós, mas, quando marcamos essa entrevista para que ele falasse sobre roupas, não sabíamos ao certo o quão interessante isso seria para ele. Porém, o que encontramos foi a personificação terrena de Balder, o deus nórdico da felicidade e da perfeição. Enquanto três garrafas de um ótimo vinho eram consumidas, tivemos a seguinte conversa. VICE: Você parece estar bem tranquilo, feliz até. De que forma você lida com o lado mais intenso da sua personalidade agora que Gorgoroth acabou?
Gaahl: Tenho o meu método. Noventa por cento da minha expressão artística não transparece para o mundo. Qual é a visão por trás da Wynjo, a marca que você criou junto com seu ex-namorado Dan DeVero?
Não sou estilista. A ideia foi do Dan, a visão é dele. Dei uma força, uma mão amiga, mas apenas em termos financeiros. Funciono mais como um canal para os projetos dos outros. Já faz um tempo que o Dan e eu não conversamos sobre isso. Não é bem o meu mundo. Faz tempo que não vou a um desfile de moda. Você acredita nesse projeto?
Com certeza. Ainda vai crescer muito. O Dan é um sujeito talentoso. Ele é muito criativo – às vezes criativo até demais. De onde veio o nome Wynjo?
É a palavra nórdica para “o caminho da felicidade e da perfeição”, mas não pode ser traduzida literalmente para a linguagem moderna. Na língua nórdica,felicidadeeperfeiçãorepresentam o mesmo conceito. Você disse uma vez que “são as roupas que fazem as pessoas”.
Ver gente feia me deixa num mau humor terrível. Eu sou ranzinza assim mesmo. A estética é importante para mim. Você quer dizer gente feia com roupas feias?
A pior coisa que eu vejo por aí são pessoas que saem de calça de moletom. Se você quer fazer parte da sociedade, poderia pelo menos se vestir direito. Você já viu alguém vestido com um daqueles macacões inteiriços?
Com certeza quem inventou isso está morrendo de rir nesse exato momento. Acredito que você prefira a simplicidade.
Ao remover as camadas supérfluas que existem nas coisas, a expressão fica mais forte, mais vívida. Camuflar algo acrescentando muitos detalhes é um sinal de que não se trata de uma coisa assim tão boa. A simplicidade torna tudo intrinsecamente mais limpo e mais bonito. Você ainda está falando sobre moda?
Sim. Eu sempre me vesti com cores básicas, e segui um estilo bem rígido. Desde criança só uso blusas monocromáticas.

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O atual namorado de Gaahl, Robin Jakobsen, posando para a coleção de 2009 da Wynjo, criada por Dan DeVero com a colaboração de Sonia Wu.

Você teria a sua própria marca?
Não – pelo menos não agora. Eu tenho o meu “uniforme”. Mas a gente nunca sabe o que pode vir a passar pela nossa cabeça. Esse negócio pendurado no seu pescoço é ummjöllnir[o martelo do Thor]?
É uma cruz islandesa com a figura de um lobo. [Tem início um período de silêncio de um minuto.] Próxima pergunta. Certo. Como os seus projetos musicais se relacionam com a estética?
Na época do Gorgoroth a gente tinha um monte de ideias caóticas. Tudo dependia de a coisa ser viável na prática. Nos últimos anos da banda a gente pôde fazer muito mais aquilo que queria. No show da Cracóvia, por exemplo, conseguimos fazer um uso mais consistente dos símbolos. A maior parte deles já tinha sido usada antes, em menor escala, mas a gente ainda não tinha conseguido colocar as modelos nas cruzes. Com as cabeças de carneiro nas estacas, ficou uma coisa linda – esteticamente brilhante. O que você acha do estilo da cena do black metal como um todo?
Na maioria das vezes é um estilo sofrível. Por quê?
Não existe muita seriedade. Quem eu vejo com mais admiração são aqueles que nem se preocupam em lançar seu material. Muitos se agarram a um determinado estilo. Isso se torna um peso. Como um trem que viaja de Bergen a Oslo, eles lutam para se manter nos trilhos, em vez de tentar explorar um terreno desconhecido. À medida que as pessoas envelhecem, fica mais difícil abandonar antigos hábitos. Por que você decidiu abandonar o black metal?
O Gorgoroth precisava morrer. Eu precisava acabar com ele. Eu não tinha mais nada a oferecer. Você vai para o palco e não evolui, simplesmente vomita a mesma coisa de novo e de novo. A trajetória de crescimento tinha chegado ao fim. Quando a coisa vira um negócio, com uma porção de entrevistas e publicidade, não sobra tempo para curtir. Isso destruiu a arte. Isso também faz com que as pessoas se aproveitem da própria posição. Eu não consigo trabalhar nessas condições. Como as pessoas se aproveitam da própria posição?
Explorando o fato de que existem fãs que as idolatram. A pessoa pode ter o que quiser. É muito fácil se deixar levar quando se está em uma posição de poder, então tive que bolar um plano mirabolante para acabar com o Gorgoroth. Eu poderia ter caído fora, mas havia um dilema: o Gorgoroth era meu, era a minha atitude, a minha cara. Não dá para abandonar a sua espada e deixá-la nas mãos de imitadores. Tive que agir por baixo dos panos. Não foi uma coisa bonita de se fazer, mas era algo necessário. Como você se relaciona com a sua condição de símbolo do black metal?
Nunca me preocupei com isso. Eu sou eu. As manchetes dos tabloides nunca afetaram você?
E por que deveriam? As pessoas fazem o que querem. Eu não sou responsável pelo que cada idiota acredita. Você ainda aprova o incêndio intencional de igrejas?
Claro que sim [ele serve mais vinho para nós dois]. Ouvimos dizer que o monopólio estatal norueguês sobre a bebida é o único monopólio que você apoia.
Dessa forma não são apenas os executivos das grandes redes de supermercados que determinam o que irá para as prateleiras. Isso faria com que tivéssemos uma seleção de produtos muito ruim. É bom ter algumas áreas protegidas, em nome da qualidade. A partir de um determinado preço, o vinho fica mais barato na Noruega do que na França. Conheço gente que compra vinho aqui para levar para casa.

