Domingo no parque medieval reúne milhares de cariocas

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Domingo no parque medieval reúne milhares de cariocas

LARP e hidromel nos jardins imperiais da Quinta da Boa Vista, antiga residência da Família Real Portuguesa.

Em janeiro deste ano, Diego Claudino, ex-presidente da BRPG (Associação Brasileira de RPG), junto com o grupo de esgrima medieval Casa Vieira Turaine, realizou a I Feira Medieval do Rio de Janeiro, reunindo cerca de 300 cosplayers, fãs de séries como Vikings e Game of Thrones, gente chegada em bruxaria e entusiastas da Idade das Trevas em geral. Um segundo evento aconteceu no último domingo (9), e por conta de repercussão na imprensa local acabou atraindo um público gigantesco, com uma rotatividade de mais de dez mil pessoas, segundo a organização.

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A feira foi realizada nos jardins imperiais da Quinta da Boa Vista, antiga residência da Família Real Portuguesa e consequentemente dos imperadores Dom Pedro I e II. Ainda que houvesse o público habitual do parque e um evento de gastronomia na outra extremidade, era inegável que a maior parte das pessoas não fantasiadas tinham ido conhecer a feira — bem a carinha de quem não curte praia e suas camisetas pretas, a maioria do Matanza, não os deixavam mentir.

Foto: Matias Maxx/VICE

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O evento estava marcado para começas ar onze horas, com competições de swordplay, arremesso de tora, arco e flecha, esgrima medieval, danças e música típicas, além de um banquete medieval e stands comercializando fantasias, espadas e hidromel. Haviam pelo menos seis fabricantes da bebida à base de mel e fermento, e por volta das 13h apenas uma das barracas ainda tinha em estoque — a fila pra pegar um goró ia da Quinta até Mordor, Vahalla, ou qualquer um desses longínquos lugares imaginários.

Como eu não tinha uma capa nem uma espada pra entrar no clima do evento, muito menos paciência pra encarar a fila do hidromel, só me restou procurar os organizadores do evento pra tentar entender a motivação de tantos cariocas no rolé medieval. Conversei, então, com o organizador Diego Claudino:

O Organizador Diego Claudino e a criadora de fantasias Helena. Foto: Matias Maxx

VICE: Como você avalia o sucesso do evento?
Diego Claudino: Nós esperávamos umas 800 pessoas, só que ultrapassou muito essa expectativa. Acho que tivemos mais de dez mil passantes, muita gente, o maior evento do Brasil nesse estilo, sem dúvida. Queríamos fazer algo que fosse acessível ao publico, porque já existem eventos medievais no Brasil, só que não são acessíveis. Você paga R$180 e tem de conhecer as pessoas pra poder entrar. A gente queria fazer um lance popular, para qualquer um vir participar. Teve muita gente que passou por aqui e não teve que pagar nada pra participar. Assim como teve muita gente que veio aqui, encontrou e comprou o que queria. Tivemos artesanato, comida artesanal, bebida artesanal, seis ou sete marcas de hidromel, duas arenas de dança, uma arena de músicos, vários jogos medievais, arco e flecha, arremesso com tora, luta com espadas, esgrima medieval…

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Não teve arremesso de anão?
[risos] Ainda não tivemos, mas estamos querendo implementar tanto o arremesso do anão como o prostibulo medieval, [risos] tudo isso vai sendo implementado aos poucos, não em eventos públicos é claro, mas vamos dar um jeito de fazer isso daí. O nosso evento na verdade tínhamos a intenção de ser um publico acima de 18 anos, mas tivemos muitas crianças, nossa faixa etária foi desde a criança de 4 anos até pessoas de 90 anos.

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Uma família medieval. Foto: Matias Maxx

Como a galera que curte esse bang medieval se organiza no Brasil?
Existem alguns grupos fechados de Facebook. Temos alguns eventos grandes, um dos eventos é o que a gente faz, o Kingdoms Game Festival, que acontece na Barra da Tijuca e este ano vai ser dia 14 de outubro. É um evento num sitio, com imersão, as pessoas tem possibilidade de acampar lá até o dia seguinte, tem banquete, várias coisas. Outro evento muito grande aqui no Brasil é o Taberna Folk, que reúne umas mil pessoas em São Paulo e até então era o maior evento do Brasil. São pessoas que estão batalhando há anos aqui no Brasil. Fazer evento medieval não é barato, o que tentamos fazer aqui foi algo acessível. Com a proporção que teve, a quantidade de pessoas que se envolveram, veio e gostou do evento, as marcas que chegaram junto, acho que com todo esse somatório de forças conseguiremos fazer um evento ainda melhor que está previsto pro dia 24 e 25 de junho e ainda estamos negociando se vai ser aqui de novo ou no Aterro do Flamengo. O que fico feliz de verdade é fazer com que sonhos de todos nós se tornem realidade, acho que isso é uma meta pra gente, uma missão de vida que estamos conseguindo realizar com esses eventos.

