Michael, fotografado em Coventry, Inglaterra.
Conheces alguém assexual? Pode parecer uma pergunta estranha. Há pouco tempo atrás, provavelmente, provocaria algum tipo de lembrança das aulas de biologia. Mas isso começou a mudar há cerca de 15 anos, quando um estudante chamado David Jay fundou a Asexuality Visibility and Education Network, também conhecida como AVEN.
David estava frustrado com a falta de informação que os seus colegas do movimento LGBT tinham para fornecer sobre pessoas que não sentem atracção sexual. O que ele não esperava era como iria crescer esse simples site, tornando-se num centro online para pessoas como ele. Com a AVEN, começou a juntar-se uma comunidade de assexuais e, com o site, vieram jornalistas e académicos – gente curiosa como eu.
Várias pesquisas sugerem que, provavelmente, já conheceste pessoas assexuais, mesmo não sabendo. Estima-se que cerca de 1% da população seja assexual, mesmo que (ainda) não se defina assim.
O critério? Não sentir atracção sexual por ninguém. Nunca.
Sou uma socióloga da Universidade de Warwick e conduzi a minha primeira pesquisa sobre assexualidade em 2009. Achei o trabalho fascinante e tenho vindo a explorar questões relacionadas com a assexualidade desde então. A minha pesquisa era inicialmente centrada na identidade assexual, investigar como alguém acaba por identificar-se como assexual, mas logo percebi que não podemos entender como a identidade "assexual" emergiu sem olhar para as atitudes culturais mais extensas relacionadas ao sexo.
Ao conduzir uma pesquisa para estudar os pensamentos e sentimentos dos assexuais, fiquei surpreendida com a semelhança entre as experiências das quase 200 pessoas participantes do estudo. Eram pessoas muito diferentes entre si, mas estavam unidas por um sentimento de que algo estava fundamentalmente errado com elas por não sentirem atracção sexual. Elas sentiam-se "estranhas", "erradas" ou "lixadas" – frases que se repetiam com frequência.
E, na maior parte das vezes, eram as pessoas genuinamente preocupadas com elas que as faziam sentir-se assim. Ben (na fotografia abaixo) contou que os seus pais riram-se dele quando lhes disse que era assexual e que, ainda hoje, parecem não acreditar nisso.
Noutros casos, as pessoas descreviam uma crueldade propositada. Uma participante da pesquisa disse que uns estudantes do seu dormitório na universidade meteram brinquedos eróticos dentro da sua caixa de cereais. Um homem, Vincent, afirmou que evita contar que é assexual para não ter de "aguentar as pessoas que dizem que estou errado, que sou muito novo ou que ainda não encontrei a pessoa certa".
Muitas pessoas vêem a assexualidade como "alienígena", algo que precisa de ser corrigido. Vincent acredita que parte disso vem dos meios de comunicação. "Assexualidade está muito mal representada na televisão e nos filmes", criticou. "A maioria das pessoas cita o Sheldon de The Big Bang Theory como o primeiro exemplo, mas não considero essa personagem assexual. Na verdade, a maioria dos personagens 'assexuais' na televisão têm algum tipo de distúrbio."
Ben, fotografado em Richmond, Inglaterra.
Às vezes, as pessoas agem de forma ofensiva, porque simplesmente não conseguem compreender como alguém pode ser assexual. Gareth, um assexual do nordeste de Inglaterra, disse que, desde que se assumiu em 2011, só encontrou uma pessoa com conhecimento suficiente sobre o assunto para "não pensar que um assexual é alguém que consegue reproduzir-se espontaneamente ou incapaz de fazer sexo". E acrescentou que "perguntas repetitivas sobre masturbação" são uma experiência comum quando tenta explicar a assexualidade.
Michael, de Coventry, explicou que, antes de se assumir, via-se frequentemente "muito envergonhado quando o tópico sexo ou relacionamento surgia" por causa da "pergunta persistente de por que é que nunca tive uma relação e nunca mostrei interesse por sexo". Ele tinha plena consciência das suposições que as pessoas faziam – de que ele era gay, confuso ou só não conseguia arranjar uma namorada –, o que o deixava ainda mais desconfortável com ele mesmo.
