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O Líbano É o Velho Oeste

Como a maioria dos crimes no Líbano, a trilha não leva apenas a criminosos, mas também a políticos. Até agora, a Força Internacional de Assistência para Segurança (ISF em inglês) prendeu cinco homens relacionados com a onda de roubos.

Pra um país menor que a maioria dos estados do Brasil, o Líbano se sai surpreendentemente bem na arena dos recordes mundiais. Principalmente em realizações culinárias — a maior bandeja de falafel, o maior prato de tabule e a maior tigela de homus já feitos, todas essas vitórias muito importantes em cima dos vizinhos israelenses, obviamente — mas a conquista mais impressionante deles talvez seja o roubo a banco de maior sucesso da história.

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Em janeiro de 1976, mais de um ano depois do começo do que viria a ser a guerra civil de 15 anos do Líbano, um time associado a Yasser Arafat e sua Organização para a Libertação da Palestina conseguiu entrar no quartel general do Banco Britânico do Oriente Médio em Beirute. Depois de invadir o banco através das paredes de uma igreja católica vizinha, o grupo percebeu que não tinha pensado muito bem em como entrar nos cofres. Apenas um pequeno detalhe quando se trata de roubar um banco.

Mas, com o país paralisado pela guerra civil, a invasão não estava em primeiro lugar na lista de prioridades dos responsáveis por aplicar a lei, então a gangue simplesmente ocupou o banco e as ruas em torno dele por dois dias, chamou um serralheiro corso e passou os dois dias seguintes carregando caminhões com barras de ouro, dinheiro e joias no valor de R$ 114 milhões (o que valeria muito mais nos padrões financeiros de hoje).

Avançando 36 anos, muito pouco parece ter mudado. Este ano, o Líbano tem visto uma onda de assaltos a banco — cinco só nos últimos meses e oito ao todo no ano passado. O modus operandi em geral envolve homens armados em motocicletas entrando nos bancos, ainda usando os capacetes, apontando as armas para os caixas e saindo de lá com grandes sacos de dinheiro. Uma abordagem bem padrão pra se roubar um banco, na verdade. Só neste ano, os bandidos já acumularam quase R$ 5 milhões sem que ninguém fosse processado, o que seria até legal, não fosse o fato de esses homens estarem fazendo coisas muito escrotas.

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Como a maioria dos crimes no Líbano, a trilha não leva apenas a criminosos, mas também a políticos. Até agora, a Força Internacional de Assistência para Segurança (ISF em inglês) prendeu cinco homens relacionados com a onda de roubos, e um deles foi baleado no processo. Os quatro restantes afirmam ser parte da célula terrorista de al-Rmeileh, uma vizinhança próxima, e, claro, quando o exército invadiu a casa deles, foram encontrados 1.211 detonadores, minas russas e norte-americanas, aparelhos israelenses pra detonar minas, morteiros israelenses, granadas de mão e muito mais coisas que não têm outro propósito senão matar pessoas de um jeito horrível.

Parece que toda vizinhança do país tem uma unidade armada hoje em dia, o que significa que todo mundo está tentando comprar armas, o que, por sua vez, significa que as pessoas que vendem armas pros libaneses mais que dobraram o preço de tudo, das AKs-47 até os coletes à prova de balas. Um ótimo lugar pra se estar se você ganha a vida vendendo ferramentas de guerra. E um lugar não tão legal assim se você for qualquer outra pessoa.

A ISF afirma que os supostos assaltantes confessaram estar tramando o assassinato de dois juízes e um plano pra atacar a inteligência militar, enquanto o Hezbollah os reconhece como espiões de Israel. A ISF é predominantemente anti-Assad, e o Hezbollah apoia o regime da Síria, então é quase impossível saber em quem acreditar.

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Julgando pelo histórico de roubos a banco no Líbano, uma coisa é flagrante: o véu ondulante do controle do Estado parece perigosamente precário, permitindo lentamente que mais e mais atividades ilegais passem pela peneira. Facciosismo, sectarismo — chame como quiser —, todo mundo sabe que vai acabar dando nisso cedo ou tarde, assim como tem acontecido lá na Síria.

Os roubos a banco estão na moda de novo e, como há 35 anos, nem o estado militar nem a polícia estão em boa posição para impedi-los.

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