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As batalhas

A maior concentração de pessoas no evento girava em torno da arena de swordplay, na qual grupos de até quarenta pessoas lutavam entre si usando espadas, lanças e machados de plástico reforçado com silver tape. A regra era simples: golpes nos membros o inutilizam (lembram do cavaleiro negro de A busca do cálice sagrado do Monthy Phyton?), golpes na cabeça e tórax tiram a pessoa da arena; só pode restar um. É claro que falta arbitragem e tem vários mimimis.

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Samurai medieval. Foto: Matias Maxx

Tinha um cara fantasiado de samurai que ficava só "na banheira", ali de cantinho esperando alguém dar mole de costas pra ele atacar, com o mínimo de esforço possível. Praticamente um Romário-Ronin.

Não muito longe dali estava a arena do "Esgrima Medieval". Ali dava pra ver que o bagulho era mais sério, as espadas eram de um plástico mais boladão, ou de aço (não afiadas), e a galera usava uma proteção semelhante ao do esgrima convencional. Rolava arbitragem e um sistema de pontos: golpe nos membros valem um ponto, no tórax dois, e na cabeça três, cada combate dura um minuto e ganha quem faz mais pontos, com morte súbita em caso de empate. Troquei uma ideia com o estudante de história Harold Warhair, caracterizado como um guerreiro templário.

Um representante da Historical European Martial Arts, a esgrima medieval. Foto: Matias Maxx

VICE: Apresenta o grupo de vocês pra gente.
Harold Warhair: O nome do grupo é Casa Vieira Turaine, somos um grupo de HEMA, Historical European Martial Arts, que é a esgrima medieval europeia, estamos atuando aqui no Rio de Janeiro há cerca de um pouco mais de dois anos, somos um grupo totalmente gratuito. Os treinos são sábados e domingo aqui na Quinta da boa Vista, basta olhar a programação no grupo. A gente não pede nenhuma taxa, as pessoas só devem vir com água e boa vontade pra cá. Nós disponibilizamos todo o equipamento de proteção, luvas, máscaras, armas etc. Somos cerca de vinte pessoas neste grupo, a cada treino reúne cerca de oito a doze pessoas. Fazemos treinos bem democráticos.

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Qual a diferença entre a esgrima medieval e a olímpica?
Então, nosso estilo de luta é muito mais agressivo e mais pesado, a gente inclui derrubadas, socos… Além de que as armas são totalmente diferentes, eles usam a rapieira e o florete, se não me engano, e nós usamos a feather, espadas longas, pole axe, pole hammer, escudo… Usamos toda um gama de armas.

O que você acha que motiva os brasileiros, que não tiveram uma era medieval, a se interessar pela história medieval?
Bom, eu sou estudante de história… Mas acho que é o mistério que tem na Idade Média. Toda a questão do estilo mais simples de vida, as cadeias de comando eram bem diferentes, é uma época muito diferente do que nós conhecemos, então isso atrai muita gente a querer entender melhor, estudar. A gente tenta estudar o máximo possível a história viking, tentando fazer reconstrução, existem grupos aqui no Rio de Janeiro que fazem reconstrução histórica viking como os nossos parceiros Haglaz aqui do Rio e o Myrrøx de Niterói, grupos excelentes também.

Hoje a gente teve um grupo bem eclético aqui entre a galera do RPG e curiosos, o que você achou do clima? Teve muita gente interessada no HEMA?
Eu achei demais, porque o pessoal do RPG muitas vezes fica só em casa jogando com seu manual de D&D ou de Gurps, e muitas vezes desconhece o LARP (Live Action Role Play Games). Hoje também teve muitas lojas vendendo produtos pra público nerd. Aquela coisa desde os anos 80 cresceu muito tudo que é filmes, quadrinhos, de material histórico ou não histórico mas relativo a idade média, isso une as pessoas, é uma motivação pras pessoas saírem de casa e verem algo diferente.

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Mais fotos do rolê medieval no RJ abaixo:

Ring girl. Foto: Matias Maxx

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"Perca o B.V.". Foto: Matias Maxx/VICE

Os combates eram anunciados por duas ring girls carregando placas com os nomes dos combatentes. Uma estava caracterizada de elfa, e outra trazia asinhas de fada e biquíni, afinal estamos no Rio de Janeiro. Descobri que a menina se chamava Miriam, e era a mesma que mais cedo estava na "barraca do beijo" oferecendo a oportunidade de perder sua BV (Boca Virgem) por R$7. Perguntei se seu serviço tinha feito sucesso, e ela disse que descabaçou uns três ou quatro maninhos, além de uma menina, "que valeu por cinco".

Outra atração interessante era a oficina de combate com facas ministrada pelo mesmo cara que estava de árbitro do HEMA, só que desta vez substituindo a roupa de padre por um curioso look sem camisa.

Foi legal Feira Medieval, espero que na próxima consiga me empapuçar de hidromel.

Hidromel. Foto: Matias Maxx/VICE

A Banda Brazilian Pipes.

Rolava uma dança do ventre também.

Sempre tem uma galera meio perdida. Foto: Matias Maxx/VICE

Seres mitológicos. Foto: Matias Maxx/VICE

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