Uma Lisboa verdadeira, cheia de alma... e em vias de extinção
Todas as fotos por Tiago Costa.

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Fotografia

Uma Lisboa verdadeira, cheia de alma... e em vias de extinção

"O meu objectivo é documentar Lisboa, a verdadeira Lisboa, aquela que desaparece a 100 km/h com a invasão turística e o afastamento do tuga/lisboeta para os subúrbios".

Se lhe perguntarmos directamente se é fotógrafo, Tiago Costa, 27 anos, é lesto a garantir que, "provavelmente não", que nunca estudou fotografia e que, simplesmente, gosta de "pegar na máquina depois do trabalho e disparar por Lisboa".

Não é verdade, contudo, que Tiago não seja fotógrafo. Há uma diferença entre tirar fotografias profissionalmente, ou bater chapas por desporto, como um passatempo. O trabalho de Tiago Costa pode não ser nem uma, nem outra coisa, mas nem por isso deixa de ser menos impactante. É fotógrafo, sem dúvida. E é dos bons, ainda por cima. Um contador de histórias. Um descobridor da alma da cidade. Uma alma que ainda existe, embora ultimamente pareça escapar-nos por entre as cream custard tarts, as tuk tuk rides e os short term rentals desta vida.

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E, nem o facto de a paixão de Tiago ter despertado há relativamente pouco tempo, lhe retira qualquer valor. O talento é-lhe claramente inato.

"Isto começou há coisa de ano e meio, dois anos… Estava em casa com o meu melhor amigo, numa daquelas noites em que não se faz nada e decidimos ver um documentário qualquer para passar o tempo. Ele disse-me que tinha visto o trailer de uma coisa que achava que eu ia curtir. Era o Everybody Street. Vimos o documentário completo e, a meio da coisa, começo a ter aquela sensação de 'Foda-se isto é brutal! Quero e preciso de experimentar fazer esta cena", explica Costa.

Queria experimentar, mas nem sequer tinha uma máquina fotográfica. No entanto, o bicho não parava de morder, até porque, como salienta, "seria adicionar o elemento que faltava a uma paixão já antiga. Aquela coisa de andar por Lisboa, por todos os bairros e ruelas, comer e beber nas tascas mais antigas e apreciar a vida e as vivências de gente mais nova, ou mais velha, numa cidade que parece ter parado no tempo".

Dois ou três meses depois, recorda, o mesmo amigo apareceu-lhe em casa com uma Canon Ae-1 analógica, comprada na Feira da Ladra. Tiago estava prestes a viajar para Praga. Levou-a e o vício não o voltou a largar. Comprou a sua própria Ae-1 e agora aproveita todos os bocadinhos que tem para fotografar.

"Para mim a fotografia de rua é o género que mais se adequa à minha maneira de ser e de encarar a vida. É um estilo em que não controlas nada, mas onde também não te controlam, pois nunca teria paciência para mandar uma modelo levantar a perna ou o braço, esperar por pessoal da maquilhagem, pelo pessoal da luz… não é o meu mundo. Aqui conto comigo. Não controlas as pessoas - se vão marrecas, se estão no seu melhor perfil -, não controlas a luz, não controlas o espaço e o momento. Segues a tua intuição", justifica Tiago quando confrontado com o porquê da paixão pela "street photography".

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E acrescenta: "O que mais gosto é o facto de poder apanhar as pessoas e os momentos da forma mais genuína e descontraída possível. 'It's life man!'. Também tenho as minhas pancadas, reconheço. Gosto de fotografar, essencialmente, pessoas fora do 'normal' e espaços degradados que outrora foram grandiosos".

E técnicas? "Não sei…. nunca estudei fotografia, a minha máquina é manual e aprendi a mexer nela com algumas dicas de amigos e através da tentativa/erro. Gosto de me aproximar o mais possível das pessoas, pois, a meu ver, só assim consegues, ao olhar para uma fotografia, sentir a real presença e alma do sujeito. Salvo raras excepções, só uso lente grande angular (24mm), o que significa que, para teres a foto de um desconhecido e conseguires ver-lhe a cara, tens de te aproximar muito… sem saber se a seguir levas um sorriso, um insulto, ou um murro!".

Já no que diz respeito a influências, é claro: "Boogie, Bruce Gilden, Joel Meyerowitz, Elliott Erwitt (o melhor), Matt Weber, Richard Sandler e Rui Palha. Todos com estilos próprios e alguns de épocas diferentes". Para quem começou "tarde"… Quanto a objectivos para um futuro na fotografia, Para já Tiago garante apenas querer "reunir muito mais material e melhorar a técnica".

"Estou muito longe daquilo que quero ser, em termos de qualidade e no que diz respeito a coisas como o enquadramento, por exemplo", sublinha.

E acrescenta: "Acima de tudo, o meu objectivo é documentar Lisboa, a verdadeira Lisboa, aquela que desaparece a 100 km/h com a invasão turística e o afastamento do tuga/lisboeta para os subúrbios. Pois, Lisboa não será a mesma daqui a cinco ou 10 anos. E muito já nós perdemos…".

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