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Desporto

Desportos que não lembram ao Diabo: Curling

Para aqueles que querem uma explicação mais técnica, aqui têm algumas curiosidades e regras servidas como cubos de gelo.

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Num País que tem dado tantas esfregadelas ao mundo, levando baldes e esfregonas a todos os cantos e recantos do planeta, é de estranhar como Portugal nunca quis saber deste desporto mítico chamado Curling. Até o nome desliza como ponche quente numa noite de maleita, ou frio de rachar (ou, para os mais refinados, como aguardente velha em copo aquecido): Cuuuurrrliing.

Com um certo ar de "donas de casa desesperadas on ice", o Curling nasceu na Escócia, pasme-se, no século XVI, País onde também surgiram as primeiras regras escritas. O The Royal Caledonian Curling Club foi considerado o clube-mãe deste desporto, pelo menos até este ter atingido a maioridade, feito as malas e rumado qual Linda de Suza na direcção do Novo Mundo, começando a dar cartas em lugares tão improváveis quanto o Canadá, país onde se propagou como uma feliz epidemia: nos dias que correm, há cerca de um milhão de praticantes.

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O Curling começou a ser disputado nos Jogos Olímpicos de Inverno logo desde a sua primeira edição, em 1924, mas apenas enquanto desporto de demonstração – e, provavelmente, celebrado como um stand-up comedy desportivo. Foi somente nas Olimpíadas de 1998, em Nagano (Japão), que passámos a ter o Curling como modalidade oficial. Em 2006, na cidade italiana de Turim, o Curling em cadeira de rodas foi introduzido pela primeira vez no programa das Para-Olimpíadas. Sim, a história é uma coisa linda, mas o que é este desporto e como se pratica? Pois bem, vamos a factos.

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Trata-se de um desporto praticado em pistas rectangulares de gelo, onde uma equipa (composta por quatro pessoas) tem como objectivo lançar oito pedras de granito – cada malandra pesa cerca de 20 quilos - de forma redonda sobre um corredor de gelo. As pedras devem ficar o mais próximo possível de um alvo. Vence a equipa que conseguir colocar as suas pedras o mais perto do centro do alvo. Até agora, dirão alguns, parece o jogo da malha com um toque de resfriado.

A coisa, porém, não se fica por aqui. Afinal, esta é uma modalidade que, devido à complexidade de estratégias que podem ser utilizadas em cada jogo, é por muitos conhecida como o xadrez no gelo. Ah, e tal, então mas se é tão erudito para que é que se usam tantas vassouras? Elementar meu caro leitor: as vassouras servem aqui para limpar a pista à medida que as pedras vão deslizando, para que estas cheguem mais longe.

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A vassoura utilizada pode ser feita de alguns materiais como madeira, fibras de vidro ou carbono, e na sua extremidade há uma camada de tecido grosso que serve para aquecer o gelo diminuindo o atrito com a pedra e fazendo com que ela deslize mais rápido. Os sapatos utilizados pelos jogadores possuem um pé fabricado em Teflon, que o torna escorregadio, e o outro com uma sola aderente fabricada em borracha de crepe natural. Caminhamos, ou melhor, deslizamos, num território onde as lides domésticas atingem proporções épicas, embebidas em física, com umas boas pinceladas de sci-fi. Por mim era fazer circular uma petição para dar já entrada do Curling como desporto escolar obrigatório.

Para aqueles que querem uma explicação mais técnica, cheia de detalhes, ou expressões próprias do jogo, aqui têm algumas curiosidades e regras servidas como cubos de gelo: o Curling vem do verbo inglês curl, que significa curvar; apesar de ter no Canadá o seu epicentro actual, é também praticado na Europa, Austrália, Nova Zelândia, China ou Coreia do Sul; é conhecido pelo seu tremendo fair play – se um jogador cometer uma infracção, costuma chegar-se à frente e admitir o erro sem que a isso seja obrigado; o tamanho da superfície de jogo é de cerca de 42 metros de comprimento por 4,25 metros de largura; no final da pista existe uma "casa de marcação" (vários anéis concêntricos) onde deverão ser colocadas as pedras lançadas; o jogo divide-se em 10 ends, sendo que um end é algo equivalente a um set no ténis; em cada end os quatro elementos de cada equipa lançam duas pedras cada um; o objectivo é, após jogar todas as pedras em cada end, colocar uma pedra da equipa da qual se veste a camisola (provavelmente de lã e gola alta) o mais próximo possível do centro da casa, também chamado de button. Após o lançamento de todas as pedras, a equipa com a pedra mais próxima do button, dentro da "casa de marcação", ganha o end. Marca um ponto… ou mais. Caso também tenha a segunda pedra mais próxima do centro, marca dois, e assim por diante: três pontos se tiver as três pedras mais próximas, quatro se tiver as 4 quatro mais próximas do centro. Após cada end somam-se os pontos obtidos. No final do 10º end ganha a equipa com maior número de pontos. Acredito que já haja por aí quem esteja com aquela sensação de dor nos dentes com tanto frio e regra à mistura.

"E em que situações pode terminar o jogo?", perguntará o leitor mais atento e menos friorento. Pois bem, de três formas: quando acabam todos os ends da partida. No final de todos os ends, a equipa com o maior número de pontos (pedras próximas da casa) vence; uma das equipas desiste por considerar impossível alcançar o número de pontos que o seu oponente tem – esta deveria ser conhecida como a regra do mau-perdedor ou do mau-feitio; quando uma equipa é matematicamente eliminada. Isso acontece porque, em cada end, cada equipa tem direito a jogar 10 pedras. No final do end é contabilizado o número de pedras mais próximas ou dentro da casa. Se no último end for impossível alcançar o adversário, mesmo com as 10 pedras jogadas, vai tudo tomar duche de água quente mais cedo.

Erguei ao alto e orgulhosamente as vossas vassouras, o Curling chegará em breve a Portugal. Enquanto isso, aproveitem para dar uma boa varridela aí em casa.