Mas os problemas enfrentados pelos assexuais têm mais a ver com invisibilidade do que com fobia. É doloroso sentir que a sociedade não acredita que existem pessoas como tu. Ben – que acha "difícil" ter de se explicar regularmente – acha que o público, em geral, não tem muito conhecimento sobre assexualidade. "Isso parece estar a tornar-se mais mainstream, com mais gente a dizer que já ouviu o termo, mas geralmente não muito mais do que isso", acrescenta.
Encontrar pessoas assexuais pela primeira vez coloca em questão uma suposição básica que muitos têm: a de que toda a gente sente atracção sexual. Na verdade, muitos nem percebem que isso é uma suposição: as provas de um comportamento contrário parecem absolutamente incompreensíveis. É exactamente esse senso de perplexidade diante da possibilidade de alguém poder viver sem atracção sexual que me fascina e me deixa frustada de igual maneira.
Jenni, fotografa em Oxford.
Os assexuais que conheço vivem muito bem, seguem o seu próprio caminho no mundo como qualquer outra pessoa, com todos os altos e baixos. E a experiência de se assumirem não é igualmente traumática para todos.
Jenni, uma estudante de Artes de Bristol, teve uma experiência directa. Conta que passou a dizer que era assexual quando entrou na faculdade – e assim foi. "Não foi uma grande mudança para ninguém", explica. "É simplesmente quem eu sou. Foi incrível poder estar confiante ao abordar relações, sabendo que as outras pessoas sabiam quem eu era; e, se elas não gostavam disso, não era culpa minha. Todos os meus amigos têm a mente muito aberta."
Ben acha que a imprensa faz geralmente uma cobertura da assexualidade com um sensacionalismo do tipo "Já viu estes esquisitos" e que assexuais visíveis na cultura pop são poucos. "Temos apenas o Sherlock, que é um psicopata e apenas ambiguamente assexual", destaca. "E o Doctor Who, que é muito inconsistente na questão." Ben acredita que isso acontece, porque a assexualidade é percebida como… bem, chata. "Ser assexual não gera conflitos", garante.
A assexualidade, quando realmente discutida, é retratada como algo dramaticamente distante da norma. Mas a ideia do que significa ser "sexual" permanece estranhamente indefinida na nossa cultura actual. Por exemplo, como chamamos a pessoas que não são assexuais? Eu costumo usar tanto "pessoas não assexuais" como "pessoas sexuais", apesar da primeira expressão parecer desajeitada e a última, estranhamente ampla.
Gareth, Newcastle.
A assexualidade ainda é descartada por muitos como uma fase "confusa", mas estou cada vez mais convencida de que, na verdade, são as pessoas não assexuais que estão confusas sobre sexualidade. Achamos muito mais fácil falar sobre fazer sexo – com quem, como e com que frequência – do que realmente ser sexual. Como a psicóloga Leonore Tiefer coloca, há uma crença generalizada de que "o funcionamento sexual é um aspecto central, se não o aspecto central, de um relacionamento".
Vemos o sexo como uma característica que define os relacionamentos românticos e sofremos para imaginar como poderia existir um relacionamento sem isso. É a nossa cultura hipersexual que leva as pessoas a verem um relacionamento sem sexo como algo que não funcionou e que precisa de ser corrigido – aqui é quando comunidades online como a AVEN entram. Muitos dos assexuais com quem falei concordaram que conversar com outros assexuais os ajudou a aceitarem-se. Gareth, de Newcastle, encoraja "qualquer assexual, seja jovem ou velho, confuso ou satisfeito, a ver o que a AVEN faz", acreditando que isso mudou a sua vida.