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Dan DeVero, ex-namorado de Gaahl, posando para a coleção de inverno de 2010 da Wynjo.

O que você anda bebendo ultimamente?
Vinho natural. Vinho que fermenta sozinho – sem acréscimo de fermento, sais ou enxofre. Vinho vivo. Eles têm cheiro de uma coisa – raramente agradável, mas cheiro de celeiro – e gosto de outra. São tão temperamentais quanto eu. Vinhos esquizofrênicos. Tem dias que é impossível bebê-los. Eles são meio fedidos, se é que é possível dizer isso sobre um vinho. E quanto à música? O que você tem ouvido?
O silêncio.  Você gostaria de ouvir alguma coisa agora?
Coloca Klaus Nomi – vamos fazer um tributo ao Dan. Uma voz incrível. O Klaus fazia backing vocals para o Bowie antes de sua própria carreira decolar [procuramos alguns vídeos no YouTube]. Essa música é de 1982, um ano antes de ele morrer. Temos aqui algumas perguntas que o Dan mandou para a gente.
Eu sempre respondo qualquer pergunta.  Que tipo de criatura é você?
Essa é mesmo uma preocupação do Dan, porque acho que ele não me entende. Acho que ninguém entende. Se eu precisasse escavar as profundezas do meu ser e me definir em termos nórdicos, diria que me vejo como umrimturs. O que é isso?
O elemento a partir do qual tudo se forma. As forças da natureza, uma criatura sempre inquieta. É daí que vem o meu antiestatismo, a minha aversão ao conceito de ter poder sobre os outros, de forçar uma pessoa a se enquadrar em um sistema. É a coisa mais perversa que sou capaz de imaginar. Você toparia escalar uma montanha usando um vestido roxo da Wynjo?
[Risos] Contanto que alguém faça o mesmo.  Qual é a maior traição de que a humanidade é capaz?
Se eximir da responsabilidade dos próprios atos. Você é tão sexy quanto dizem por aí?
Não sei sesexyé a primeira palavra que me vem à mente quando penso em mim mesmo, mas algumas pessoas podem achar que sim.

Robin e Gaahl em um passeio por Málaga, na Espanha, em uma tarde ensolarada.

OK, já chega das perguntas do Dan. Em relação aos homens, é verdade que você tem mais interesse pela parte estética do que pela parte física?
Acho que sou uma espécie de efebófilo. Não entendo a razão do contato físico. É um elemento totalmente estranho a mim. Você quer dizer que prefere meninos no final da adolescência, ou seja, efebos.
Quanto ao efebo como símbolo, o que mais me interessa é a sua estética. Além disso, tem a coisa do olhar e do desejo de descobrir a individualidade, de se tornar uma pessoa única, que está presente com muita força no jovem, antes que ele seja influenciado pelo ambiente – quando já saiu do universo fantástico da infância e está nos últimos estágios do quase sempre caótico período de transição. Não consigo explicar por que, mas isso é algo que me cativa. Como é a sua relação com as mulheres? 
Tenho muita admiração por mulheres que têm orgulho próprio. Mas não gosto de meninas. Elas são repugnantes. É uma forma de submissão que me enche de desgosto. Eu jamais conseguiria ter algo físico com uma criatura do sexo feminino. Não gosto das curvas delas, e nunca entendi o apelo dos seios. Gosto muito mais do corpo masculino. Você ganhou o prêmio de Personalidade Gay do Ano em Bergen no ano passado. O que isso significou para você?
Absolutamente nada. Obrigado, ser a Personalidade Hétero do Ano é demais! É muito legal ser a Personalidade Paquistanesa do Ano! Acho que distribuir prêmios com base na orientação sexual ou na raça das pessoas é uma bobagem. Mas, isso pode ser importante para algumas pessoas, então aceitei. Pelo jeito você nunca deu muita importância para toda essa coisa de ser gay.
Isso não tem mais importância do que qualquer outro aspecto da minha personalidade.