Gareth também achou que assumir-se foi algo extremamente útil. "Não escolhas uma hora, não escolhas uma data, deixa isso acontecer organicamente", afirma. "Pode ser um processo muito stressante, e o momento 'certo', com as pessoas 'certas', pode nunca chegar. Tu vais saber quando a hora chegar. Tu vais sentir-te relaxado e vais perceber que há uma oportunidade. É nesse momento que o deves fazer."
Michael concorda. "Se estás a pensar assumir-te, faz isso ao teu ritmo e num ambiente em que te sintas seguro e confortável. Se é difícil falar com amigos próximos ou com a família primeiro, tenta com outros conhecidos." Ele recomenda entrar em contacto com outros assexuais primeiro para ter dicas de pessoas que já passaram pela mesma coisa, e explica que a única situação em que ele aconselharia alguém a assumir-se "definitivamente" seria no começo de um relacionamento romântico. "É justo que ambas as partes saibam em que é que o relacionamento se baseia."
Dá uma vista de olhos nas fotografias da Holy, abaixo.
Michael, fotografado em Coventry: "Identifico-me como assexual e aromático. Recentemente, dei uma palestra sobre assexualidade a um grupo composto principalmente por reformados. Fiquei um pouco nervoso, porque o estereótipo dos idosos é de que eles são menos interessados em sexo; então, pensei que simplesmente não se importariam com a assexualidade e veriam isso como um não assunto – mas estava completamente errado. Eles acharam fascinante e perguntaram-me por que é que não havia mais cobertura sobre isso. Acho que precisamos abordar pessoas de todas as idades, incluindo pessoas de meia-idade e reformados, mas também seria fantástico ter alguma educação sobre assexualidade nas escolas."
Mark, fotografado em Reading: "A melhor reacção foi a do meu irmão (heterossexual), que disse: 'Seu filho da mãe sortudo'. Ele estava a meio de uma separação naquela época. A maioria das pessoas expressam curiosidade, querendo saber mais sobre assexualidade. Não tive nenhuma reacção negativa até hoje. Poder contar é a cereja no topo do bolo da epifania que tive quando descobri que existiam outros como eu."
Gareth, fotografado em Newcastle: "Tenho ouvido mais e mais histórias sobre médicos, enfermeiros e terapeutas compreensivos, além de histórias de pessoas que tinham medo de se assumir, mas que encontraram palavras de compreensão. Essa compreensão e esse conhecimento estão a espalhar-se, mas pode demorar um pouco até ser algo que a maioria das pessoas aceite."
Christof, fotografado em Liverpool: "Conhecimento sobre assexualidade é algo um pouco mais comum entre aqueles interessados em direitos sexuais e igualdade sexual e de género, mas é meio como uma bolha na internet. A maioria da população ainda diria: 'O quê?'."
Vincent, fotografado em Plymouth: "Ainda prefiro o rótulo demissexual – é bem específico e combina com a forma como sinto atracção. Mas digo às pessoas que sou assexual ou que não estou interessado quando não tenho vontade de me explicar. Não vou por aí a contar a toda a gente; então, somente algumas pessoas mais próximas sabem. A minha irmã é lésbica, ela estava aberta à ideia de orientações que não são hétero, mas acho que ela realmente não consegue compreender isto na sua totalidade. A minha mãe parece não conseguir enfiar isso na cabeça ou então acha que é só uma fase (mesmo eu tendo 28 anos). A minha ex ficou confusa, já que isso, para ela, era um dos componentes centrais de uma relação. Contei a alguns amigos; e, na maioria das vezes, são os amigos heterossexuais que acham isso estranho."
Jo, fotografada em Camden Town: "Actualmente, defino-me como assexual, aromática, agénero e transexual. As pessoas reagem de formas diferentes quando digo que sou assexual. Tive experiências positivas e negativas. Recentemente, fiz um estágio numa organização de teatro queer que não sabia quase nada sobre assexualidade. Todos ficaram curiosos, e acabei por dar uma aula de 'Introdução à Assexualidade'. Na mesma época, também me assumi à minha professora de dança, e a resposta dela foi recomendar um monte de livros de conselhos sobre relacionamentos. Ainda não pensei como vou responder a isso."